Eleição na Argentina: quem são e o que pensam os candidatos à Presidência

O libertário Javier Milei despontou como favorito, e deve disputar a Casa Rosada com a candidata de centro-direita Patrícia Bullrich e o candidato governista Sergio Massa, ministro da economia

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Por Americas Quarterly
Atualização:

Em meio a altos níveis de inflação e polarização política, os cidadãos da Argentina votaram nas PASO, as Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias, prévias presidenciais de 13 de agosto que determinaram os candidatos nas eleições de outubro.

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Os candidatos mais votados foram o deputado Javier Milei, do La Libertad Avanza, o ministro da Economia, Sergio Massa, da coligação peronista Unión por la Patria, e a ex-ministra da Segurança, Patricia Bullrich, da oposição de centro-direita Juntos por el Cambio. O primeiro turno da eleição presidencial será em 22 de outubro e, se necessário, um segundo turno será realizado em 19 de novembro.

Esta pesquisa da Americas Quarterly inclui apenas os três candidatos que venceram as primárias de sua coalizão e foram os mais votados.

O candidato argentino Javier Milei celebra sua vitória nas eleições primárias da Argentina com sua irmã, Karina Milei (à esquerda), e sua vice, Victoria Villarruel (à direita), em Buenos Aires  Foto: Alejandro Pagni/AFP

Javier Milei

Javier Milei tem 52 anos, é deputado, e lidera a coalizão La Libertad Avanza.

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Não sendo um político de carreira, Milei tocou em uma banda cover dos Rolling Stones antes de estudar economia, especializando-se na escola austríaca e trabalhando em finanças.

Ele liderou seu grupo libertário, La Libertad Avanza, para uma vitória surpreendentemente forte em Buenos Aires em 2021, quando foi eleito deputado federal.

POR QUE ELE PODE GANHAR

A incapacidade do governo de centro-direita de Mauricio Macri e do atual governo peronista de esquerda de resolver os problemas econômicos crônicos da Argentina deixou muitas pessoas desiludidas com os dois lados.

O discurso agradou quem está cansado da enorme crise econômica que passa o país e não foi resolvida no últimos governos de Alberto Fernández e seu antecessor Mauricio Macri.

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Isso oferece oportunidade para um “outsider” que parece ter respostas simples e contundentes e é hábil em transmitir sua mensagem por meio das mídias sociais. Milei teve um desepenho mais forte do que o esperado nas primárias de agosto.

POR QUE ELE PODE PERDER

Com sua oposição ao aborto e foco em questões de guerra cultural como criticar o feminismo, Milei pode ser muito radical para a maioria dos eleitores argentinos.

Ele recebeu críticas por suas ausências no Congresso (uma delas supostamente levou à aprovação de um novo imposto).

O próprio movimento libertário está dividido e carece de uma estrutura partidária unificada. Em julho, um promotor federal abriu uma investigação preliminar sobre as alegações de que o partido de Milei vendeu candidaturas em suas listas – Milei negou as acusações.

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QUEM APOIA MILEI

A base de apoio de Milei está concentrada entre os jovens, especialmente homens, mas atravessa classes sociais e inclui setores de baixa renda que tradicionalmente se espera que apoiem o peronismo.

Ele também atraiu o apoio de eleitores que estão fartos do sistema político. Milei escolheu Victoria Villarruel, uma deputada federal de seu grupo político, como sua companheira de chapa.

Javier Milei tem como projeto econômico acabar com o Banco Central argentino e dolarizar a economia Foto: Natacha Pisarenko/AP

O QUE ELE DEVE FAZER

A plataforma de Milei pede o fechamento do banco central, afrouxando as restrições à compra de armas de fogo, dolarizando a economia, introduzindo um sistema de vouchers escolares, privatizando empresas estatais, cobrando por serviços hospitalares públicos, bem como cortes nas pensões.

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A oposição obstinada da esquerda peronista e dos movimentos sociais provavelmente levantaria obstáculos a tal agenda.

Patrícia Bullrich

Tem 67 anos, é ex-ministra da segurança e faz parte do Propuesta Republicana (PRO)

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Bullrich é conhecida como uma das figuras mais conservadoras do partido PRO de centro-direita, que liderou de 2020 a abril de 2023.

Ela serviu por vários anos na Câmara dos Deputados do Congresso e um ano como ministra do trabalho de Fernando de la Rúa no início dos anos 2000. Ela conquistou uma reputação de dura contra o crime como ministra da segurança no governo de Mauricio Macri (2015-19).

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A candidata de centro-direita Patrícia Bullrich discursa no encerramento de sua campanha para as primárias da Argentina  Foto: Luciano González/EFE

POR QUE ELA PODE GANHAR

No que está se configurando como uma eleição anti-status quo, Bullrich é vista por muitos eleitores como diferente, sem ser muito radical.

Suas políticas de segurança ‘mano dura’ aumentaram sua popularidade dentro da coalizão de oposição Juntos por el Cambio.

Bullrich venceu as primárias de sua coalizão contra um concorrente mais moderado, o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta.

POR QUE ELA PODE PERDER

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Suas políticas de segurança específicas, como diminuir as restrições ao uso da força pela polícia, podem ser duras demais para alguns eleitores em um país com memórias profundamente negativas do regime militar.

QUEM A APOIA

Os eleitores de Bullrich tendem a ser de renda mais alta e mais velhos, e muitos vêm do centro da Argentina.

Alguns observadores dizem que a ascensão de Javier Milei empurrou Bullrich ainda mais para a direita, o que poderia aumentar seu apoio entre os conservadores. Bullrich escolheu Luis Petri, ex-deputado federal do partido Unión Cívica Radical, como seu companheiro de chapa.

O QUE ELA PROMETE

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Bullrich disse que envolveria as Forças Armadas para combater o narcotráfico. Ela propôs o uso simultâneo do peso e do dólar americano e disse que reduziria os impostos. Bullrich afirmou que, sob um novo acordo com o FMI, ela eliminaria os controles cambiais o mais rápido possível.

Sérgio Massa

Com 51 anos, é ministro da Economia, faz parte da Frente Renovador e da coalizão governista Unión pela Patria

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Massa, ex-advogado, foi prefeito da cidade de Tigre e chefe de gabinete da então presidente Cristina Fernández de Kirchner.

O ministro da Economia da Argentina, Sérgio Massa, fala sobre medidas para combate à inflação  Foto: Ministério da Economia da Argentina/AFP

Ainda assim, como o presidente Alberto Fernández, ele é visto como uma voz independente dentro do peronismo e às vezes crítico do kirchnerismo.

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Ele concorreu à presidência em 2015, contra um candidato apoiado por Kirchner, terminando em terceiro lugar. Em julho de 2022, o presidente Fernández o nomeou ministro da Economia na esperança de que ele tivesse credibilidade para recuperar a economia.

POR QUE ELE PODE GANHAR

Como ministro da economia, Massa até agora manteve o colapso econômico total sob controle. Em um segundo turno contra Patricia Bullrich ou Javier Milei, ele poderia ganhar apoio apresentando-se como o candidato moderado.

O apoio de um bloco peronista unido é crucial para sua campanha, e Massa venceu as primárias de sua coalizão por ampla margem.

POR QUE ELE PODE PERDER

Até agora, Massa não conseguiu reduzir a inflação descontrolada da Argentina e enfrenta um desafio contínuo em manter unidas as poderosas facções do peronismo.

Ele é um rosto proeminente em um governo que enfrenta números recordes de aprovação. Embora os estrangeiros, principalmente nos Estados Unidos, tenham elogiado sua gestão, ele é menos popular em casa.

QUEM APOIA MASSA

Massa tem o apoio de moderados dentro e fora do peronismo que favorecem políticas econômicas mais liberais. Seus eleitores estão concentrados em áreas urbanas e favorecem seu tipo de liderança pragmática e tecnocrática.

O companheiro de chapa de Massa é Agustín Rossi, atual chefe de gabinete do presidente Alberto Fernández e ex-ministro da Defesa.

O QUE ELE DEVE FAZER

Como um peronista mais ortodoxo, Massa manteria o programa que a Argentina assinou com o FMI em março de 2022, bem como as boas relações que estabeleceu com alguns do setor privado.

Ele pode continuar com algumas das medidas limitadas de austeridade e controles seletivos de preços que implementou como ministro.

Massa sinalizou planos para aprofundar a integração econômica regional ao anunciar que Argentina e Brasil estudariam a criação de uma moeda comum e, em junho, buscou aliviar a dívida externa da Argentina com a renovação de uma linha de swap cambial de US$ 18,4 bilhões com a China.

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