Diplomatas pressionaram Ucrânia a investigar filho de Biden em troca de reunião com Trump

Mensagens trocadas entre três funcionários do alto escalão americano mostram passo a passo da negociação para que presidente ucraniano abrisse investigação contra família do rival de Trump nas eleições de 2020

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Por Redação
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WASHINGTON - Diplomatas dos Estados Unidos pressionaram o então recém-eleito presidente da UcrâniaVolodmir Zelenski, a abrir uma investigação sobre a família de Joe Biden em troca de uma visita de alto nível a Washington, que incluiria uma reunião com o presidente Donald Trump. A negociação logo se transformou no que um dos diplomatas qualificou como uma troca "louca", que colocaria em risco a ajuda militar dos EUA à Ucrânia.

Donald Trump Foto: AP Photo/Evan Vucci

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A informação, obtida a partir de uma série de mensagens de texto, foi divulgada na quinta-feira, 3, por investigadores da Câmara, após um depoimento de 10 horas de duração de um dos diplomatas, Kurt Volker, que renunciou ao cargo de enviado especial à Ucrânia em meio ao inquérito de impeachment aberto pelo Partido Democrata.

As mensagens mostram contornos de um potencial "toma-lá-dá-cá" entre os líderes americano e ucraniano e uma campanha distinta dos três diplomatas, que pareciam tentar ajudar a Ucrânia a restabelecer relações com Trump.

Volker, em uma mensagem de texto na manhã de 25 de julho, quando estava agendada uma ligação entre Trump e o presidente ucraniano, escreveu: "Ouvi da Casa Branca - presumindo que o presidente Z convença Trump que irá investigar / 'chegar ao foco do aconteceu' em 2016, nós marcaremos a data da visita a Washington".

Um consultor do presidente ucraniano pareceu concordar com a proposta, que implicava investigar a Burisma, uma empresa de gás ucraniana em cujo conselho o filho de Joe Biden, Hunter Biden, atuou.

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"O telefonema foi bom", escreveu Andrey Yermak em uma mensagem de texto enviada a Volker após a conversa entre os dois presidentes. Yermak sugeriu diversas datas em que Trump e Zelenski poderiam se encontrar em setembro. Mas todo esse planejamento começou a se desenrolar quando o assessor do mandatário ucraniano tentou marcar um dia para a reunião com Trump antes de divulgar a declaração sobre as investigações.

"Assim que tivermos uma data, convocaremos uma entrevista coletiva, anunciando a futura visita e a retomada das relações entre EUA e Ucrânia, incluindo, entre outras coisas, as investigações sobre a Burisma e interferência nas eleições", escreveu Yermak duas semanas depois. "Parece ótimo", respondeu Volker.

Ele e outros dois diplomatas - William "Bill" Taylor, o encarregado de negócios na embaixada dos EUA na Ucrânia, e Gordon Sondland, embaixador na União Europeia -, discutiram sobre a declaração que Zelenski faria em apoio à investigação. Com o avanço das negociações, Sondland disse que Trump "realmente quer a entrega."

Depois disso, Trump bloqueou US$ 250 milhões em assistência militar à Ucrânia, que depende da ajuda para financiar sua defesa contra a Rússia. "Preciso falar com você", Yermak escreveu para Volker.

Taylor, o diplomata mais experiente da embaixada ucraniana, transmitiu suas preocupações e questionou se o dinheiro estava sendo retido até que a Ucrânia concordasse com a demanda de Trump.

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"Agora estamos dizendo que a assistência militar e o encontro na Casa Branca estão condicionados às investigações?", questionou ele. "Esse cenário é meu pesadelo", escreveu Taylor aos colegas nos dias seguintes. Ele disse que, com a retirada da assistência à Ucrânia, "estremecemos a confiança deles em nós".

Burisma

O procurador-geral da Ucrânia anunciou uma revisão de vários casos relacionados à empresa Burisma, vinculada ao filho de Joe Biden, no momento em que existe a suspeita de que Donald Trump pressionou Kiev para tentar prejudicar o rival democrata.

"Estamos fazendo uma auditoria dos casos que foram supervisionados anteriormente pelo escritório da Procuradoria Geral. Estamos revisando todos os casos que foram arquivados para decidir se isto foi ilegal", afirmou o procurador Ruslan Riaboshapka, antes de indicar que os casos não envolvem Hunter Biden. / AP e AFP