Disputa entre DeSantis e Donald Trump marca início formal da corrida pela Casa Branca

DeSantis desafia o ex-presidente americano Donald Trump pela nomeação do Partido Republicano, enquanto o presidente Joe Biden tem a sua idade como principal ponto fraco

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Por Luciana Rosa

ESPECIAL PARA O ESTADÃO, NOVA YORK - A ideia era ser um evento online para a história. Muita fanfarra e estardalhaço oficial no Twitter, ao lado do dono da plataforma, o polemista Elon Musk, para oficializar a pré-candidatura à presidência do homem tido por muitos como aquele que daria continuidade ao trumpismo, mas sem Donald Trump: Ron DeSantis, o governador da Flórida. Só que tudo deu errado.

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Na noite de quarta-feira, 24, Musk teve seus planos frustrados, ao ver a Live programada para anunciar a pré-candidatura de Ron DeSantis à presidência, ruir por problemas técnicos. A plataforma não conseguiu suportar as mais de 600 mil pessoas que esperavam para ouvir as primeiras palavras do atual governador da Flórida como candidato.

Foi uma metáfora ilustrativa para o fênomeno DeSantis. Queridinho entre os republicanos que tentam desde 2020 encontrar uma saída para o túnel de radicalismo em que Trump jogou o partido, o governador da Florida parecia ter as credenciais certas para rivalizar com o ex-presidente.

O governador da da Florida, Ron DeSantis, participa de um evento político em Bedford, New Hampshire  Foto: Robert F. Bukaty/ AP

Difícil vai ser convencer a base republicana destas credenciais. O político sulista atrai apenas 29% dos votos, enquanto seu rival, Donald Trump aparece com 53% da preferência segundo uma pesquisa feita pela CNN e divulgada na semana passada.

Ron DeSantis, 44 anos, aparece como o sopro de novidade na futura corrida eleitoral que, até o momento, parecia se configurar como um grande ‘Dia da Marmota’ com relação à 2020.

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Uma novidade, porém, que repete algumas das visões de seu rival direto das primárias do velho grande partido.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump é o favorito para conquistar a nomeação do Partido Republicano para a corrida presidencial americana  Foto: USA TODAY/Reuters

As recentes reformas que o estado da Flórida fez em relação ao currículo escolar, com leis como a “Don’t Say Gay”, que proíbe a discussão de gênero ou sexualidade nas escolas, é o exemplo mais famoso de sua faceta conservadora.

No vídeo inaugural da campanha, DeSantis aparece saindo detrás de cortinas escuras, onde estão representados os problemas vividos atualmente pelos americanos: imigração, chamada de desastre na fronteira, e a violência urbana, chamada de infestação do crime. O republicano se prepara para entrar em cena, como uma espécie de Super Homem, pronto resgatar a o que ele chama de “bom-senso” e trazer a liberdade de volta à América “priorizando os fatos sobre o medo, e a educação sobre o doutrinamento, lei e ordem sobre arruaça e desordem”, no processo em que ele chama de “trazer a América de volta”.

Para ser eleito candidato, DeSantis precisa superar Donald Trump nas primárias que finalizam com a Convenção Nacional Republicana marcada para agosto de 2024.

Trump, entre tribunais e comícios

No mesmo dia em que o atual presidente americano Joe Biden anunciou sua candidatura à reeleição, Donald Trump voltava a ver o nome nas manchetes associado à Corte Suprema de Nova Iorque, agora em um caso de estupro.

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A difusão do vídeo em que Biden pede aos americanos para o deixarem terminar o trabalho foi feita na manhã do último dia 25 de abril.

Horas depois, Elizabeth Jean Carroll, ex-repórter da revista Elle, compareceria à Corte Suprema de Manhattan para testemunhar no processo em que acusava Donald Trump de tê-la violentado em meados dos anos 90.

O crime poderia ter sido prescrito, mas a acusação foi retomada através de uma medida temporária aprovada por legisladores de Nova York no ano passado permitindo que as vítimas de agressões sexuais anteriores levassem suas reivindicações antigas ao tribunal. Carroll foi a primeira pessoa a fazer uso da norma para pedir justiça, e conseguiu. Trump foi considerado culpado, mas, como o processo corre por uma vara civil, ele não será preso ou ficará impedido de concorrer às eleições.

O ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano Donald Trump desembarca no Aeroporto Internacional de Aberdeen,Escócia, Foto: Russel Cheyne / REUTERS

O caso no qual foi indiciado no final de março pelo grande júri de Manhattan pela acusação de comprar o silêncio da ex-atriz pornô, Stormy Daniels, sobre um affair que os dois teriam mantido usando dinheiro de campanha, também não o inabilita como candidato.

Existe ainda outro processo em andamento, no estado da Geórgia, sobre supressão de votos e tentativa de alteração do resultado das eleições de 2020. Este sim, poderia representar o fim da linha para sua tentativa de retornar à Casa Branca.

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Para Bruce Ackerman, professor da Faculdade de Direito da renomada Universidade de Yale, considerado pela revista Foreign Policy um dos principais pensadores globais, nenhuma dessas causas seria necessária caso o Procurador-Geral da República, Merrick Garland, resolvesse se debruçar sobre o artigo 3 da 14a emenda da Constituição americana.

“Nenhuma pessoa poderá ser senador ou representante no Congresso, ou eleitor do presidente e vice-presidente,(...)tendo previamente prestado juramento (...) para apoiar a Constituição dos Estados Unidos, deve ter se envolvido em insurreição ou rebelião contra o mesmo, ou dado ajuda ou conforto aos seus inimigos”, diz o texto oficial.

Trump poderia ter sua candidatura barrada, se o procurador-geral dos Estados Unidos apresentasse uma ação declaratória alegando que há evidências concretas de que o ex-presidente se envolveu em um ato de insurreição.

“É um processo legalmente semelhante ao aconteceu com Lula em 2018, quando o Supremo Tribunal Federal foi quem decidiu se ele deveria concorrer ou não”, compara o professor que publicou um livro recentemente intitulado, Revolutionary Constitutions: Charismatic Leadership and the Rule of Law (2019), no qual analisa a Constituição de vários países que viram seus regimes democráticos ameaçados nos últimos anos.

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Biden, a idade como seu pior adversário

Do lado de Joe Biden, não são os problemas com a Justiça, mas a idade avançada o ponto-fraco de sua candidatura. Muitos dos seus companheiros democratas vinham se mostrando contrários a que Biden, hoje com 80 anos, e o presidente mais velho que os Estados Unidos já teve, voltasse a ser o representante da legenda.

Uma pesquisa realizada pela NPR em conjunto com a PBS News Houre e a Marist e divulgada na quarta-feira, 24 , revelou que uma maioria significativa dos americanos se preocupa com a capacidade mental do presidente Biden. Quase 4 de cada 10 democratas apontaram sua saúde mental como uma preocupação real, assim como 7 de cada 10 eleitores independentes e, mais de 8 em cada 10 eleitores republicanos.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já anunciou que será candidato a reeleição pelo Partido Democrata Foto: Susan Walsh / AP

Em outra pesquisa, feita pela AP-NORC Center for Public Affairs Research, em abril, apenas 26% dos americanos dizem querer que o atual presidente concorra à reeleição e, no caso dos democratas, 47%.

Mas, colegas de partido que diziam ser o momento de que Biden passe a tocha a candidatos mais jovens, mudaram de parecer diante da ausência de um nome mais forte e vendo seu potencial eleitoral frente a Trump.

“Independentemente das reservas, independentemente da preocupação de que ele esteja envelhecendo - e ele está, e essa será uma questão com a qual ele e a campanha terão que lidar - quando sua contraparte é quase tão velha como ele”, disse a membro do Comitê Nacional Democrata, Maria Cardona ao New York Times.

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Para o professor da Universidade Federal de Ouro Preto e especialista em etarísmo, Felipe Viero Kolinski Machado, este é um fenômeno parecido ao que ocorreu durante as eleições brasileiras, na qual muitos dos opositores questionavam as capacidades físicas do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje com 77 anos.

Algo que não passa apenas por aspectos físicos, porque a idade avançada traz consigo uma ideia de senilidade. “Durante os primeiros debates das eleições de 2022 no Brasil, uma das questões que aparecia muito, quando se criticava o desempenho de Lula tinha que ver com o fato de que ele se perdia na argumentação, que ele precisava fazer pausas para tomar água, porque ele se engasgava porque tossia”, relembra o especialista. Para ele, estas questões não apareceriam como um sinal de demérito em se tratando de um candidato ou candidata mais jovem.

“Nós vivemos, como já bem escreveu Simone de Beauvoir em 1950, em uma sociedade cada vez mais tecnocrata, onde se valoriza muito mais o conhecimento rápido do que a lógica do conhecimento acumulado, que acabaria dando vantagem a candidatos mais velhos”, diz Kolinski.

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