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Dia Internacional da Mulher: Como se saíram os direitos das mulheres no mundo em 2022?

Volta do Taleban ao poder no Afeganistão, restringindo direitos das mulheres, protestos no Irã e derrubada do Roe X Wade nos EUA marcaram o ano

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Por Victoria Bisset e Naomi Schanen

Enquanto se celebra o Dia Internacional da Mulher nesta quarta-feira, 8, as Nações Unidas alertaram que o mundo está a 300 anos da igualdade de gênero, com o progresso duramente conquistado em direção à meta “desaparecendo diante de nossos olhos”.

Falando na segunda-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que “os direitos das mulheres estão sendo abusados, ameaçados e violados em todo o mundo”.

Aqui um olhar em algumas das maneiras como a vida das mulheres mudou em todo o mundo no ano passado.

Mulheres protestam no Irã

Em setembro, uma jovem curda foi detida em Teerã após supostamente violar o estrito código de vestimenta do país. Dias depois, a jovem de 22 anos morreu sob custódia - supostamente após ser espancada pela polícia.

Durante a Assembleia-Geral da ONU, manifestantes protestaram em frente ao prédio da ONU Foto: Stephanie Keith/Getty Images/AFP

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A morte de Mahsa Amini desencadeou uma onda de protestos sob o lema “Mulheres, vida, liberdade”, que veio a expressar décadas de descontentamento não apenas com as leis obrigando o uso de véu do país, mas com o próprio sistema dominante. Não é a primeira vez na história do Irã, as mulheres tiveram um papel ativo nos protestos.

Mas as manifestantes pagaram um preço alto: de acordo com a agência de notícias ativista HRANA, pelo menos 530 pessoas foram mortas e mais de 19 mil foram presas até 21 de fevereiro, enquanto o governo intensificou sua repressão contra os manifestantes.

Mais recentemente, houve relatos de centenas de estudantes – a grande maioria meninas – adoecendo por suspeita de envenenamento em escolas de todo o Irã. Não está claro quem está por trás dos supostos envenenamentos, ou se eles estão ligados aos protestos, mas as autoridades ordenaram uma investigação.

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O líder supremo do Irã disse esta semana que, se os envenenamentos forem deliberados, seria um “crime imperdoável” que mereceria a pena de morte.

O Taleban reprime os direitos das mulheres

Há temores sobre o destino das mulheres no Afeganistão desde que o Taleban voltou ao poder em agosto de 2021. No entanto, a situação se deteriorou significativamente no ano passado, com a ONU alertando esta semana que o tratamento do grupo às mulheres e meninas “podem representar perseguição de gênero, um crime contra a humanidade”.

Quando o Taleban assumiu o controle do Afeganistão, seus líderes – ansiosos por obter reconhecimento internacional – prometeram respeitar os direitos das mulheres.

No entanto, no final de março de 2022, as promessas do Taleban de permitir que as meninas voltassem à escola não se concretizaram. Então, em maio, o grupo ordenou que as mulheres muçulmanas voltassem a se cobrir da cabeça aos pés em público.

Nos últimos meses, as restrições ao papel das mulheres na vida pública se tornaram ainda mais rígidas, com as mulheres proibidas de frequentar todas as universidades e depois impedidas de trabalhar para organizações internacionais.

A última proibição aumentou a pressão sobre um país que já luta desesperadamente com uma das piores crises humanitárias do mundo, com mais de 24 milhões de pessoas necessitadas de assistência humanitária.

Meninas tiveram de deixar as escolas após volta do Taleban  Foto: Zohra Bensemra/REUTERS

Pelo menos quatro grandes grupos de ajuda internacional anunciaram quase imediatamente que interromperiam seu trabalho no Afeganistão, observando o papel vital das mulheres no fornecimento de ajuda humanitária, bem como o impacto da proibição na vida das mulheres durante uma grande crise econômica.

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Suprema Corte dos EUA anula Roe v. Wade

Mais de 12 Estados proibiram a maioria dos abortos desde que a Suprema Corte dos EUA anulou Roe v. Wade em junho - proibindo-os completamente, com exceções limitadas, ou após seis semanas de gravidez. Os tribunais bloquearam as proibições em vários outros Estados enquanto as contestações legais continuam.

Desde a decisão da Suprema Corte, há relatos sobre o impacto da decisão na vida de meninas e mulheres em todo o país: desde uma vítima de estupro de 10 anos em Ohio que teve que viajar para outro Estado para fazer um aborto, até o médico de Indianápolis que a ajudou e passou a ser investigado pelo procurador-geral do Estado, a outras pessoas cujos médicos recusaram abortos mesmo quando eram legais.

Manifestantes protestam contra decisão da Suprema Corte de derrubar o Roe X Wade Foto: REUTERS/Jim Bourg/File Photo

O chefe de direitos humanos das Nações Unidas descreveu a decisão como um “grande revés” e “um grande golpe para os direitos humanos das mulheres e a igualdade de gênero”.

Grupos de direitos humanos também aguardam uma decisão em um tribunal federal do Texas sobre o acesso dos americanos ao mifepristona, medicamento abortivo aprovado pelo governo federal. A decisão pode ter implicações abrangentes para o acesso ao aborto em todo o país, inclusive em Estados liderados pelos democratas, onde os direitos ao aborto são protegidos.

Líderes femininas proeminentes renunciam

As mulheres continuam sub-representadas no governo - em janeiro, apenas 31 países tinham uma mulher servindo como chefe de estado ou governo, de acordo com a ONU Mulheres. Segundo o braço das Nações Unidas, os dados mostraram que as mulheres “estão sub-representadas em todos os níveis de tomada de decisão em todo o mundo e que alcançar a paridade de gênero na vida política está longe”.

As recentes renúncias de duas líderes femininas, em particular, provocaram discussões sobre o sexismo e os ataques pessoais que as líderes femininas costumam enfrentar.

Em janeiro, a neozelandesa Jacinda Ardern – que era a líder mais jovem do país em mais de 150 anos quando foi eleita e se tornou apenas a segunda líder mundial eleita na história moderna a dar à luz durante o mandato – anunciou que estava deixando o cargo após cinco anos como primeira-ministra. “Eu sei o que esse trabalho exige”, disse Ardern. “E eu sei que não tenho mais o suficiente no tanque para fazer justiça.”

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Jacinda Ardern decidiu renunciar após ser uma das líderes que melhor lidou com a pandemia  Foto: AP Photo/Rick Rycroft

Ardern enfrentou sexismo durante seu mandato, incluindo comentários preconceituosos de repórteres, comentaristas online e outros políticos. Uma jornalista perguntou sobre a concepção de seu filho, e a polícia uma vez investigou um clube de strip por usar uma imagem adulterada de Ardern para fazer uma promoção.

“As pressões sobre os primeiros-ministros são sempre grandes, mas nesta era de mídia social, clickbait e ciclos de mídia 24 horas por dia, 7 dias por semana, Jacinda enfrentou um nível de ódio que, em minha experiência, é sem precedentes em nosso país”, disse a ex-primeira-ministra neozelandesa Helen Clark em um comunicado.

Temas semelhantes surgiram no mês seguinte, quando a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, anunciou sua renúncia após mais de oito anos no cargo. Ela renunciou dizendo que “não poderia mais agregar ao trabalho”, que deixar o posto era a “única maneira de fazê-lo”, e falou sobre o impacto da atmosfera política em sua vida e na das pessoas ao seu redo.

Ambas as líderes estavam sob pressão em questões domésticas – e os comentaristas apontaram que o momento de suas renúncias provavelmente também foi influenciado por considerações políticas.

No entanto, nenhuma das duas estava enfrentando um grande escândalo. Em vez disso, ambas falaram de seu desejo de retornar a uma vida mais normal - e suas renúncias marcaram o afastamento de duas líderes femininas proeminentes do cenário mundial, em um momento em que as líderes femininas ainda são minoria.

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