GENEBRA - A União Europeia elevou o tom de críticas contra o governo de Nicolás Maduro, disse que a prisão dos opositores foi "um passo na direção errada", rejeitou reconhecer os resultados das eleições de domingo e, nos bastidores, já começou a considerar sanções contra autoridades de Caracas.
Durante a madrugada, os líderes da oposição Leopoldo López e Antonio Ledezma foram detidos pelo governo, num gesto condenado pelos europeus. "Há umas semanas, comemoramos a transferência de Leopoldo López da prisão à detenção domiciliar", disse Catherine Ray, porta-voz de Relações Exteriores da Comissão Europeia. "Hoje, esse gesto foi um passo na direção errada."
"Esperamos mais informações por parte das autoridades da Venezuela sobre essa situação, que continua sem estar clara", insistiu. Nos bastidores, porém, a atitude foi vista por parte do bloco como uma demonstração do que poderá ser a nova fase política na Venezuela.
Liderados pela Espanha, diplomatas da Comissão Europeia começaram a trabalhar em cenários possíveis de aplicação de sanções. Madri vinha insistindo há duas semanas sobre a necessidade de uma ação mais forte, mas Bruxelas optou por esperar a eleição do fim de semana e ver a reação do governo Maduro.
Agora, o governo espanhol quer que a Europa inicie o processo formal para aplicar as sanções, principalmente contra dirigentes venezuelanos. Horas depois da notícia das prisões dos líderes da oposição, o ministro de Relações Exteriores da Espanha, Alfonso Dastis, telefonou para a chefe da diplomacia da Europa, Federica Mogherini, fazendo oficialmente o pedido de sanções.
Segundo ele, a proposta é de que as medidas restritivas sejam "individuais, seletivas e específicas" contra os "responsáveis pelo caos" no país. Além de Mogherini, Madri tem feito forte lobby nas demais capitais europeias para que um acordo seja alcançado.
Para isso, porém, a Espanha e mesmo a Comissão Europeia terá de superar a resistência de governos como o da Grécia que, nos últimos anos, manteve uma relação de proximidade com Maduro.
Jornais gregos revelaram no último fim de semana que o então líder da oposição e hoje primeiro-ministro, Alexis Tsipras, pediu em 2013 ajuda a Maduro caso a Grécia saísse da UE. O grego teria solicitado abastecimento de petróleo e a intermediação do venezuelano para aproximar Atenas de Rússia e China.
O jornal espanhol El País chegou a apontar, ainda em julho, que Portugal também seria contrário às sanções, algo que Lisboa desmentiu e argumentou que, naquele momento, o tema sequer havia sido apresentado de forma concreta como uma possibilidade.
Se nos EUA o caminho foi o congelamento de bens e bloqueio de viagens, Bruxelas quer explorar suas próprias opções. Para convencer os governos mais reticentes do bloco, Bruxelas vem sinalizando que não adotará embargos econômicos, o que aprofundaria ainda mais a crise social no país.
Oficialmente, a assessoria de Mogherini se limita a dizer que ela "está coordenando posições" com os 28 países do bloco sobre os próximos passos a serem tomados contra Maduro.
Nesta terça-feira, a vice-secretária do Partido Popular, Andrea Levy, também pediu que a Europa adote o mesmo caminho indicado pelos EUA e também aplique sanções contra a Venezuela. "Não é apenas que realizem eleições fraudulentas. Mas querem exterminar a oposição", alertou.
Reconhecimento
Sobre as eleições que escolheu uma nova Assembleia Constituinte, a UE insiste que "não pode reconhecer o resultado como tal" e destacou que Bruxelas optou por adotar a mesma posição do Parlamento Europeu, que também se recusa a aceitar as leis criadas pela nova Assembleia. "Temos dúvidas sobre a validade do resultado", disse o bloco, num comunicado.
A UE já havia indicado que a Constituinte "não pode ser parte da solução" e sua eleição ocorreu em meio à violência e "condições duvidosas".
Bruxelas pediu que Maduro "trabalhe de forma urgente para adotar medidas que construam a confiança para reduzir a tensão e impulsionar melhores condições para reiniciar os esforços em direção de uma solução pacífica e negociada".
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