THE NEW YORK TIMES - Um destróier da Marinha americana afundado em 1945 por aeronaves kamikazes durante a batalha de Okinawa, na 2ª Guerra Mundial, foi localizado por um grupo civil de exploradores no oceano Pacífico.
O USS Mannert L. Abele foi o primeiro navio de guerra atingido pelo que era na época uma nova arma japonesa chamada Ohka – uma bomba voadora capaz de atingir velocidades de quase 1.000 km/h.
O Lost 52 Project, grupo que faz buscas por submarinos e navios de guerra afundados no conflito do século 20, localizou a embarcação em dezembro, e confirmou que se tratava do USS Mannert no fim de maio.
O Comando de História e Patrimônio Naval da Marinha dos EUA, em Washington, responsável por rastrear os 3.000 navios e submarinos que a Marinha perdeu no mar em tempos de guerra e de paz, confirmou a descoberta em abril.
“A batalha de Okinawa foi a maior da campanha do Pacífico”, explica Tim Taylor, líder do Lost 52 Project. Ele classifica a descoberta de “monumental” devido ao número de baixas —50 mil só do lado americano. O achado, porém, tem um significado pessoal para o líder do grupo. “O navio de meu pai foi atingido por um kamikaze dez dias antes de o Abele ser afundado na mesma área, talvez 150 km mais ao sul.”
O pequeno navio de guerra foi um dos muitos que formou um cerco em volta de Okinawa durante a campanha para tomar a ilha à força na 2ª Guerra Mundial. Ele usava seus radares para identificar aviões inimigos vindos da área central do Japão e transmitia informações a porta-aviões americanos, que então podiam lançar caças para interceptá-los.
O Abele se defendeu de vários ataques de pilotos kamikazes japoneses, que realizaram missões suicidas perto do final da 2ª Guerra Mundial. Mas sucumbiu quando dois aviões o atingiram no estibordo e explodiram, afundando-o. Até recentemente, sua localização exata era desconhecida.
Ao todo, 84 marinheiros do Abele morreram nas explosões — no naufrágio ou em seguida, quando pilotos japoneses metralharam e bombardearam os sobreviventes na água.
Sam Cox, contra-almirante aposentado que lidera o comando histórico da Marinha, disse que foi bastante fácil identificar o navio com as provas oferecidas pela equipe do Lost 52.
A instituição considera que o Abele e outras embarcações afundadas em combate são túmulos —por isso, o navio ficará onde está, intacto. Cerca de uma dúzia de contratorpedeiros como o Abele foram afundados na campanha de Okinawa ao lado de outros navios, matando cerca de 5.000 marinheiros, diz Cox.
O Lost 52 Project foi batizado em homenagem ao número de submarinos da Marinha americana que desapareceram na 2ª Guerra Mundial. Com veículos subaquáticos autônomos, o grupo já localizou vários destroços, incluindo os do USS Grayback, um submarino afundado em combate perto de Okinawa um ano antes do naufrágio do Abele.
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Familiares de antigos tripulantes saudaram a descoberta do Abele. “Acho que meu pai teria ficado muito interessado e gostaria de ver todos os detalhes”, diz Scott Andersen, cujo pai, Roy, foi oficial júnior a bordo do Abele. “Mas não sei o que a descoberta poderia ter causado nele.”
Em 2007, Roy Andersen escreveu um livro, “Three Minutes Off Okinawa”, sobre o serviço prestado pelo Abele durante a guerra. Ele morreu em 2014 aos 94 anos de idade. “Meu pai me disse uma vez que, desde que o navio afundou, ele raramente conseguiu dormir bem à noite.”
O tenente comandante Mannert L. Abele, que deu seu nome ao Abele, comandou o USS Grunion, um submarino que foi perdido no mar. Ele foi homenageado postumamente com a Cruz da Marinha por ter afundado três navios japoneses em um único dia durante a guerra. Em 4 de julho de 1944, a Marinha encomendou um navio em sua homenagem.
Conta-se que em 12 de abril de 1945, quando o Abele realizava uma patrulha a 120 km da costa norte de Okinawa, o navio foi repentinamente cercado por aviões.
Às 13h38, os canhões do navio atingiram uma aeronave kamikaze japonesa, que pegou fogo e caiu no oceano. Cerca de uma hora mais tarde, três caças japoneses se aproximaram. O navio abateu um deles, mas um segundo se chocou contra o estibordo e explodiu, matando nove marinheiros.
Um minuto mais tarde, o Abele foi atingido novamente, mas desta vez por uma aeronave movida a foguete chamada Ohka, que significa “flor de cerejeira” em japonês. O piloto do Ohka se chocou contra o navio, detonando os 1.200 quilos de explosivos que a aeronave carregava. O Abele se partiu em dois e afundou no mar de 1.400 metros de profundidade.
De acordo com Cox, o Abele e outros navios de guerra da Marinha em volta de Okinawa ajudaram a desviar os ataques de kamikazes dos navios de abastecimento e transporte que davam apoio às tropas que lutavam em terra. “Os navios não podiam fugir”, disse Xo. “Tiveram que ficar e lutar.”
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