Nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, quem decide o vencedor não é o voto popular — pelo menos, não de maneira direta. No processo, quem ganha um papel central na decisão da próxima pessoa que ocupará a Casa Branca é o colégio eleitoral.
O colégio eleitoral é composto por 538 membros, os chamados “delegados”, que são distribuídos entre os Estados de forma proporcional ao seu número de representantes no Congresso. Isso significa que cada Estado tem um número de votos igual à soma de seus deputados na Câmara e senadores, com base na população local. A Califórnia, por exemplo, é o Estado com o maior número de votos eleitorais, com 54, enquanto estados como Vermont e Wyoming têm apenas três votos.
A única exceção é Washington D.C., que tem 3 eleitores mesmo não tendo nenhum integrante votante no Congresso.
Assim, para ganhar a presidência dos EUA, o candidato precisa garantir pelo menos 270 dos 538 votos do colégio eleitoral. Se nenhum candidato atinge essa marca, a eleição é decidida pela Câmara dos Representantes. Isso aconteceu duas vezes na história dos EUA: em 1800, quando a Câmara escolheu Thomas Jefferson após um empate no Colégio Eleitoral com Aaron Burr, e em 1824, quando John Quincy Adams foi escolhido, pois nenhum dos candidatos alcançou a maioria.
Esse modelo de eleição foi criado junto à Constituição americana para que os Estados tivessem mais poder e também para garantir que o Congresso não decida o vencedor.
E o voto dos eleitores comuns?
O voto do eleitor comum segue sendo indispensável. Embora o nome do candidato à presidência apareça na cédula, tecnicamente o voto de cada cidadão é para eleger os representantes do colégio eleitoral que votarão no presidente em seu nome. A ideia por trás desse sistema é garantir que os Estados tenham uma influência balanceada na escolha presidencial, evitando que Estados mais populosos dominem o processo.
Não há nenhuma exigência constitucional para que os delegados votem de acordo com os resultados da votação popular, embora muitos Estados tenham leis que os obrigam a fazê-lo. Em 2020, a Suprema Corte dos EUA decidiu que os Estados podem legalmente exigir que os delegados cumpram o voto popular.
Na maioria dos casos, um vencedor projetado é anunciado ainda na noite da eleição em novembro, depois da votação. Mas a votação real do colégio eleitoral acontece em meados de dezembro, quando os delegados se reúnem em seus Estados.
‘O vencedor leva tudo’
Com exceção de dois Estados – Maine e Nebraska – o sistema do Colégio Eleitoral adota a regra de “winner-takes-all”. Ou seja, o candidato que obtém mais votos populares em um Estado ganha todos os votos eleitorais desse Estado, independentemente da margem de vitória.
Esse modelo pode criar distorções entre o voto popular e o resultado final. Eleições como as de 2000 e 2016 são exemplos de candidatos que perderam no voto popular, mas venceram no colégio eleitoral. Em 2000, George W. Bush foi eleito com 271 votos eleitorais, apesar de Al Gore ter recebido mais votos populares. Já em 2016, Donald Trump repetiu o feito, vencendo Hillary Clinton no colégio eleitoral, apesar de ter perdido no voto popular por quase 3 milhões de votos.
Críticas ao sistema
O colégio eleitoral é frequentemente criticado por permitir que um candidato se torne presidente sem a maioria dos votos populares, o que para muitos coloca em xeque a legitimidade do sistema democrático. Além disso, ele acentua o peso de Estados indecisos – conhecidos como “swing states” –, onde a disputa é mais acirrada e os votos podem fazer toda a diferença no resultado final.
Defensores do modelo argumentam que ele protege os interesses dos estados menores, garantindo que eles tenham voz nas eleições. Sem o Colégio Eleitoral, afirmam, grandes centros urbanos dominariam a escolha presidencial, o que poderia desconsiderar as necessidades e preocupações de áreas rurais e menos populosas.
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