A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata democrata nas eleições presidenciais Kamala Harris, junto de seu companheiro de chapa, Tim Walz, concedeu sua primeira entrevista aprofundada como candidata nesta quinta-feira, 29, para a a jornalista Dana Bash, da CNN. Na conversa, Kamala falou sobre suas mudanças em suas políticas ao longo dos anos e demonstrou uma postura mais centrista, de olho nos eleitores independentes e moderados.
“Acho que o aspecto mais importante e mais significativo de minha perspectiva e decisões políticas é que os meus valores não mudaram”, disse Kamala na entrevista gravada na tarde desta quinta-feira em Savannah, no Estado da Geórgia, onde faz campanha, ao ser questionada sobre por que havia mudado algumas de suas posições do passado, como imigração e a fratura hidráulica ou “fracking”, um método de extração de hidrocarbonetos denunciado pelos defensores do meio ambiente.
“Sempre acreditei que a crise climática é real, que é um assunto urgente” e que os Estados Unidos devem cumprir “prazos” em termos de emissões de gases do efeito estufa, afirmou a vice-presidente, de 59 anos.
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Kamala concedeu a entrevista acompanhada de seu companheiro de chapa, o governador de Minnesota Tim Walz. Ao longo da entrevista, Walz tentou, na maioria das vezes, superar contradições em declarações do passado, argumentando que a maior preocupação para os americanos são suas posições políticas.
“Não me desculparei por falar com paixão” sobre o controle de armas ou direitos reprodutivos, afirmou ele. “Minha gramática nem sempre está correta”, disse ele, em outro momento.
Kamala também menosprezou as declarações feitas por Trump no fim de julho, quando questionou a identidade racial de Kamala e afirmou que ela havia “se tornado negra” por razões eleitorais. Para Dana, Kamala, que tem ascendência afro-americana e sul-asiática, respondeu rapidamente que a declaração fazia parte do “mesmo jogo cansado de sempre” e pediu pela próxima pergunta..
Defesa de Biden
Kamala foi escolhida para assumir a candidatura democrata depois que seu parceiro de governo, Joe Biden, abriu mão da corrida após críticas sobre sua aptidão para seguir governando aos 81 anos. Durante a entrevista, Kamala relembrou o momento quando soube da decisão de Biden.
“O telefone tocou e era Joe Biden. E ele me contou o que tinha decidido fazer. E eu perguntei, ‘você tem certeza? E ele disse que sim’”, contou a vice-presidente.
Segundo Kamala, o apoio de Biden à sua candidatura foi imediato, destacando o respeito e a confiança mútua entre os dois líderes. “Ele foi muito claro que ia me apoiar”, disse Kamala. “Meu primeiro pensamento (ao receber e ligação) não foi sobre mim, para ser honesta com você. Meu primeiro pensamento foi sobre ele.”
A vice-presidente também rejeitou que tenha qualquer arrependimento sobre seu apoio a Biden enquanto o presidente seguia na corrida. “De forma alguma. Ele tem a inteligência, o comprometimento, o julgamento e a disposição que eu acho que o povo americano com razão merece em seu presidente”, reforçou.
Da mesma forma, o legado econômico de Biden — o teto de vidro dos democratas nas eleições — também foi defendido por Kamala, atrelando a crise econômica à uma má gestão de Trump sobre a pandemia de covid-19.
“Nós estávamos acompanhando os números, centenas de pessoas por dia morriam por causa da covid. A economia tinha desabado. Em grande parte, tudo isso por causa da má gestão de Donald Trump dessa crise. Quando entramos, nossa maior prioridade era fazer o que pudéssemos para resgatar a América”, disse.
Busca por acordo em Gaza
Durante a entrevista, Kamala também foi questionada sobre o conflito entre Israel e grupo terrorista Hamas. A vice-presidente americana foi categórica ao afirmar que seu compromisso com a defesa de Israel não irá mudar, apesar das pressões de alguns setores dos Estados Unidos para que o envio de armas a Israel seja interrompido.
Ela reconheceu, no entanto, a necessidade de um acordo para libertar os reféns. “Muitos palestinos inocentes foram mortos e temos que conseguir um acordo”, afirmou. “Quando você olha a importância disso para as famílias, para as pessoas que vivem naquela região, um acordo não é apenas a coisa certa a fazer para acabar com esta guerra, mas também desbloqueará tanto do que deve acontecer em seguida”, disse a democrata, afirmando que trabalhará por uma solução de dois Estados “onde Israel é seguro e, em igual medida, os palestinos têm segurança, autodeterminação e dignidade.”
Republicanos no gabinete
Na Convenção Democrata na semana passada, como parte de uma estratégia da campanha democrata de tentar conquistar o apoio de republicanos moderados, o ex-deputado Adam Kinzinger, subiu ao palco. De acordo com a candidata, a presença de republicanos também será desejada em seu gabinete, se vencer o pleito.
“Acho que é importante ter pessoas na mesa quando algumas das decisões mais importantes estão sendo tomadas, que têm visões diferentes, experiências diferentes. E acho que seria benéfico para o público americano ter um membro do meu Gabinete que fosse republicano”./Com AFP e AP.
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