WASHINGTON – O Departamento de Estado dos Estados Unidos aprovou a possível venda ao Brasil de mísseis Javelin e equipamentos relacionados no valor estimado em US$ 74 milhões (R$ 379 milhões, na cotação atual), segundo o Pentágono informou nesta terça-feira, 9. A compra inclui 222 mísseis Javelin e 33 sistemas carregadores para lançar os mísseis. Também estão incluídas assistências de treinamento para as Forças Armadas e equipamentos associados.
Na segunda-feira, 8, fontes informaram à agência de notícias Reuters que o pedido de compra de 200 lançadores Javelin, feito pelas Forças Armadas do Brasil, estava parado há meses devido às preocupações dos legisladores americanos com os ataques do presidente Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral do País. No entanto, o Pentágono destaca que a proposta de venda não necessita de nenhum procedimento por parte do governo americano. Os principais vendedores serão a Joint Venture Raytheon e a Lockheed Martin Javelin.
Na justificativa de aprovação, o Pentágono destaca que a venda “apoiará a política externa e os objetivos de segurança nacional dos Estados Unidos, melhorando a segurança de um importante parceiro regional que é uma força importante para a estabilidade política e o progresso econômico na América do Sul”. “A venda proposta melhorará a capacidade do Exército Brasileiro de enfrentar ameaças futuras, aumentando sua capacidade anti-blindagem”, acrescenta.
O pedido foi feito quando Donald Trump, aliado de Bolsonaro, estava na Casa Branca. O Departamento de Estado dos EUA aprovou a proposta no fim de 2021, apesar das objeções de algumas autoridades de baixo escalão, disseram à agência duas pessoas próximas ao assunto.
Segundo a Reuters, o acordo estava em um limbo jurídico em razão das preocupações de senadores e deputados democratas com os questionamentos que Bolsonaro tem feito sobre a integridade das eleições no Brasil.
Os mísseis fabricados pelos EUA ganharam notoriedade em razão do uso pelas forças ucranianas contra blindados russos. “O pedido de compra do Brasil foi adiado, em um recado dos democratas a Bolsonaro e aos militares brasileiros”, diz a Reuters.
O governo de Joe Biden tem ficado cada vez mais em alerta com os comentários de Bolsonaro sobre as eleições. O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, pediu “respeito à democracia do Brasil” em reunião regional de ministros da Defesa, em julho.
Antes disso, em visita ao Brasil, no ano passado, o diretor da CIA, William Burns, afirmou aos assessores de Bolsonaro que era preciso “parar de minar a confiança no processo eleitoral do País”.
No entanto, o presidente brasileiro continuou a questionar o sistema eleitoral. Em julho, ele reuniu embaixadores estrangeiros em Brasília para repetir teorias de que a urna eletrônica é passível de fraude.
O presidente também tem defendido uma contagem paralela à da Justiça Eleitoral, que seria realizada pelas Forças Armadas – o Estadão mostrou que os militares discutem como realizar uma apuração paralela utilizando boletins impressos pelas urnas eletrônicas após o encerramento da votação.
Além das preocupações com os ataques ao sistema eleitoral, Bolsonaro é alvo de resistência em Washington por sua retórica em questões ambientais e pela “proximidade” com o presidente russo, Vladimir Putin, de acordo com a agência. Outros questionam a necessidade do Brasil em adquirir às armas.
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