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Eleição na Venezuela expõe diferentes relações de sul-americanos com ditadura de Maduro

Brasil, Colômbia e Bolívia evitam críticas de um lado, enquanto Argentina, Uruguai e Equador pedem eleições transparentes no país

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Foto do author Alvaro Gribel
Atualização:

As eleições na Venezuela têm colocado líderes sul-americanos em posições contrárias em relação ao regime ditatorial de Nicolás Maduro, que tem chances reais de ser derrotado nas urnas no domingo, 28. Enquanto o governo brasileiro, de um lado, evita críticas abertas ao presidente venezuelano, postura semelhante à de países como Bolívia e Colômbia, líderes de Argentina, Paraguai, Uruguai e Equador reforçaram o desejo de uma transição pacífica no país e fizeram críticas mais duras.

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O presidente do Equador, Daniel Noboa, por exemplo, disse que a “velha política” quer manter a Venezuela “sequestrada”. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só criticou Maduro quando este falou em “banho de sangue”, caso perdesse a eleição. Lula disse que ficou “assustado”. Antes o governo brasileiro havia criticado Maduro por impedir candidaturas de opositores, mas não foi um comentário feito diretamente por Lula.

Enquanto líderes críticos a Maduro foram impedidos de entrar no país, o assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, reuniu-se com o governo venezuelano. Foi um encontro “cordial”, disse o chanceler da Venezuela, Yvan Gil. Depois Amorim também se encontrou com opositores.

Opositores agradecem a líderes, mas não citam Lula

Os opositores de Maduro agradeceram a líderes sul-americanos, mas não citaram Lula. Pelas redes sociais, a principal líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado, impedida de concorrer ao pleito pela ditadura chavista, agradeceu as ligações que recebeu dos presidentes da Argentina, Javier Milei, do Paraguai, Santiago Peña, e do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou.

Segundo Corina Machado, que publicou texto na rede social X, Milei “reafirmou seu apoio à nossa causa, aos valores democráticos e à liberdade”. O presidente argentino, crítico aberto da ditadura chavista, tem republicado pelas redes sociais mensagens contrárias ao regime de Maduro.

Lula e Maduro em evento em março deste ano. Foto: Ricardo Stuckert

Na mesma rede, Corina afirmou que Peña, do Paraguai, “expressou seu compromisso com a democracia e a liberdade na Venezuela”, enquanto Pou, do Uruguai, demonstrou “solidariedade à nossa luta pela democracia”.

“Já o dissemos repetidamente: eleições livres, respeito pelos direitos humanos e plena democracia. Seu compromisso e esforço pela causa venezuelana são admiráveis”, escreveu Pou a Corina.

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A proibição de um voo do Panamá que levaria para a Venezuela ex-mandatários latino-americanos que seriam observadores eleitorais e a deportação de outras autoridades aumentaram a tensão antes das eleições deste domingo, 28, nas quais o ditador Nicolás Maduro tenta se manter no poder.

O presidente panamenho, José Raúl Mulino, denunciou que autoridades venezuelanas impediram a decolagem do aeroporto de Tocumen de um voo da Copa Airlines que tinha entre seus passageiros os ex-governantes.

Em uma dura carta pública, o presidente do Equador, Daniel Noboa, disse ver com preocupação que figuras de uma “velha política” - em referência a Maduro - queiram manter a Venezuela “sequestrada” e “alienada” do mundo.

“Aqueles que tentam se manter no poder, indo contra a vontade popular, buscam perpetuar o autoritarismo, a corrupção, a pobreza, a inquietação social e econômica, colocando os seus interesses pessoais acima do bem-estar de milhões de compatriotas”.

Encontro “cordial” entre Brasil e Venezuela

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O assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, encontrou-se na sexta-feira, 26, com o chanceler venezuelano Yvan Gil. Pelas redes sociais, Gil publicou um vídeo do encontro e disse que a reunião foi “cordial”. Segundo ele, foi discutida “a impecável organização do processo por parte do nosso Poder Eleitoral; um dos mais transparentes e seguros do mundo”.

Neste sábado, Amorim se encontrou também com representantes da oposição venezuelana e com integrantes do Centro Carter, organização sem fins lucrativos fundada pelo ex-presidente americano Jimmy Carter.

Em comunicado à imprensa, o Ministério das Relações Exteriores informou ontem sobre o fechamento das fronteiras pelo presidente Nicolás Maduro, entre os dias 26 e 29 deste mês, mas sem reprovação à medida.

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Numa decisão independente do governo, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu não enviar observadores brasileiros para as eleições depois que Maduro levantou dúvidas sobre as urnas de votação do Brasil.

O presidente colombiano, Gustavo Petro, que tem recebido críticas pelo seu silêncio em relação ao processo eleitoral na Venezuela, compartilhou um texto na rede social X em que defende a sua postura. Ainda assim, em viagem a Paris para a abertura dos Jogos Olímpicos, ele próprio não fez declarações sobre o tema.

“Falam do suposto ‘silêncio’ de Gustavo Petro em relação ao processo eleitoral na Venezuela. Eles estão errados. Basta ler o Programa do Governo “Colômbia Potência Mundial da Vida” para compreender que nele há um profundo grito e superação dos modelos de época que ainda persistem nos imaginários da esquerda latino-americana, incluindo os de Maduro na Venezuela”, diz a mensagem.

‘Banho de sangue’

Durante um discurso em um dos atos de sua campanha à reeleição, o mandatário da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que haverá um “banho de sangue” e uma “guerra civil fratricida” caso não vença as eleições. A fala levou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, a criticar Maduro.

“Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue”, disse Lula.

Sem citar explicitamente o presidente Lula, Maduro rebateu no dia seguinte:

“Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila”, afirmou.

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