Denúncia de Powell "é discutível, mas não desprezível"

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Por Agencia Estado
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Os técnicos do Iraque podem, sim, estar desenvolvendo, produzindo e estocando agentes químicos ou biológicos para uso militar nas grandes carretas de 35 toneladas mostradas hoje, por meio de fotos tomadas por satélites espiões, pelo secretário de Estado dos EUA Colin Powell. A frota é o resultado do trabalho de Bernd Schompeter e Willi Ribbeck, mercadores alemães de armas e equipamentos militares condenados pela Justiça de Berlim, no dia 31 de janeiro. Nas imagens exibidas nas telas digitais da sala do Conselho de Segurança da ONU, os contêineres articulados que, de acordo com os serviços de inteligência americanos, abrigam laboratórios móveis clandestinos correspondem aos modelos comprados nos últimos dois anos pelo Ministério da Defesa do Iraque. A operação, envolvendo 52 veículos, foi intermediada pelos dois empresários. "É uma evidência discutível, mas não desprezível", disse hoje à Agência Estado o engenheiro de armamentos Angelo Grassa, brasileiro, consultor do grupo britânico BAe Dynamics. Grassa, especialista em armas de difusão - a rigor, vetores químicos - diz que, no esquema apresentado por Powell, "a disposição dos componentes está correta para a seqüência de montagem: há um gerador de energia, reservatório de água, tanques blindados para o material ativo, módulos de fermentação, painéis de controle, unidade de descontaminação e célula de isolamento". O engenheiro ressalva que essas instalações podem servir para programas civis, "embora, nesse caso, não haja nada que justifique a instalação sobre carretas, sem identificação e em permanente deslocamento". A longa exposição feita pelo secretário Colin Powell ao Conselho de Segurança foi uma consolidação de informações que as agências de inteligência têm coletado, desde 1997, em território iraquiano. A constatação de que a instalação industrial de mísseis de Al-Musayyb está ativa é um fato novo. Pelo menos três variações de lançadores do tipo Scud, russo, modernizados, foram fotografadas enquanto eram mobilizadas ogivas com aparente capacidade para cargas de ataque de até 800 quilos. Várias fuselagens com mais de dez metros, dotadas de aletas estabilizadoras. O prédio, bombardeado em 91 durante a Guerra do Golfo, foi reformado entre 1995 e 1999. A arquitetura obedece a modernas técnicas de redução de impacto. As instalações são subterrâneas e protegidas por coberturas de ângulo agudo, fundidas em concreto enrijecido para suportar a ação de armas guiadas. O relatório do Departamento de Estado mostra que nesse ambiente prosperou a investigação em torno da construção de, pelo menos, 12 diferentes mísseis, o mais novo dos quais, utilizando a plataforma do Badr-2000Condor, é capaz de atingir alvos dentro de um raio de alcance de 1,2 mil quilômetros.

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