O voto dos americanos, além de definir quem vai governar o país nos próximos quatro anos, terá o poder de influenciar a trajetória das variáveis mais importantes da economia brasileira. Para analistas, um caminho mais árduo, de maior pressão sobre câmbio, inflação e consequentemente juros, deve ser trilhado caso Donald Trump volte à Casa Branca.
Trump e sua adversária, Kamala Harris, fizeram uma campanha de propostas consideradas inflacionárias. Porém, fora a maior agressividade em frentes como imigração e política comercial, a agenda do republicano preocupa pela possibilidade de receber sinal verde no Congresso.
Os economistas estão aguardando o resultado das eleições de hoje para calibrar os cenários. Como Kamala representa basicamente a continuidade do status quo, com seus prós e contras, o ex-presidente é quem coloca mais incertezas nos prognósticos. Quanto maior for a força de Trump para fazer a sua agenda andar na Câmara dos Representantes e no Senado, onde a composição parece ser tão imprevisível quanto a corrida à Casa Branca, maior será o risco.
No campo fiscal, nem Trump, nem Kamala apontam a uma tendência de ajuste das contas públicas, cada um a sua maneira: a vitória do republicano indica menos impostos; a da democrata, gastos elevados. As políticas anti-imigratórias, restringindo a oferta de mão de obra quando o mercado de trabalho ainda não dá sinais claros de afrouxamento, e de protecionismo comercial de Trump colocam um combustível a mais na inflação americana.
Se Trump vencer e conseguir levar adiante as promessas de deportação e de elevação das tarifas, haverá menor margem para o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, cortar os juros. Assim, analistas entendem que Trump significa dólar mais forte, e por extensão juros mais altos nas economias emergentes, incluindo o Brasil.
Independentemente dos fatores domésticos, como as incertezas fiscais no Brasil, o câmbio com Trump pode ter uma diferença de pelo menos 7% em relação ao cenário de vitória de Kamala, aposta o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. “Com Trump, há grande risco de uma conjunção de política fiscal expansionista e forte aumento tarifário, o que é recessivo e inflacionário. Para o Brasil, seria uma pressão maior na taxa de câmbio, com o dólar podendo chegar a R$ 6. Como reação, o Banco Central terá que manter os juros em patamares mais elevados e por mais tempo”, prevê Vale.
“No caso de vitória de Kamala, a tendência é uma descompressão. O câmbio pode cair bem ao longo dos próximos dias. Como seria mais do mesmo, não deve causar nenhuma grande mudança”, compara.
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De acordo com o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, a disparada do dólar nos últimos dias, antecipando um movimento que era esperado para o ano que vem, já é parte do que se convencionou chamar de “Trump Trade” - ou seja, o mercado financeiro já trabalhando com a ideia de que o republicano vai ganhar a eleição. Padovani avalia que, além da expansão fiscal, Trump terá que ser mais ativo e frontal nas promessas de imigração e fechamento comercial. “Temas do mercado de trabalho e dívida em alta ganham força na maior parte dos países e reforçam a alta de juros operacionais”, comenta o economista do BV.
Guerra comercial
No comércio exterior, a vitória de Trump pode aproximar ainda mais o Brasil da China, abrindo espaço para mais exportações de produtos agrícolas ao gigante chinês, dada a tendência de retaliação às tarifas levantadas nos Estados Unidos.
A barreira à entrada nos EUA tende, porém, a desviar ainda mais as exportações chinesas a mercados em expansão, como o Brasil. Colocaria assim o governo brasileiro numa saia justa: ao mesmo tempo em que a dependência das exportações para a China seguiria elevada, haveria maior pressão de produtores brasil
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