Eleição na Espanha cria labirinto político e deixa indefinido quem governará o país

Apesar de ter vencido nas urnas, o tradicional partido conservador PP não tem assentos suficientes no Parlamento para governar; negociações e impasse podem levar à nova eleição

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

O Congresso que saiu das urnas da Espanha no domingo, 23, e tem de ser constituído até o dia 17 de agosto, criou um labirinto político para o país.

PUBLICIDADE

Os dados são claros: o conservador Partido Popular (PP),  tradicional partido da direita espanhola liderado por Alberto Núñez Feijóo, venceu as eleições e terá 136 cadeiras na câmara baixa do Parlamento da Espanha.

Depois vem o Partido Socialista (PSOE), do atual presidente do governo (premiê), Pedro Sánchez, que obteve 122 cadeiras.

Em terceiro lugar ficou o partido de direita radical Vox, com 33 deputados, e em quarto, a coalizão de esquerda Sumar, que inclui o Podemos, com 31 cadeiras.

Mas ninguém conseguiu o total de 176 assentos para governar, nem com suas coalizões tradicionais. Os conservadores do PP, vencedores, não podem formar um governo de maioria apenas com o partido de extrema-direita Vox, e tterá de negociar com vários nanicos pouco dispostos a formar uma coalizão com o Vox.

Publicidade

Alberto Núñez Feijóo, líder da legenda de direita Partido Popular, gesticula para apoiadores do lado de fora da sede do partido após as eleições gerais da Espanha, em Madri, segunda-feira, 24 de julho de 2023 Foto: Manu Fernandez / AP

Já o bloco de esquerda que apoiou o governo de Pedro Sánchez nestes últimos quatro anos também não chega a 176 cadeiras. Para os Socialistas e Sumaristas reeditarem o governo de coalizão, precisariam de algum tipo de entendimento com os Junts, a legenda separatista catala de Carles Puigdemont, que na última legislatura, ao contrário do ERC, atuou na oposição frontal ao Executivo.

O resultado cria um cenário atípico, em que o vencedor as urnas não pode comemorar, porque segue distante de conseguir formar um governo.

A seguir, entenda três cenários possíveis sobre o que pode acontecer agora.

Um governo de direita na Espanha

Como vencedor das eleições, o candidato do PP, Alberto Núñez Feijóo, reivindicou o direito de governar em minoria e apressou-se em pedir ao Partido Socialista de Sánchez “e às demais forças políticas que não bloqueiem (a formação de um) governo do PP”.

“Não há presidente do Governo de Espanha que tenha governado depois de perder as eleições”, disse Feijóo, em mensagem a Sánchez.

Publicidade

PP e Vox têm 169 cadeiras, mas mesmo com apoio certo da Unión del Pueblo Navarro e da Coligação das Canárias, não chegariam aos 176 assentos.

“O problema do PP é que ele precisa do apoio do Vox e de outros partidos para governar. No entanto, partidos regionalistas como o Partido Nacionalista Basco (PNV) não vão apoiar um governo que inclua a extrema-direita do Vox, que geralmente os ataca e os rotula de inimigos da Espanha”, disse Antonio Barroso, analista da consultoria Teneo.

O PP também poderia chegar a um governo se os socialistas se abstivessem na votação de posse, mas já disseram que não vão fazer isso.

Pedro Sánchez continua no poder

É o que teme Alberto Núñez Feijóo. Apesar de seu partido não ter conquistado tantas cadeiras quanto o PP, o líder do Partido Socialista, Pedro Sánchez, disse com euforia neste domingo: “Boa noite, Espanha, obrigado do fundo do meu coração”.

Disse, ainda, que a direita e a extrema direita na Espanha “foram derrotadas”. “O bloco retrógrado que queria reverter todo o progresso que fizemos nos últimos quatro anos falhou”, acrescentou da sacada da sede de seu partido em Madri.

Publicidade

o atual primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, comemorou o resultado eleitoral do Partido Socialista (PSOE)  Foto: Emilio Morenatti / AP

“Há muito mais pessoas que querem que a Espanha continue avançando do que aquelas que querem dar um passo atrás.”

Segundo partido em número de deputados, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) de Pedro Sánchez, que convocou estas eleições antecipadas após o fracasso de sua formação nas eleições locais de maio, tem 122 cadeiras e pode contar com as 31 de Sumar, seu aliado radical de esquerda.

Para ter alguma chance de se manter no poder, a esquerda também precisará garantir o apoio de pequenos partidos regionalistas e independentes da Catalunha e do País Basco, como o PNV, EH Bildu e Esquerra Republicana, que já o apoiaram após as eleições gerais de novembro de 2019.

Entre eles estão os catalães da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) e os bascos de Bildu, considerados herdeiros políticos da extinta organização armada ETA.

Primeiro-ministro espanhol e candidato do Partido Socialista (PSOE) à reeleição Pedro Sanchez comemora após a eleição geral da Espanha na sede do Partido Socialista Espanhol (PSOE) em Madri em 23 de julho de 2023 Foto: Javier Soriano/AFP

Mas isso não será suficiente: o maior obstáculo no momento, segundo analistas, é o partido JuntsxCatalunya (JxCat). Seus líderes, incluindo o notório apoiador pró-independência Carles Puigdemont, já deixaram claro que tal eventualidade teria um preço.

Publicidade

“Não faremos de Sánchez presidente à toa”, disse neste domingo Miriam Nogueras, representante do partido.

Sánchez precisaria, ao menos, que os sete deputados catalães se abstivessem na segunda votação.

Se essas condições forem atendidas, Sánchez poderá contar com o apoio de 172 deputados, pouco mais que a aliança PP-Vox, mas suficiente em uma segunda votação de posse, na qual é necessária apenas a maioria simples.

Novas eleições na Espanha

Segundo analistas, é a hipótese mais provável. Se nem o bloco de esquerda nem o de direita conseguirem formar governo, serão convocadas eleições, a priori, antes do final do ano.

O novo Parlamento será constituído em 17 de agosto. As partes podem então negociar, sem limite de tempo, para encontrar uma maioria.

Publicidade

No entanto, a partir do momento em que uma votação de investidura falha, o rei Felipe VI tem que dissolver o Parlamento dois meses depois e convocar novas eleições.

Uma situação de bloqueio que a Espanha conhece bem, porque entre 2015 e 2019 o país viveu quatro eleições gerais. /AFP e AP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.