Demandas indígenas e piora econômica pressionam presidente do Equador

O presidente Guillermo Lasso tenta recuperar legitimidade no Equador, mas os problemas econômicos e sociais que levam o país a sua segunda grande onda de protestos em três anos continuam sem solução

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Foto do author Fernanda Simas

Enquanto o presidente Guillermo Lasso tenta recuperar legitimidade no Equador, os problemas econômicos e sociais que levam o país a sua segunda grande onda de protestos em três anos continuam sem solução.

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Após 18 dias de protestos e bloqueios, os grupos indígenas que haviam se dirigido à capital Quito voltaram para suas comunidades no norte e sul do país. Lasso cedeu e o preço do combustível baixou, mas até quando vai durar a harmonia entre o presidente e esses grupos é outra questão.

A crise atual tem ligação com 2019, quando os protestos deixaram evidentes as contradições do mundo indígena camponês. Apesar de representarem 7% da população do Equador - etnicamente identificada - os grupos indígenas vivem com altos índices de pobreza e alguns em situação miserável.

Manifestantes entram em confronto com a polícia durante protesto contra medidas aprovadas pelo Parlamento do Equador Foto: EFE/José Jácome

Com a saída de Rafael Correa do poder, o novo presidente Lenín Moreno elevou o preço dos combustíveis como uma das respostas ao acordo com o FMI e o problema estourou no país. Após muita violência nos protestos, Moreno eliminou o decreto dos combustíveis, mas segundo especialistas, a fratura social permaneceu.

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“Os atos de 2018 tiveram muito vandalismo e isso despertou na população branca e mestiça do país um sentimento de racismo, se intensificou um processo de ressentimento de luta de classes, uma polarização. Com a pandemia, a situação econômica piorou muito e isso tem grande impacto no mundo rural”, explica o analista de segurança do Instituto de Altos Estudos Nacionais (IAEN) do Equador, Daniel Pontón.

Acordo e traição

Quando Lasso chegou ao poder se reuniu com indígenas no que parecia uma sinalização de novos ares para o relacionamento dos grupos com a classe política, mas no mês passado o presidente anunciou novo aumento no preço dos combustíveis, desencadeando uma onda de protestos.

“Os indígenas se sentiram traídos e as relações foram rompidas. Ao longo dos 18 dias de protestos, Lasso assumiu uma postura ditatorial”, diz Pontón.

Equatorianos relataram ao Estadão que muitos bloqueios foram feitos nas estradas e até na capital Quito, que já via sinais de desabastecimento, como falta medicamentos para hospitais. Agora, o clima de incerteza continua, apesar do fim das manifestações.

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O analista Pontón vê a situação política complexa e uma possível piora do conflito social. “Há territórios indígenas onde o Estado não pode entrar sem permissão, já vemos uma discussão sobre a autonomia de alguns povos que pode levar a uma fratura social no país.”

E a inflação que preocupa os países da América Latina também piora o cenário equatoriano. “Falta uma política pública aqui, o governo não fez nada para suavizar o preço dos combustíveis no mundo indígena, por exemplo. Estamos em um ano com baixos investimentos e a questão da segurança também preocupa. Vemos uma gestão muito pobre”, avalia o analista em segurança.

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