Bispo católico volta para prisão na Nicarágua após recusar deixar o país em acordo com o Vaticano

Álvarez está detido no Sistema Penitenciário Nacional, a prisão de segurança máxima do país conhecida como ‘La Modelo’

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Por Redação
Atualização:

O bispo nicaraguense Rolando Álvarez, condenado a mais de 26 anos de prisão por “traição contra a pátria”, foi libertado por algumas horas nesta terça-feira, 5, pela ditadura de Daniel Ortega, mas voltou à prisão depois de rejeitar deixar o país.

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Álvarez , bispo da diocese de Matagalpa e administrador apostólico da diocese de Estelí, estava sob a proteção da Conferência Episcopal da Nicarágua, segundo informou nesta quarta-feira à EFE uma fonte diplomática.

Sua libertação, segundo a fonte, se deu graças a negociações entre o governo da Nicarágua, o Vaticano e o Episcopado. Após as partes discutirem destino do líder eclesiástico, sua recusa em deixar o país fez com que o regime o mandasse de volta ao cárcere.

Foto de arquivo de 20 de maio de 2022 mostrando o bispo nicaraguense Rolando Alvarez, crítico do governo do presidente Daniel Ortega, durante um jejum por tempo indeterminado em protesto, em Manágua, Nicarágua.  Foto: Jorge Torres / EFE

Álvarez está detido no Sistema Penitenciário Nacional, a prisão de segurança máxima do país e conhecida como “La Modelo”, onde estava detido desde 9 de fevereiro, quando se recusou pela primeira vezar a ser deportado – na ocasião para os Estados Unidos

“Monsenhor Rolando Álvarez não quer deixar a Nicarágua. Quer ser livre, sem condições, em seu país”, escreveu em sua rede social o bispo hondurenho José Antonio Canales, que vem acompanhando a situação de seu colega.

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Influência de Lula?

A tentativa de libertação do bispo Rolando Alvarez pelo regime sandinista ocorreu antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concretizar a prometida gestão diplomática junto ao ditador nicaraguense, para que o religioso fosse liberado. Lula pretendia telefonar a Daniel Ortega, mas a ligação não chegou a acontecer, segundo o Palácio do Planalto.

­Houve, no entanto, pressão política pública de Lula e do Vaticano. Como o Estadão revelou, a prisão do clérigo e a repressão aos demais representantes da Igreja Católica pelo regime entrou na pauta da audiência de Lula com o papa Francisco, no dia 21 de junho, no Vaticano.

A pedido do papa, Lula prometeu interceder junto ao amigo Ortega, e disse que ele deveria reconhecer que errou e pedir desculpas. Segundo o petista, não havia nenhuma razão para que o bispo de Matagalpa permanecesse preso, acusado de traição, sem poder desenvolver as atividades pastorais ou sair do país e regressar ao Vaticano.

O presidente se dispôs a ajudar num cenário complicado para a Santa Sé. O papa Francisco havia subido o tom contra Ortega, a quem tratou como um “desequilibrado” e disse que o país é uma “ditadura grosseira”. Em 2022, o papa perdera a interlocução direta com o regime em Manágua, após a expulsão do núncio apostólico.

Lula falou sobre o caso na semana passada mais uma vez, antes de encontro do Foro de São Paulo, agremiação de partidos de esquerda latino-americanos. A reunião ocorreu em Brasília e os petistas prometiam tratar do assunto com representantes da Frente Sandinista de Libertação Nacional, partido de Ortega. Nesta terça-feira, dia 4, Lula afirmou aos demais presidentes da região na cúpula do Mercosul que pretendia telefonar ao ditador na próxima semana.

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“Estive com o papa Francisco agora e assumi o compromisso de falar com o Daniel Ortega na próxima semana a respeito da disputa com setores da Igreja. Naquilo que a gente puder contribuir, quem tiver relação, temos que conversar. O que não pode é isolar e levar em conta que os defeitos estão apenas de um lado”, disse Lula.

A ordem da Corte IDH

A decisão de libertar o bispo Álvarez da prisão também ocorre uma semana depois que a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), com sede na Costa Rica, emitiu uma resolução ordenando que a

Nicarágua libertasse o religioso e adotasse “as medidas necessárias para proteger efetivamente sua vida, saúde e integridade pessoal”. Em fevereiro de 2023, o governo Ortega libertou e expulsou 222 presos políticos do país, que foram transferidos para Washington em um avião fretado pelo governo dos Estados Unidos.

O bispo Álvarez se recusou a deixar o país e, como consequência, foi condenado a mais de 26 anos de prisão, teve sua cidadania cassada e foi transferido da prisão domiciliar para o presídio. Além disso, Ortega declarou interrompidas as relações bilaterais com o Vaticano e descreveu a Igreja Católica como uma “máfia”.

A Nicarágua vive uma crise política e social desde abril de 2018 que se agravou após as polêmicas eleições de novembro de 2021, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, o quarto consecutivo, e o segundo junto com sua esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, com seus principais adversários na prisão ou no exílio.

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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM) afirmaram ao Estadão que continuam sem informações concretas sobre o caso. /EFE, com informações de Felipe Frazão

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