Depois de perder maioria, Conte tenta evitar renúncia na Itália

Primeiro-ministro irá ao Parlamento na próxima semana para tentar juntar um grupo de parlamentares ditos 'responsáveis' da oposição que prometeriam apoiar seu governo

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Por Redação
Atualização:

ROMA — O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, se reuniu na quinta-feira com o presidente da República, Sergio Mattarella, para discutir os rumos do governo, depois que o partido Itália Viva rompeu com a coalizão, obrigando suas duas ministras a renunciar e deixando a aliança governamental sem maioria parlamentar.

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Resistindo aos apelos para renunciar, Conte anunciou ao final da reunião que comparecerá ao Parlamento para comunicar a perda da maioria absoluta e submeter-se a um voto de confiança para esclarecer se possui a maioria relativa, com o apoio de outros partidos de fora da coalizão, para continuar governando. 

Conte deve comparecer à Câmara na próxima segunda e ao Senado na terça, a pedido dos parlamentares, de acordo com a imprensa local. O Itália Viva, uma dissidência do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, teve apenas 3% dos votos na eleição de 2018 e era o menor parceiro na coalizão de governo, formada também pelo próprio PD e o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S).

A coalizão, que governa desde agosto de 2019, substituiu a que existia entre o M5S e a Liga de Matteo Salvini, de extrema direita. Sua saída, porém, fez com que Conte perdesse a maioria estreita que tinha antes.

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Árbitro da situação segundo a Constituição, Mattarella por enquanto quer evitar eleições antecipadas devido à terceira onda de coronavírus no país e à alta popularidade de siglas da extrema direita. 

De acordo com pesquisas recentes, novas eleições resultariam de novo em um Parlamento fragmentado, com a ultradireitista Liga com 24% das intenções de voto, o PD com 20%, o M5S com 14% e o Irmãos da Itália, também de extrema direita, com 17%. A formação de um gabinete de direita, com signo político oposto ao atual, dependeria da posição do Força Itália, do ex-premiê Silvio Berlusconi, que aparece com 8%.

Uma nova eleição também não interessa à maioria dos atuais parlamentares italianos porque um referendo em setembro do ano passado estabeleceu uma redução de um terço das cadeiras da Câmara e do Senado a partir da próxima legislatura. Com um novo pleito, muitos perderiam seus mandatos.

O primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte em Roma Foto: REUTERS/Remo Casilli

'Inexplicável' 

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Apesar de os italianos estarem acostumados com crises de governo e, portanto, com negociações e soluções criativas, a decisão de Renzi é "inexplicável" para muitos observadores devido ao momento que o país atravessa, com uma média de 500 mortes diárias por coronavírus.

Para 73% dos italianos, Renzi atua em prol de seus próprios interesses e não para o bem da nação, segundo pesquisa do jornal Il Corriere della Sera e do Canal 7 de televisão. A Itália também acaba de inaugurar sua presidência do G-20, o grupo das 20 maiores economias do mundo. 

Além disso, o país estendeu o estado de emergência até 30 de abril em face da terceira onda de covid-19 e precisa decidir o destino dos mais de 209 bilhões de euros que receberá da União Europeia, no chamado 'novo plano Marshall' para reconstrução da Europa pós-pandemia.

É justamente esse plano que está na raiz da disputa entre Conte e Renzi. O líder do Itália Viva alega que o plano do governo é demasiadamente centralizado nas mãos do atual primeiro-ministro, deixando as siglas da coalizão de fora das decisões.

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O vácuo de poder e a ideia de um governo fraco também preocupam personalidades importantes do país, entre elas o ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia Romano Prodi, cujo governo de centro-esquerda caiu em 1998 por um único voto após a retirada do apoio de um partido minoritário, abrindo as portas para a ascensão ao poder do magnata das comunicações Silvio Berlusconi.

“Renzi queria romper a qualquer custo (com o governo). Agora Conte deve comparecer ao Parlamento e obter apoio de forma clara e transparente”, propôs Prodi em entrevista à televisão pública.

Com a decisão de ir ao Parlamento, Conte parece apostar que pode se manter à frente do governo com outros apoios no Senado, e que poderia dispensar o Itália Viva. Ele tenta juntar um grupo de parlamentares ditos “responsáveis” de fileiras da oposição que prometeriam apoiar seu governo na ausência do partido de Renzi.

Para fazer isso, ele precisaria conquistar o apoio de mais 25 legisladores dos 630 da Câmara e de pelo menos mais 18 no Senado, que tem 315 cadeiras. No entanto, essa maioria seria frágil e difícil de controlar.

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Outra solução seria engolir seu orgulho e tentar forjar uma nova aliança com Renzi, um dos políticos mais implacáveis da Itália, cujo partido está fracassando nas pesquisas. O M5S, porém, disse na quinta que não queria mais nada com o Italia Viva, acusando-o de humilhar o país enquanto se preparava para receber os bilhões de euros da UE.

“A Itália corre o risco de ficar indelevelmente maculada por um movimento que considero irresponsável e que, como já disse, separa definitivamente os nossos caminhos”, disse Luigi Di Maio, o ministro das Relações Exteriores e uma das principais figuras do M5S./ AFP, REUTERS e EFE

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