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Dois americanos sequestrados no México são encontrados mortos, dizem autoridades

Grupo de quatro americanos viajava para o México para realizar um procedimento estético, quando foram atacados na fronteira com os EUA; sobreviventes foram devolvidos

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Por Kevin Sieff, Paulina Villegas e Leo Sands
Atualização:

CIDADE DO MÉXICO – Dois dos quatro americanos que foram sequestrados em uma cidade mexicana na fronteira com os Estados Unidos na sexta-feira, 3, foram encontrados mortos, segundo as autoridades mexicanas nesta terça-feira, 7. Os outros dois foram resgatados e devolvidos aos EUA e um suspeito foi preso.

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A localização dos corpos americanos foi anunciada pelo governador do Estado de Tamaulipas, Américo Villarreal. Os sobreviventes foram enviados aos EUA após receberem assistência médica e as autoridades mexicanas se encontrarem com funcionários do consulado americano. “Aproximadamente uma hora atrás, confirmamos que os quatro americanos foram localizados”, declarou Villarreal.

Segundo uma autoridade mexicana, os americanos foram encontrados no vilarejo de Tecolote, a cerca de 24 quilômetros da cidade fronteiriça de Matamoros, local do sequestro. As buscas foram feitas pelas autoridades dos dois países, com auxílio de informações de inteligência americana.

Policiais realizam buscas em local onde americanos sequestrados foram encontrados mortos, em Matamoros, no México. Imagem é desta terça-feira, 7 Foto: Daniel Becerril/Reuters

A prisão de um suspeito envolvido no sequestro foi anunciada nesta terça-feira pela secretária de segurança mexicana, Rosa Icela Rodríguez, mas nenhum detalhe foi divulgado.

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, afirmou que os criminosos não sairão impunes. Ele garantiu que as autoridades mexicanas trabalham e cooperam com os EUA de forma “respeitosa”, mas que o seu governo não permitirá que “governos estrangeiros” intervenham em questões nacionais. “Não nos intrometemos para tentar ver quais gangues criminosas dos EUA distribuem fentanil nos Estados Unidos”, disse ele.

Os sequestrados foram identificados como Latavia McGee, seu primo Shaeed Woodard e os amigos Zindell Brown e Eric James Williams. As autoridades não identificaram imediatamente quais morreram. Segundo os parentes americanos, eles viajavam ao México porque Latavia planejava se submeter a um procedimento estético. Os quatro estavam em uma minivan com placa da Carolina do Norte e tinham acabado de cruzar a fronteira de Brownsville, no Texas, para Matamoros quando foram atacados a tiros e sequestrados.

O FBI ofereceu uma recompensa de US$ 50 mil (R$ 259 mil) pelo resgate das vítimas e prisão dos criminosos.

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Pressão sobre autoridades mexicanas

Grupos do crime organizado do México não costumam ter cidadãos americanos como alvos para não atrair a atenção do governo dos Estados Unidos. Mas, com a morte dos dois americanos, o México será pressionado a demonstrar um esforço para punir os grupos envolvidos no sequestro.

Isso não é tarefa fácil em uma cidade como Matamoros, onde o cartel Zeta controla um pedaço significativo do território e conta com mão de obra e armas de fogo suficientes para desafiar as forças de segurança do país.

Imagens do sequestro verificadas pelo The Washington Post mostram homens armados e com coletes a prova de balas forçando uma mulher a entrar na traseira de uma picape branca e arrastando outras três pessoas para o veículo, deixando um rastro do que parece ser sangue no chão. Uma quinta pessoa pode ser vista caída na calçada, aparentemente ferida. Segundo o embaixador dos Estados Unidos no México, “um cidadão mexicano inocente” foi morto no confronto.

Christina Hickson, mãe de um dos sequestrados, identificado como Zindell Brown, de 28 anos, disse a um canal americano que identificou o filho a partir de imagens do sequestro compartilhadas online. “Pude ver cada um conforme eles são colocados no veículo”, disse ela. “Soube imediatamente que era ele.”

Cidade fronteiriça

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Matamoros é a segunda maior cidade do Estado mexicano de Tamaulipas, com 580 mil habitantes. O Estado é um dos seis para os quais o Departamento de Estado dos EUA desaconselha os americanos a viajarem, por causa do risco de crimes e sequestros.

Embora os sequestros de cidadãos americanos em Tamaulipas sejam raros, o Estado tem um longo histórico de violência relacionada às drogas. Grupos criminosos e facções do tráfico de drogas costumam ter disputas sangrentas por território e visam migrantes para sequestro e extorsão.

Desde o início de 2021, a Human Rights First, uma organização internacional de direitos humanos, identificou mais de 8.705 relatos de sequestros e outros ataques violentos contra migrantes e solicitantes de asilo expulsos ou presos em cidades do México enquanto esperam audiências nos EUA.

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Há mais de uma década, no auge da guerra às drogas apoiada pelos Estados Unidos, uma série de massacres de migrantes na cidade de San Fernando, cerca de 136 quilômetros ao sul de Matamoros, surpreendeu o mundo ao ressaltar a barbárie da violência dos cartéis e a vulnerabilidade dos migrantes.

Em 2010, as autoridades descobriram os corpos de 72 migrantes da América Central que foram mortos pelos Zetas, um grupo implacável que se separou do cartel de drogas do Golfo. No ano seguinte, as autoridades descobriram que homens armados tiraram pelo menos 193 pessoas de ônibus, espancaram-nas até a morte e jogaram seus corpos em dezenas de sepulturas clandestinas.