É preciso usar a diplomacia com Putin para reduzir a tensão nuclear; leia análise

Tentativas de alguns líderes de encontrar uma saída para Putin incorreram apenas em escárnio e indignação dos mais belicosos em relação à Rússia

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Por Ishaan Tharoor

Independentemente de todo seu disparato e ignorância histórica, Elon Musk cutucou um problema genuíno. O bilionário da tecnologia atraiu críticas este mês quando tuitou sua visão de um plano de paz entre Rússia e Ucrânia — que pareceu favorecer a agenda do Kremlin. Ele pediu uma resolução para a atual guerra que, entre outros fatores, implicaria na Ucrânia ceder à reivindicação russa pela Crimeia.

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A lógica para isso, argumentou Musk, é que a Rússia poderia acionar armas nucleares táticas no campo de batalha mais cedo, em vez de tolerar a perda da península estratégica e simbólica culturalmente. Concessões à potência invasora seriam preferíveis a descambar para uma espiral de conflito nuclear.

A reação foi contundente — com especialistas em políticas e autoridades ucranianas e ocidentais desdenhando da lógica de chantagem atômica imposta pelo presidente russo, Vladimir Putin, e replicada por Musk. “Não pode haver uma concessão que implique em ele não acionar uma arma nuclear em troca de entregarmos a Ucrânia”, afirmou Fiona Hill, acadêmica especializada em Rússia e ex-autoridade do governo Trump, ao site de notícias Politico.

Presidente russo, Vladimir Putin, conduz reunião do Conselho de Segurança da Rússia por videoconferência na residência Novo-Ogaryovo, nos arredores de Moscou Foto: Sergei Ilyin, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

“Putin está se comportando como um Estado-pária porque, bem, ele é um Estado-pária neste momento. (…) Temos de assegurar que ele não obtenha o efeito que pretende com esta estratégia temerária de ameaça nuclear.”

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O que fazer é, evidentemente, o dilema gigantesco em torno da guerra na Ucrânia.

Os Estados Unidos e seus parceiros europeus continuam a fornecer ajuda militar e armamentos para Kiev na esperança de que a Ucrânia seja capaz de continuar a pressionar com sua atual vantagem, retomar territórios capturados pelos russos nos últimos oito meses e, no mínimo, conquistar mais peso e influência, para aplicar no momento em que as partes em guerra empreenderem negociações significativas.

O Kremlin, enquanto isso, tem respondido aos seus recentes reveses com uma escalada de violência, lançando ataques indiscriminados contra áreas civis na Ucrânia ao mesmo tempo que mira a infraestrutura ucraniana de energia.

A segunda tática é parte de uma estratégia maior da Rússia de transformar o inverno iminente em uma arma ao seu favor, deixando os ucranianos com frio e no escuro ao mesmo tempo que eleva os preços da energia — e descontentamentos domésticos — por toda a Europa. “Putin parece acreditar que é capaz de coagir seus inimigos obrigando-os a desistir antes que sofra uma derrota maior, enquanto os EUA agem como se fossem capazes de dissuadir Putin de escalar a guerra por tempo suficiente para a Ucrânia vencer”, escreveu Hal Brands na página Bloomberg Opinion. “O resultado disso tudo é um equilíbrio violento e instável, incapaz de se manter de maneira perene já que os participantes envolvidos perseguem objetivos irreconciliáveis.”

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O espectro do conflito nuclear está à espreita, apesar de observadores ocidentais acreditarem que o blefe de Putin deve ser desmascarado. Outros, mais sensíveis à posição do Kremlin, discordam. “Os líderes da Otan parecem convencidos de que Putin, descrito recentemente pelo presidente (Joe) Biden como um ‘ator racional’, não ousaria apelar para o arsenal nuclear”, escreveu Dimitri Simes, do Center for the National Interest, um instituto de análise de Washington.

“Alguns líderes até parecem acreditar que o Kremlin está agora paralisado pela preocupação com a retaliação do Ocidente. Mas o momento em que os russos estarão dispostos a usar todas as suas opções disponíveis exceto as armas nucleares estratégicas pode estar muito mais perto do que líderes ocidentais e especialistas parecem considerar.”

Autoridades americanas alertaram que todas as opções de represália estão sobre a mesa no caso de um ataque nuclear tático da Rússia, mas trata-se de uma ameaça nunca testada — por décadas, estrategistas ocidentais consideraram a opção pela ação militar um estratagema de dissuasão. Mas o que acontece se a dissuasão fracassar?

O próprio Biden comparou o risco deste momento ao da Crise dos Mísseis em Cuba. É uma analogia sombria, já que, segundo argumentam alguns analistas, 60 anos atrás, os canais de comunicação na Guerra Fria entre Washington e Moscou eram mais robustos do que atualmente.

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“A atual crise é muito pior do que a Crise dos Mísseis em Cuba, em parte porque durante a Crise dos Mísseis em Cuba tanto (o então presidente americano, John) Kennedy, quanto (o ex-líder soviético Nikita) Khrushchev estavam dispostos a discutir uma maneira de evitar o confronto”, afirmou Cynthia Hooper, especialista em Rússia da College of the Holy Cross, à revista online Insider. “Hoje não existe nenhuma opção desse tipo sobre a mesa.”

Contatos estreitos

Várias autoridades europeias em visita a Washington disseram à seção Today’s WorldView, do Post, nos meses recentes que o alcance de sua visão sobre o pensamento do Kremlin é mais limitado atualmente do que jamais foi. Apesar de os EUA transmitirem alertas para a Rússia privadamente sobre as consequências de usar uma arma nuclear, os contatos são estreitos em escopo e graduação. Putin pode estar isolado instigando a guerra de um bunker, mas a sensação de incerteza e perigo em torno do conflito apenas se aprofunda.

Tentativas de alguns líderes da Europa Ocidental, incluindo o presidente francês, Emmanuel Macron, de encontrar uma saída para Putin incorreram apenas em escárnio e indignação dos mais belicosos em relação à Rússia. “Para alguns dos apoiadores mais ardentes da Ucrânia, até mesmo falar de diplomacia soa a conciliação”, afirmou o colunista Gideon Rachman, do Financial Times. “O argumento deles é que a única maneira aceitável e realista de acabar com a guerra é a derrota de Putin. Isso é correto enquanto declaração de princípio, mas não muito útil na prática.”

A diplomacia não deveria ser a alternativa ao esforço de guerra, argumentou Rachman, deveria, em vez disso, ocorrer simultaneamente ao conflito; apesar de ser difícil prever quando o momento de tal diálogo deverá ocorrer. “Privadamente, autoridades americanas dizem que nem Rússia nem Ucrânia é capaz de vencer a guerra definitivamente, mas descartaram a ideia de forçar ou até mesmo incentivar a Ucrânia a se sentar à mesa de negociação”, noticiaram meus colegas na semana passada. “Os americanos afirmam que não sabem como será o fim da guerra, nem se a guerra vai acabar, nem quando, insistindo que isso cabe a Kiev.”

O envolvimento de atores não ocidentais poderia alterar o marcador. Uma rodada preliminar de negociações entre Rússia e Ucrânia não chegou a nenhum lugar, mas vimos sucesso no esforço liderado pela Turquia que ajudou a liberar estoques de grãos ucranianos para o planeta faminto. Os outros líderes regionais, incluindo o presidente dos Emirados Árabes Unidos e o emir do Catar, também intensificaram chamados para o fim das hostilidades e se ofereceram para mediar negociações entre Moscou e Kiev.

“A Turquia não fez segredo de que pretende ajudar a mediar um acordo de cessar-fogo mais amplo entre Ucrânia e Rússia. Ancara tem esperança de que a experiência do pacto sobre os grãos — assim como uma troca de prisioneiros que mediou mais recentemente com participação da Arábia Saudita — pode favorecer esse objetivo”, escreveu Eugene Chausovsky, analista-sênior do New Lines Institute. “Mediação bem-sucedida, que produza resultados tangíveis, mesmo sobre assuntos relativamente menores, pode pavimentar uma futura desescalada.”

Autoridades do Ocidente têm dúvidas sobre quão bem-sucedidos esses contatos poderão se provar e depositam pouca esperança nas conversas que Putin pode vir a ter com, por exemplo, interlocutores chineses e indianos. Mas pode existir aí um caminho para um arrefecimento de ânimos, pelo menos no campo nuclear.

“Dois anos atrás, Putin ofereceu remover da Europa novos mísseis nucleares russos de alcance intermediário disparáveis de lançadores terrestres sob condições verificáveis, fundamentando, portanto, uma moratória para esses mísseis na Europa”, escreveu Rose Gottemoeller, ex-subsecretária-geral da Otan. “Quando Putin e Xi Jinping se encontraram em Pequim, antes da invasão de fevereiro, eles falaram em ampliar essa moratória para a Ásia. Talvez seja a hora de empreender negociações discretas, mesmo que apenas em nível técnico, para explorar o que ambos têm em mente.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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