Na fazenda das Flores, no coração da zona rural inglesa, a preocupação é grande. Em um contexto generalizado de falta de mão de obra, seu dono, Patrick Deeley, ainda não tem equipe suficiente para distribuir seus perus no Natal.
“Não sei se vou ter pessoal suficiente para o trabalho pré-férias, a pressão vai continuar”, disse o agricultor de Surrey, no sul do Reino Unido, à AFP.
Neste momento, ele deveria ter 12 funcionários sazonais até meados de dezembro para o trabalho de preparo, embalo e entrega das aves a tempo do Natal.
Há mais de 15 anos o fazendeiro contrata trabalhadores da União Europeia. Neste ano, no entanto, ele não conseguiu encontrar nenhum, explica, enquanto cerca de 600 perus brancos o rodeiam no momento em que chega para alimentá-los no celeiro de madeira.
Se muitos trabalhadores abandonaram o setor ou mesmo o país durante as restrições impostas pela pandemia, Deely está convencido de que o “Brexit é também um fator determinante”. “Porque uma das consequências é a perda maciça da mão de obra europeia”, diz ele.
O Brexit, que entrou em vigor no primeiro dia de janeiro, dificulta a entrada de trabalhadores da União Europeia, que têm agora de obter um visto de trabalho.
Por conta da escassez de mão de obra no setor avícola, alguns agricultores multiplicaram os anúncios de emprego, mas os candidatos continuam escassos.
“Não é a coisa mais glamourosa do mundo”, diz Mark Gorton, um agricultor de perus de Norfolk, no leste da Inglaterra, que agora não tem um único trabalhador sazonal, quando costumava ter entre 300 e 400 por ano.
“Estamos a seis semanas de começar a preparar os perus para o mercado de Natal e, neste momento, não temos trabalhadores”, sublinha com preocupação.
Carga horária
Devido à escassez, alguns agricultores foram obrigados a produzir menos perus este ano e os supermercados reduziram as suas encomendas.
“O número de perus foi consideravelmente reduzido”, diz Deely, “não importa se tem dez perus ou 20.000, o problema é basicamente o mesmo, há uma enorme escassez de mão de obra qualificada”.
A situação fez com que os consumidores iniciassem com antecedência a procura pelo item natalino nos supermercados.
De acordo com uma associação tradicional de granjas, que agrupa 40 criadores, a maioria dos seus membros registrou um aumento significativo de encomendas em comparação com esta época no ano passado.
O risco agora é que os preços dos perus disparem. “Penso que as pessoas irão, infelizmente, ver um aumento no custo do produto”, diz Deely.
Como a avicultura é um setor chave da economia britânica, o governo decidiu conceder 5.500 vistos excepcionais de três meses para trazer trabalhadores sazonais, mas os agricultores receiam que não seja suficiente inverter a maré.
“Deixaria eu a minha casa, o meu país, o meu trabalho, a minha segurança, só para vir ajudar um país que me disse que não me quer? Eu não faria isso”, diz Patrick indignado. “Vejo que as consequências do Brexit são enormes, colossais, e uma delas é que as pessoas sentem-se rejeitadas”, explica ele.
À medida que se aproxima o Natal, os agricultores estão resignados. “Vou ter de convencer as pessoas que trabalham para mim de que vamos ter de trabalhar 18h ou até 19h por dia em vez de 16h", explica Patrick.
O setor avícola é um dos mais afetados pela escassez de mão de obra, mas não é o único.
Com as férias de fim de ano se aproximando, os produtores de árvores de Natal e as lojas de brinquedos receiam não conseguir satisfazer a procura devido à falta de pessoal e de caminhoneiros para o transporte.
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