A colisão de um caça russo contra a hélice de um drone americano sobre o Mar Negro na terça-feira 14, que causou a queda da aeronave não tripulada em águas internacionais, aumentou as tensões entre Moscou e Washington, que culparam um ao outro pelo incidente – o primeiro contato físico entre as duas potências desde o início da guerra na Ucrânia.
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Nesta quarta, 15, a Ucrânia acusou a Rússia de querer “expandir” o conflito para outras partes. Os Estados Unidos culparam a Rússia pelo incidente e chamaram a ação dos aviões russos de “imprudente” e “pouco profissional”, mas Moscou negou qualquer irregularidade. Já o embaixador russo nos EUA exigiu o fim dos voos militares perto de seu território.
“O incidente com o drone americano MQ-9 Reaper provocado pela Rússia no Mar Negro é um sinal de (Vladimir) Putin de que está disposto a expandir a zona de conflito e envolver outras partes”, afirmou no Twitter o secretário do Conselho de Segurança ucraniano, Oleksii Danilov.
“O Mar Negro não é um mar interno da Rússia”, reforçou Yurii Ihnat, porta-voz da Força Aérea Ucraniana, em uma aparição na TV nacional.
Romênia e a Turquia, ambas membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), têm portos no Mar Negro. Vários diplomatas da Otan, no entanto, disseram não esperar uma escalada do confronto.
Nesta quarta, o embaixador russo nos Estados Unidos, Anatoly Antonov, chamou as as ações militares dos EUA nas proximidades de suas fronteiras de “inaceitáveis” e “motivo de preocupação”. Antonov, que foi convocado ao Departamento de Estado para receber uma objeção formal dos EUA após o incidente, deixou claro que Moscou “vê qualquer ação envolvendo o uso de armas e equipamentos militares americanos como abertamente hostis”.
“Esperamos que os Estados Unidos se abstenham de mais especulações na imprensa e interrompam os voos perto das fronteiras russas”, escreveu o embaixador em um comunicado divulgado no Telegram.
A colisão de terça-feira envolveu um drone MQ-9 Reaper, a serviço da Inteligência, Vigilância e Reconhecimento da Força Aérea americana, que foi interceptado por dois caças russos Su-27 — um deles que causou o acidente.
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“Várias vezes antes da colisão, os Su-27 despejaram combustível e voaram na frente do MQ-9 de maneira imprudente, ambientalmente insalubre e pouco profissional”, disse a Força Aérea americana em um comunicado na terça-feira. “Este incidente demonstra falta de competência, além de ser inseguro e pouco profissional.”
Um alto oficial militar dos EUA disse ao New York Times que o drone decolou de sua base na Romênia na manhã desta terça para uma missão de reconhecimento programada regularmente, que normalmente dura cerca de nove a 10 horas. Ainda segundo a mesma fonte, embora os Reapers possam transportar mísseis Hellfire, a aeronave estava desarmada e realizando vigilância a cerca de 120 km a Sudoeste da Crimeia quando os dois jatos russos a interceptaram.
Versão russa
Moscou nega as acusações, mas admitiu que dois caças do país interceptaram um drone americano detectado “na zona da península da Crimeia”, região ucraniana anexada pela Rússia em 2014. De acordo com o Kremlin, o drone avançava “em direção” à fronteira russa.
“Após uma manobra abrupta, o drone MQ-9 iniciou um voo não guiado, com perda de altitude e colidiu com a superfície da água”, disse o Ministério da Defesa da Rússia, citado pela agência de notícias estatal Tass. “A aeronave russa não usou armas a bordo, não entrou em contato com o veículo aéreo não tripulado e retornou com segurança ao seu aeródromo”.
Moscou afirma que o drone voava perto da península da Crimeia, região ucraniana que foi anexada pela Rússia em 2014. Segundo a versão, o aparelho não tripulado teria se descontrolado e caído, mas não foi abatido. Moscou afirma, ainda, que a comunicação wireless (sem fio) da aeronave americana foi “desconectada” e que os aviões tinham o objetivo de apenas “identificar” o aparelho.
“Os caças russos não utilizaram armamento” e não entraram sequer em contato com o drone, que havia violado a zona provisória de uso do espaço aéreo “estabelecida para a realização da operação militar especial”, afirmou o Exército russo, que utilizou os termos habituais de Moscou para descrever a invasão da Ucrânia.
O Pentágono se recusou a discutir se tentaria recuperar o drone tripulado, um item básico da frota aérea militar dos Estados Unidos e usado tanto para vigilância quanto para ataques. O MQ-9 Reaper está equipado com sensores ultramodernos para conseguir realizar operações de vigilância a uma velocidade de cruzeiro de 335 km por hora. Com uma envergadura de 20 metros, tem uma autonomia de mais de 34 horas de voo. Mas embora possa soltar bombas e lançar mísseis, sua velocidade lenta e falta de armas defensivas o tornam relativamente fácil de ser abatido.
De acordo com John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, o presidente Joe Biden foi informado sobre o episódio. Kirby minimizou o incidente, dizendo que houve “intercepções” semelhantes por aeronaves russas nas últimas semanas. Mesmo assim, comentou que esse episódio foi “notável por ser inseguro e pouco profissional”.
O governo americano “vai convocar o embaixador russo” em Washington para prestar esclarecimentos, informou a jornalistas o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price.
“Estamos em contato direto com os russos, novamente em níveis mais altos, para transmitir nossa forte objeção a essa interceptação não profissional e insegura, que levou à derrubada do drone americano”, declarou Price, segundo o qual o embaixador dos EUA em Moscou também “transmitiu uma forte mensagem ao Ministério das Relações Exteriores da Rússia”.
Mar Negro vira zona de batalha
A invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro do ano passado aumentou as tensões entre Moscou e Washington e transformou o Mar Negro, dominado pela Marinha Russa, em uma zona de batalha. Moscou bloqueou os navios ucranianos dentro de seus próprios portos, embora Kiev tenha conseguido exportar seus grãos através desta rota sob um acordo assinado em julho passado entre os dois países em guerra.
Ao mesmo tempo, a Ucrânia atacou navios de guerra russos no Mar Negro, bem como nos portos, principalmente em abril, quando um míssil ucraniano afundou o Moskva, o carro-chefe da frota russa na região, um ataque que prejudicou a aura de invencibilidade naval de Moscou.
A guerra também levantou temores de um confronto direto entre Moscou e a Otan, principalmente ao fortalecer os laços entre Washington e os membros da aliança militar ocidental que fazem fronteira com a Rússia, incluindo a Polônia e os Estados Bálticos. Os países da Otan despejaram bilhões de dólares em ajuda militar para apoiar a defesa territorial da Ucrânia, mas, ao mesmo tempo, a aliança tentou evitar o confronto direto com Moscou, um Estado com armas nucleares. / NYT, W.POST e AP
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