‘Estamos por toda parte’: deslocados pelo fogo nos EUA buscam refúgio em carros, abrigos e hotéis

Na segunda-feira, 92 mil pessoas ainda estavam sob ordens de desocupação, o que gerou uma ‘guerra’ por ofertas de abrigos temporários

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Por Jesus Jímenez (The New York Times) e Jack Healy (The New York Times)
Atualização:

Dezenas de milhares de pessoas desocupadas por causa de incêndios florestais em Los Angeles estão agora lutando para encontrar — e manter — abrigo temporário, agravando a crise habitacional em uma das cidades menos acessíveis dos Estados Unidos.

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Com 92.000 pessoas ainda sob ordens de desocupação na segunda-feira, 13, os deslocados estavam espalhados pelo sul da Califórnia, em abrigos, quartos de hotel, quartos extras na casa de parentes e sofás de amigos, incertos sobre onde ir a seguir enquanto o risco extremo de incêndio continua por mais uma semana.

A busca por habitação de longo prazo provocou guerras de ofertas em alguns bairros próximos aos incêndios. No elegante bairro de Brentwood, próximo ao incêndio de Palisades, um corretor de imóveis recebeu subitamente mil interessados em um novo anúncio de aluguel. Em Pasadena, uma família cuja casa foi queimada no incêndio Eaton, em Altadena, disse que estava prestes a perder o aluguel emergencial de curto prazo onde estava hospedada desde os incêndios para outra família disposta a pagar US$ 8 mil por mês.

Voluntários organizam e distribuem alimentos e roupas para os deslocados após o incêndio Eaton no Pasadena Church East Campus em Pasadena, Califórnia, na segunda-feira, 13 de janeiro de 2025 Foto: Kyle Grillot/NYT

Alguns, como Lila King, acabaram dormindo em seus veículos. King, de 75 anos, tem alternado entre motéis (tipo de hospedagem econômica nos EUA) e dormido em sua caminhonete com seu filho de 40 anos desde que foram deslocados pelo incêndio Eaton.

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Recentemente, King passou por uma cirurgia após quebrar várias costelas em uma queda, e as noites dormindo na caminhonete têm sido dolorosas. Ela disse que tem sobrevivido com tacos de um posto de gasolina próximo e se pergunta quando, ou se, poderá retornar à sua casa móvel em Altadena, comunidade aos pés das Montanhas San Gabriel devastada pelo incêndio Eaton.

“Estamos tentando conseguir ajuda para encontrar um lugar”, disse ela. “Estou preocupada.”

“Estamos espalhados por toda parte”

A Cruz Vermelha Americana e outras agências abriram oito abrigos no condado de Los Angeles, com capacidade para abrigar quase 800 deslocados no total; o maior, no Salão de Exposições do Pasadena Civic Auditorium, abrigava quase 500 pessoas. Eles lotaram o centro de convenções logo após o incêndio, dormindo em camas improvisadas ou até no chão. Na segunda-feira, o abrigo estava mais tranquilo, e muitos pareciam ter saído.

Alguns deslocados pelos incêndios estão dormindo em sofás ou quartos extras com familiares e amigos. Outros estão temporariamente hospedados em hotéis e casas de aluguel por temporada, contando ansiosamente os dias até precisarem encontrar outra moradia.

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“Estamos espalhados por toda parte”, disse Nic Arnzen, vice-presidente do conselho comunitário de Altadena.

A casa de Arnzen foi uma das mais de 6.500 construções destruídas em Altadena. Desde o incêndio, ele, seu marido, sua filha de 18 anos e um amigo da família se apertaram em uma casa alugada pelo Airbnb, junto com seus dois cães, um gato e um coelho. Ele afirmou que quase todos os 45 mil moradores de Altadena foram deslocados e que a contaminação da água e os destroços tóxicos deixados pelo incêndio complicarão os esforços para retornar, mesmo para aqueles cujas casas sobreviveram. Alguns de seus vizinhos se mudaram para casas de parentes, amigos e até desconhecidos nas proximidades. Outros se mudaram para fora do Estado, pelo menos por enquanto.

Para muitos, as emoções e a adrenalina do início do desastre deram lugar à realidade de que é preciso encontrar acomodações de longo prazo.

“Já estávamos em uma crise habitacional”, disse Arnzen. “Agora todos estão lutando por moradia.”

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Veículos carbonizados ao amanhecer, após o incêndio Palisades no bairro de Pacific Palisades, em Los Angeles, na segunda-feira, 13 de janeiro de 2025 Foto: Loren Elliott/The New York Times

“É como estar perdido em uma névoa”

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Aumentar preços de aluguéis ou outros bens e serviços é proibido na Califórnia sob uma declaração de emergência emitida pelo governador Gavin Newsom. Isso significa que os aluguéis não podem aumentar mais de 10% em comparação com o que eram no início da emergência estadual. No entanto, uma análise de anúncios de aluguel ativos mostrou que alguns subiram entre 15% e 64% desde os incêndios.

Várias famílias cujas casas foram queimadas disseram que estavam tão imersas em lidar com seguradoras e tentando retornar para avaliar os danos que nem sequer começaram a pensar em soluções de longo prazo.

“É como estar perdido em uma névoa”, disse Godwin Amafa, de 69 anos, cuja casa de 25 anos em Altadena foi destruída. Ele e sua esposa estão hospedados em um hotel em Pasadena e disseram que a diária de US$ 140 parecia razoável, mesmo com o aumento da demanda. “Posso ficar aqui enquanto puder pagar”, disse ele.

Jane e Paul Coleman em seu trailer estacionado no Rose Bowl em Pasadena, Califórnia, em 13 de janeiro de 2025 Foto: Isadora Kosofsky/NYT

“Essas não são coisas para as quais você se prepara”

Julio Partida, de 58 anos, e sua família passaram alguns dias em um Airbnb em City Terrace, a leste do centro de Los Angeles. Familiares e amigos ofereceram espaço em suas casas depois disso, mas Partida disse que não sabia onde sua família acabaria. Ainda é difícil, afirmou, pensar além do curto prazo. “Essas não são coisas para as quais você se prepara”, disse ele.

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Perto do estádio Rose Bowl, Paul e Jane Coleman estavam entre os poucos deslocados restantes no estacionamento. Cerca de uma dúzia de famílias procuraram abrigo ali após o incêndio, mas muitas foram embora com a expansão de um centro de operações próximo que oferece aos bombeiros e outros profissionais a chance de se reabastecer e descansar.

Na segunda-feira, uma família perto dos Colemans também estava dormindo em uma van desde quarta-feira. E os Colemans permaneceram em seu trailer.

A casa dos Colemans em Altadena foi poupada, e, por enquanto, o casal disse que está esperando o risco de incêndio diminuir e uma liberação para retornar ao bairro. Para passar o tempo, eles verificam as notícias dos incêndios pelo celular e levam seus três cães — Trixie, Molly e Waldo — para passear. “Vamos apenas esperar”, disse Jane Coleman, de 80 anos.

c.2024 The New York Times Company

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Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.

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