‘Deve haver uma guinada pró-mercado. Estamos na Argentina perto da hiperinflação’; leia entrevista

Segundo Carlos de Angelis, professor de Opinião Pública na Universidade de Buenos Aires, novo ministro da Economia da Argentina tem a obrigação de baixar a inflação muito rápido

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A Argentina registrou em junho uma inflação de 5,3% e de 64% nos últimos 12 meses. Nos primeiros seis meses do ano, a inflação acumulada foi de 36,2%, um pouco abaixo da projeção que o governo havia feito para todo o ano. A instabilidade fez com que o governo trocasse o comando do ministério da Economia após Silvina Batakis ficar só 24 dias no cargo. Assume Sergio Massa, um político peronista que se apresenta como centrista, cuja tarefa será conter a disparada nos preços e a corrida por dólar. Na avaliação do sociólogo Carlos de Angelis, professor de Opinião Pública na Universidade de Buenos Aires, a continuidade do governo depende do êxito dele.

Por que Silvina Batakis durou 24 dias no cargo?

Ela tinha uma função que não conseguiu cumprir: evitar uma corrida pelo dólar. Era uma funcionária técnica e não estamos em um processo organizado onde se pode administrar tecnicamente a Economia. Batakis tentou criar um dólar especial para os produtores agropecuários e hoje há seis tipos de dólar. São remendos. Ela não tinha poder político e isso era necessário.

O que significa a escolha de Sergio Massa, um peronista mais alinhado à centro-direita?

Batakis foi uma interventora, escolhida em um momento de urgência diante da renúncia do antecessor (Martín Guzmán). Massa é próximo do setor industrial e assume o equivalente a quatro ministérios. Ele tem trabalhado com economistas de uma linha que nos levam a esperar um giro pró-mercado.

Sergio Massa assume Ministério da Economia da Argentina após Silvina Batakis sair do cargo  Foto: Juan Mabromata/AFP

Qual deve ser a principal missão de Massa?

Ele tem obrigação de baixar a inflação muito rápido, pois o índice anual está perto de 80%. Uma desvalorização do peso frente ao dólar oficial parece inevitável. Algo grave é que o país não tem reservas. Massa não é economista, mas é muito próximo do polo industrial. Acredito que vá desvalorizar o peso e negociar com os produtores rurais. Muitos estão guardando a produção.

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Se tiver êxito, Massa chega como principal candidato peronista em 2023?

Hoje, o peronismo seria derrotado. Alberto Fernández foi popular no período mais duro da quarentena, mas agora está em péssimo momento. Mauricio Macri dá sinais de que poderia voltar, mas há uma disputa interna na oposição. Massa seria o peronista mais forte, mas sua missão é difícil. A crise econômica é muito forte, com dólar e inflação voando. Houve preços nesta semana que subiram 25% e estamos perto de uma hiperinflação. Há produtos faltando e outros que não se consegue importar. Um país pode resistir à desvalorização da moeda, mas não a uma hiperinflação.

Qual o risco de Fernández não terminar o mandato?

Cristina Kirchner já confidenciou que escolheu Alberto Fernández como seu candidato porque ele não tinha votos. Um líder sem votos é um líder sem poder, mesmo nos países parlamentaristas. Cristina fez um acordo com Massa provavelmente porque percebeu que a situação pode derrubar todo o governo. E se o governo cair, ela cai também.

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