A Câmara dos Estados Unidos aprovou neste sábado, 20, um pacote legislativo de US$ 95 bilhões em ajuda econômica para Ucrânia, Israel e Taiwan. O pacote agora segue para o Senado, onde a aprovação deve ocorrer nos próximos dias. O presidente Joe Biden prometeu assiná-lo imediatamente.
A parcela da Ucrânia é de US$ 61 bilhões. Com a aprovação, alguns legisladores aplaudiram, erguendo bandeiras azuis e amarelas do país. O valor de US$ 26 bilhões para Israel e para fornecer ajuda humanitária aos cidadãos de Gaza também foi aprovado. Para Taiwan e outros países da região, a legislação prevê ajuda de US$ 8,1 bilhões.
O pacote ainda inclui um projeto de lei de segurança nacional com uma disposição que força a venda da popular plataforma TikTok, que também foi rapidamente aprovado.
Dos US$ 61 bilhões, o montante fornecido à Ucrânia para a compra de armas seria de US$ 13,8 bilhões. A legislação orientaria o presidente a procurar reembolso do governo ucraniano de US$ 10 bilhões em assistência econômica, um conceito apoiado pelo ex-presidente Donald Trump, que pressionou para que qualquer ajuda a Kiev fosse na forma de um empréstimo. Mas também permitiria ao presidente perdoar esses empréstimos a partir de 2026.
Cerca de US$ 4 bilhões dos 26 bilhões previstos para Israel seriam dedicados ao reabastecimento dos sistemas de defesa antimísseis do país. Mais de US$ 9 bilhões do total seriam destinados à assistência humanitária em Gaza em meio à guerra entre Israel e o Hamas. Os recursos para o Indo-Pacífico (incluindo Taiwan) seriam destinados a combater as ações da China na região.
A votação foi de 311 a 112 a favor da ajuda à Ucrânia, com uma maioria de republicanos – 112 – votando contra e um, o deputado Dan Meuser da Pensilvânia, votando “presente”, ou seja, em branco. A Câmara aprovou a assistência a Israel por 366 votos a 58; e para Taiwan por 385 a 34, com a deputada Rashida Tlaib, democrata de Michigan, votando “presente”. O projeto de lei para exigir a venda do TikTok por seu proprietário chinês ou banir o aplicativo nos Estados Unidos foi aprovado por 360 a 58.
Do lado de fora do prédio da Câmara, manifestantes demonstravam apoios difusos sobre os temas votados: havia protestos contra a ajuda a Israel, pedidos de ajuda pela Ucrânia e defesa do funcionamento do TikTok.
A aprovação do “pacotão” representa uma guinada na capacidade de ação do Congresso dos Estados Unidos, alimentada especialmente por políticos republicanos. Antes deste sábado, os projetos sofreram meses de impasses, mas só receberam sinal verde após mudança de posicionamento do partido de oposição.
A aprovação na Câmara retira o maior obstáculo ao pedido de financiamento de Biden, feito pela primeira vez em outubro, quando os suprimentos militares da Ucrânia começaram a escassear. A Câmara controlada pelo Partido Republicano, cética em relação ao apoio dos EUA à Ucrânia, lutou durante meses sobre o que fazer. Os opositores à aprovação argumentavam que os EUA deveriam concentrar-se na frente interna, abordando a segurança das fronteiras e o crescente peso da dívida do país. Os aliados dos Estados Unidos, porém, praticamente imploravam aos legisladores que aprovassem a ajuda.
Com um sentimento de “América em primeiro lugar” liderado pelo ex-presidente Donald Trump dominando a base eleitoral do partido, os republicanos se posicionaram no ano passado contra outro pacote de ajuda para Kiev, dizendo que o assunto não deveria sequer ser considerado a menos que Biden concordasse com medidas anti-imigração rigorosas. Quando os democratas do Senado concordaram, no início deste ano, com uma legislação que combinava a ajuda externa com disposições mais rígidas para as fronteiras, Trump a denunciou e os republicanos a rejeitaram imediatamente.
Mas, depois de o Senado aprovar sua própria legislação de ajuda de emergência de US$ 95 bilhões para a Ucrânia, Israel e Taiwan, sem quaisquer medidas de imigração, o presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, começou a dizer aos aliados que garantiria que os EUA enviariam ajuda a Kiev.
Foi uma reviravolta notável para um legislador de direita que votou repetidamente contra a ajuda à Ucrânia e há apenas alguns meses declarou que nunca permitiria que o assunto fosse votado até que as demandas do seu partido sobre as fronteiras fossem atendidas. A sua decisão de avançar com o pacote enfureceu os ultraconservadores e dois republicanos, os deputados Thomas Massie, do Kentucky, e Paul Gosar, do Arizona, a aderirem à candidatura da deputada Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, para destituir Johnson do cargo principal. E a oposição republicana à legislação forçou Johnson a confiar nos democratas para levar o pacote até à linha de chegada.
Desde a invasão pela Rússia em 2022, o Congresso destinou US$ 113 bilhões em financiamento para apoiar o esforço de guerra da Ucrânia: US$ 75 bilhões foram atribuídos diretamente ao país para apoio humanitário, financeiro e militar e outros US$ 38 bilhões em financiamento relacionado com a assistência à segurança foram gastos em grande parte nos Estados Unidos, de acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra, um grupo de pesquisa com sede em Washington.
Trinta e sete Democratas liberais opuseram-se ao pacote de ajuda de US$ 26 bilhões a Israel porque a legislação não impunha condições sobre a forma como o país poderia utilizar o financiamento americano, em meio a vítimas civis e uma fome iminente em Gaza. Isso mostrou uma redução notável no apoio bipartidário de longa data a Israel no Congresso. Mas foi um bloco relativamente pequeno de oposição, dado que os legisladores de esquerda pressionaram por um grande voto “não” ao projeto de lei, para enviar uma mensagem a Biden sobre a profundidade da oposição dentro da sua coligação política ao seu apoio às táticas de Israel na guerra.
Reações
O presidente ucraniano Volodmir Zelenski, que há meses pressionava por mais ajuda americana na guerra, afirmou neste no sábado que a aprovação “salvará milhares e milhares de vidas” e, em mensagem nas redes sociais, expressou a sua “gratidão” pela votação, acrescentando que espera que o Senado, por sua vez, aprove o texto.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, divulgou nota na qual diz que os deputados votaram para promover os interesses de segurança nacional do país e enviar uma mensagem clara sobre o poder da liderança americana na cena mundial. Biden diz ainda que o pacote proporcionará um apoio fundamental a Israel e à Ucrânia; fornecerá a ajuda humanitária “desesperadamente necessária” a Gaza, ao Sudão, ao Haiti e a outros locais afetados por conflitos e catástrofes naturais em todo o mundo; e reforçará a segurança e a estabilidade no indo-pacífico.
“Chega num momento de grande urgência, com Israel enfrentando ataques sem precedentes do Irã e a Ucrânia sob bombardeios contínuos da Rússia”, diz o presidente americano, que ainda pediu que o Senado envie rapidamente a autorização de gasto para a Casa Branca para que ele possa sancioná-la “e possamos enviar rapidamente armas e equipamentos para a Ucrânia para atender às suas necessidades urgentes no campo de batalha”.
O Ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, também comentou a aprovação do pacote. “A votação do pacote de ajuda a Israel com apoio bipartidário esmagador demonstra os fortes laços e parceria estratégica entre Israel e os Estados Unidos, e envia uma mensagem forte aos nossos inimigos”, escreveu no X (antigo Twitter). Ele acrescentou que espera ”que seja aprovado em breve no Senado com forte apoio bipartidário”.
O chefe da Otan, Jens Stoltenberg, também comentou em uma mensagem publicada nas redes sociais. “Celebro que a Câmara de Representantes aprovou um novo e importante pacote de ajuda para a Ucrânia. A Ucrânia utiliza as armas proporcionadas pelos aliados da Otan para destruir as capacidades de combate russas. Isso nos deixa todos mais seguros, na Europa e na América do Norte”, declarou.
Ajuda a Taiwan
Dos US$ 8,1 bilhões para a segurança do Indo-Pacífico, mais de US$ 3,3 bilhões seriam destinados à infraestrutura e ao desenvolvimento submarinos, com US$ 1,9 bilhões adicionais para reabastecer as armas dos EUA fornecidas a seu aliado próximo, Taiwan, e outros aliados regionais.
A China reivindica Taiwan como seu território, que deve ser anexado à força se necessário. Pequim diariamente envia navios e aviões de guerra para a região da ilha em uma tentativa de enfraquecer as forças de Defesa de Taiwan e intimidar a população.
Em 2015, o então presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, realizou uma reunião histórica com o presidente da China, Xi Jinping, em Cingapura, que mantém relações próximas com ambos os lados. A reunião — a primeira entre os líderes da China e de Taiwan em mais de meio século — produziu poucos resultados tangíveis. O diálogo oficial entre Taipei e Pequim está suspenso desde então e as tensões militares no Estreito de Formosa aumentaram à medida que as autoridades chinesas endureceram seu discurso a favor da “reunificação nacional”. / AP, NYT e AFP
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