Deputados republicanos votam todos a favor e Câmara dos EUA abre processo de impeachment de Biden

A investigação, que foi iniciada em setembro, até agora não conseguiu provar a alegação republicana de que o presidente Biden se beneficiou financeiramente dos negócios de seu filho, Hunter

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, controlada pelo Partido Republicano, aprovou nesta quarta-feira, 13, a abertura formal de um processo de impeachment do presidente Joe Biden. Ele é acusado de usar sua influência quando era vice-presidente de Barack Obama para permitir que seu filho Hunter fizesse negócios obscuros com China e Ucrânia.

PUBLICIDADE

As chances de destituição são praticamente nulas, porque os republicanos não controlam o Senado, instância que decide o impeachment. A investigação, porém, pode se tornar uma dor de cabeça para a Casa Branca antes da eleição presidencial de novembro de 2024, na qual o democrata será candidato à reeleição e já larga atrás do ex-presidente Donald Trump, segundo pesquisas.

A investigação que deu origem ao processo foi iniciada sem votação em setembro, pelo deputado Kevin McCarthy (Republicano da Califórnia que foi retirado do cargo de líder do Partido). Até a investigação não conseguiu provar a alegação do Partido Republicano de que Biden se beneficiou financeiramente dos negócios de investimento estrangeiro de seu filho.

O presidente da Câmara americana, Mike Johnson, discursa no Capitólio em Washington, em 29 de novembro de 2023.  Foto: J. Scott Applewhite / AP

A votação promovida pelo presidente da Câmara Mike Johnson (R-La.), no entanto, teve apoio unânime entre os republicanos e ocorre depois que o filho do presidente, Hunter Biden, na quarta-feira, negou uma intimação do Congresso para depor na investigação. Joe Biden é o oitavo presidente a enfrentar uma investigação de impeachment.

Publicidade

Nenhum democrata votou a favor da medida, que foi aprovada em uma votação por 221 a 212.

O inquérito de impeachment baseia-se em uma alegação até agora não provada que se tornou o ponto central das teorias de conspiração e falsas alegações sobre a suposta conduta corrupta e criminosa da família Biden.

Os republicanos alegaram, sem evidências, que Joe Biden, como vice-presidente, pressionou pela demissão do principal promotor da Ucrânia, Viktor Shokin, para anular uma investigação sobre o ex-proprietário da Burisma, um empresa de gás ucraniana na qual Hunter Biden era conselheiro. Ex-funcionários do governo dos EUA, ativistas anticorrupção ucranianos e até mesmo alguns republicanos refutaram essa alegação.

Os republicanos disseram que a votação era necessária para dar a eles autoridade total para continuar a realizar sua investigação em meio às tentativas da Casa Branca de “obstruir e atrapalhar o processo”. Os democratas denunciaram a investigação como golpe político.

Publicidade

“O poder de impeachment reside exclusivamente na Câmara. Se a maioria da Câmara agora diz que estamos em um inquérito oficial de impeachment como parte de nosso dever constitucional de supervisionar, isso tem peso”, disse à mídia americana o republicano e presidente do Comitê Judiciário da casa, Jim Jordan.

“Joe Biden mentiu repetidamente para o povo americano”, afirmou o líder do comitê investigativo da Câmara, James Comer.

Nenhum presidente dos EUA jamais foi destituído. Três, no entanto, foram indiciados pelos deputados: Andrew Johnson, em 1868, Bill Clinton, em 1998, e Trump, duas vezes, em 2019 e 2021. Todos foram inocentados no processo. Richard Nixon optou por renunciar, em 1974, para evitar a possibilidade de impeachment, após o escândalo de Watergate.

Resposta de Joe Biden

A resposta do presidente foi imediata. “Em vez de fazer seu trabalho (...) eles escolheram desperdiçar seu tempo com essa manobra política sem fundamento que até mesmo os republicanos no Congresso reconhecem que não é apoiada por fatos”, reagiu Biden em uma declaração minutos após a votação.

Publicidade

No Congresso, Hunter, de 50 anos, reconheceu ter cometido “erros” durante sua vida, marcada por um passado de uso de drogas e acusações em dois processos judiciais. No entanto, ele acusou os republicanos de tentarem desumanizá-lo para prejudicar seu pai.

O filho do presidente se recusou a participar de uma audiência a portas fechadas organizada pelos republicanos, que o convocaram ontem. “Meu pai nunca esteve envolvido financeiramente em meus negócios”, disse.

O presidente americano Joe Biden na Casa Branca na quarta-feira, 13 de dezembro de 2023, em Washington Foto: Evan Vucci / AP

Biden sempre apoiou seu filho, repetindo que tem orgulho dele, mas nega envolvimento nos negócios de Hunter ou as acusações de tráfico de influência durante o governo de Obama.

Horas antes, seu filho Hunter deu uma coletiva de imprensa incomum, na qual negou as alegações contra seu pai.

Publicidade

“Permitam-me dizer isso da forma mais clara possível: meu pai não estava envolvido financeiramente em meus negócios”, disse ele ao Congresso dos EUA.

Hunter reconheceu “ter cometido erros” em sua vida, mas acusou os partidários do ex-presidente republicano Donald Trump de tentar “desumanizá-lo” para “prejudicar” seu pai.

Os deputados republicanos dizem que o processo de impeachment é necessário para aprofundar as investigações. Os democratas dizem que a medida é uma retaliação política aos dois impeachments sofridos por Donald Trump no fim de seu mandato, em razão da invasão do Capitólio e por abuso de poder e obstrução de Justiça e abuso de poder.

Hunter Biden, filho do presidente dos EUA, Joe Biden, fala com repórteres no Capitólio dos EUA, em Washington, quarta-feira, 13 de dezembro de 2023.  Foto: Jose Luis Magana / AP

Trump foi absolvido pelo Senado, à época controlado pelos republicanos, nas duas oportunidades. O mesmo deve ocorrer com Biden caso o processo atual avance, já que o Senado hoje tem maioria democrata.

Publicidade

Apesar da pouca chance de sucesso, o processo pode ser uma dor de cabeça para a Casa Branca antes da eleição presidencial de novembro de 2024, na qual Biden está buscando a reeleição. /NYT

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.