Donald Trump pressionou governador do Arizona a invalidar eleição de 2020

Ex-presidente também pediu insistentemente ao então vice-presidente, Mike Pence, que incentivasse o republicano Doug Ducey a encontrar provas que confirmassem as denúncias de fraude

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Por Leigh Ann Caldwell, Josh Dawsey e Yvonne Wingett Sanchez

THE WASHINGTON POST - Em um telefonema no final de 2020, o presidente Donald Trump tentou pressionar o governador do Arizona, o republicano Doug Ducey, a invalidar os resultados da eleição para presidente no estado, dizendo que, se votos fraudulentos o suficiente pudessem ser encontrados, isso resolveria a derrota de Trump por pouco no Arizona, de acordo com três pessoas a par da ligação.

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Trump também pediu insistentemente ao vice-presidente Mike Pence que ligasse para Ducey e o incentivasse a encontrar provas que confirmassem as denúncias de fraude feitas por Trump, segundo duas dessas fontes. Pence ligou para Ducey várias vezes para discutir a eleição, disseram elas, mas não seguiu as orientações de Trump para pressionar o governador.

A extensão dos esforços de Trump para convencer Ducey a ajudá-lo a permanecer no poder não foi relatada antes, mesmo quando outras tentativas do advogado de Trump e de seus aliados para pressionar as autoridades do Arizona foram divulgadas. Ducey disse a repórteres em dezembro de 2020 que ele e Trump tinham conversado, porém se recusou a informar o teor do telefonema na época ou nos mais de dois anos seguintes. Apesar de discordar de Trump em relação ao resultado da eleição, Ducey tentou evitar uma batalha pública com ele.

Donald Trump tentou pressionar o governador do Arizona, o republicano Doug Ducey, a invalidar os resultados da eleição para presidente Foto: AP/Andrew Harnik

Ducey descreveu a “pressão” que sofreu após a derrota de Trump para um famoso doador republicano durante uma refeição no Arizona no início deste ano, de acordo com o doador, que, como os demais entrevistados para esta matéria, falou sob condição de anonimato para comentar conversas particulares. O relato foi confirmado por outras pessoas cientes da ligação. Ducey disse ao doador que ficou surpreso com o fato da equipe do promotor especial Jack Smith não ter averiguado seus telefonemas com Trump e Pence como parte da investigação do Departamento de Justiça sobre a tentativa do ex-presidente de invalidar a eleição de 2020, disse o doador.

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Ducey não registrou a ligação, segundo as pessoas familiarizadas com o assunto.

Atualmente sem exercer um cargo público, o ex-governador se recusou, por meio de um porta-voz, a responder perguntas específicas relacionadas com suas interações com Trump e seu governo.

“Isso não é nenhuma novidade hoje ou para qualquer um acompanhando a questão nos últimos dois anos”, disse o porta-voz Daniel Scarpinato em um comunicado. “O governador Ducey defendeu os resultados da eleição de 2020 do Arizona, certificou a eleição e deixou claro que a certificação dava espaço para aqueles com queixas válidas, apoiadas por provas, apresentá-las. Nenhuma jamais foi apresentada. O governador continua firme sobre sua ação de certificar a eleição e considera a questão coisa do passado.”

Um porta-voz de Trump se recusou a responder perguntas a respeito do telefonema para Ducey e, em vez disso, declarou erroneamente em um comunicado que “a eleição presidencial de 2020 foi fraudada e roubada”. O porta-voz disse que Trump deveria ser reconhecido por “fazer a coisa certa – trabalhar para garantir que toda a fraude fosse investigada e resolvida”.

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Contato com Ducey

Não está claro se Ducey foi contatado pelo escritório de Smith desde a reunião com o doador. Investigadores do gabinete do promotor especial perguntaram a testemunhas sobre as ligações de Trump para os governadores, incluindo Ducey, de acordo com duas fontes a par do tema. Não se sabe se os promotores planejam em algum momento apresentar denúncias ou como os telefonemas se encaixam na investigação. Os promotores também demonstraram interesse nas tentativas de Trump de recrutar Pence para ajudá-lo, de acordo com testemunhas e intimações verificadas anteriormente pelo The Washington Post.

Trump telefonou para o celular do governador no dia 30 de novembro de 2020, quando Ducey estava no meio da cerimônia da assinatura dos documentos que declaravam a vitória do presidente Biden no estado, transmitida ao vivo pela internet. A abordagem de Trump foi imediatamente percebida por aqueles que acompanhavam a cerimônia. Eles ouviram “Hail to the Chief”, considerada o hino dos presidentes dos EUA, enquanto o celular do governador tocava. Ducey tirou o telefone do paletó, silenciou a chamada recebida e guardou o aparelho. No dia 2 de dezembro, ele disse aos repórteres que falou com o presidente após a cerimônia, mas se recusou a dar mais detalhes sobre a conversa. Ducey disse que o presidente tinha “uma mente questionadora”, mas não pediu ao governador que se recusasse a assinar o certificado do resultado das eleições.

Entretanto, quatro pessoas familiarizadas com a ligação disseram que Trump falou especificamente da diferença por dez mil votos no Arizona e, em seguida, defendeu uma série de alegações falsas que mostrariam como ele venceu a eleição no estado e encorajou Ducey a considerá-las. Na época, os advogados e aliados de Trump espalharam alegações falsas para explicar a derrota dele, entre elas que eleitores mortos e pessoas sem a cidadania americana tinham votado.

Depois do telefonema de Trump para Ducey, o presidente orientou Pence, um ex-governador que conhecia Ducey há anos, a verificar constantemente com o governador se havia qualquer progresso na descoberta das alegações de irregularidades nos votos, de acordo com duas pessoas a par do esforço.

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O governador do Arizona, Doug Ducey, fala durante evento do Super Bowl Foto: Kirby Lee/USA Today Sports

A expectativa era que Pence apresentasse um relatório com suas descobertas e repleto das teorias da conspiração de Trump e sua equipe, disse uma das fontes. Pence não pressionou Ducey, mas disse para ele entrar em contato caso descobrisse algo, porque Trump estava procurando por provas, segundo as pessoas familiarizadas com as ligações.

Um representante de Pence não quis se posicionar.

Em todos os telefonemas, Ducey reiterava que as autoridades do estado tinham procurado por supostas atividades ilegais generalizadas e investigado todas as pistas, mas não descobriram nada que pudesse mudar o resultado da eleição, de acordo com o relato de Ducey ao doador.

Depois de saber que Ducey não estava apoiando suas alegações, Trump ficou com raiva e o atacou publicamente.

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Não está claro se Ducey e Trump conversaram depois disso. Publicamente, o governador disse que o sistema eleitoral era confiável, mesmo enquanto Trump e seus aliados tentavam reverter a derrota dele.

Caminho da pressão

No Arizona, Trump e seu advogado, Rudy Giuliani, ligaram para o então presidente da Câmara, o republicano Rusty Bowers, no dia 22 de novembro de 2020. Eles pediram a ele que convocasse o legislativo para investigar suas alegações infundadas de fraude eleitoral, que incluíam o registro em massa de votos de imigrantes ilegais e pessoas falecidas. Semanas depois, no dia 31 de dezembro de 2020, a central telefônica da Casa Branca deixou uma mensagem para o presidente do Conselho de Supervisores do Condado de Maricopa, Clint Hickman, na tentativa de fazê-lo entrar em contato com Trump. O supervisor, um republicano, não retornou a ligação.

Trump e seus aliados fizeram apelos semelhantes às autoridades no Michigan e na Geórgia. No dia 2 de janeiro de 2021, Trump ligou para o secretário de Estado da Geórgia, o republicano Brad Raffensperger, e disse que queria reverter sua derrota no estado encontrando votos extras. Na noite seguinte, a central telefônica da Casa Branca deixou mais uma mensagem de voz para Hickman pedindo que ele entrasse em contato com Trump. Hickman não ligou de volta.

Os investigadores do gabinete de Smith interrogaram Raffensperger, esta semana, e Giuliani, na semana passada. “A participação foi totalmente voluntária e conduzida de forma profissional”, disse o porta-voz de Giuliani, Ted Goodman.

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Mais de meia dúzia de atuais e ex-autoridades do Arizona contatadas por Trump ou por seus aliados após a derrota dele foram interrogadas pela equipe de Smith ou receberam intimações do júri de acusação em busca de registros, de acordo com quatro pessoas a par dos interrogatórios. Os interrogados incluem Bowers, o ex-presidente da Câmara do Arizona, e três atuais membros do Conselho do Condado de Maricopa, a maior jurisdição eleitoral do estado que confirmou a vitória de Biden.

Os porta-vozes da governadora do Arizona, a democrata Katie Hobbs, e da procuradora-geral do Arizona, a democrata Kris Mayes, disseram ao Post esta semana que seus gabinetes não foram contatados pela equipe de Smith sobre a busca de registros relacionados com a eleição de 2020. O gabinete do secretário de Estado do Arizona recebeu uma intimação do júri de acusação com a data de 22 de novembro de 2022, que procurava por informações sobre comunicações com Trump, sua campanha e seus representantes, de acordo com um funcionário a par do documento, mas não autorizado a falar publicamente dele.

Durante seu mandato como governador, Ducey lidou com sua relação instável com Trump. Ducey, que adotou uma postura mais convencional para governar, demorou a apoiar Trump durante sua primeira candidatura à Casa Branca. A relação entre os dois se estreitou em meio à pandemia e na segunda candidatura de Trump à Casa Branca, Ducey fez campanha para ele.

Mas depois que Ducey atestou os resultados da eleição do Arizona, confirmando as vitórias de Biden e de outros democratas, Trump o ridicularizou nas redes sociais: “Por que ele está correndo para colocar um democrata no poder, sobretudo quando tantas coisas horríveis relacionadas com fraude eleitoral estão sendo reveladas na audiência em curso agora... O que está acontecendo com @dougducey?”.

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Naquele mesmo dia, aliados do presidente se reuniram em Phoenix para discutir alegações não comprovadas de fraude generalizada e defender que os legisladores do estado poderiam rejeitar a vontade dos eleitores. Giuliani participou do evento, assim como legisladores e ativistas republicanos; Trump compareceu remotamente.

O presidente mencionou Ducey inúmeras vezes nos dias seguintes, de acordo com um arquivo de seus tuítes. No dia 3 de dezembro, Trump questionou se “permitir uma verificação rigorosa das cédulas” no estado seria “mais fácil para ele e para o grande estado do Arizona”. No dia 5 de dezembro, Trump escreveu que Ducey e o governador da Geórgia, o republicano Brian Kemp “lutaram mais contra nós do que os democratas da esquerda radical”.

Uma semana depois, Trump atacou os dois novamente, perguntando “quem é o pior governador?”. Ele rotulou ambos de “republicanos RINO” (o acrônimo faz referência à expressão em inglês “republicano só no nome”, que costuma ser usada com aqueles considerados desleais ao partido) e afirmou sem qualquer fundamento que “eles permitiram que os estados onde venci com facilidade fossem roubados”.

Ducey, há muito visto pelos republicanos do país como um candidato formidável para o Senado dos EUA, conseguiu a aprovação de uma possível candidatura em 2024, mesmo depois de seu prestígio com a base de Trump ter sido prejudicado após os ataques do ex-presidente. Depois de deixar o cargo em janeiro, ele fez parte do Sine Institute of Policy & Politics na Universidade American, onde falou das políticas que aprovou enquanto era governador. Recentemente, Ducey anunciou que está liderando um comitê de ação política focado na livre-iniciativa, o Citizens for Free Enterprise./Tradução de Romina Cácia

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