Eleições nos EUA: quem ganhou, quem perdeu e as tendências até agora

Partido Republicano confirma favoritismo na Câmara, mas não garante ‘onda vermelha’ esperada por parte dos eleitores e lideranças; democratas mantém a dianteira na disputa pelo Senado

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Por Redação
Atualização:

Com as urnas fechadas e apurações em andamento por todo o país, os Estados Unidos começam a fazer um balanço dos resultados das eleições de meio de mandato (conhecidas como “midterms”) deste ano, e o que elas podem antecipar sobre os rumos dos partidos e do eleitorado americano para as eleições presidenciais de 2024.

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Enquanto o Partido Republicano caminha com larga vantagem para manter a maioria na Câmara, o Partido Democrata tende a manter o controle do Senado, embora a disputa esteja apertada e o resultado final só seja confirmado em dezembro, quando a Geórgia concluir uma votação de 2° turno entre o reverendo Raphael Warnock (democrata) e o ex-jogador de futebol americano Herschel Walker (republicano).

Com o controle do Congresso ainda em disputa dois dias após o pleito, a principal conclusão até o momento é que a “onda vermelha” alardeada pelos republicanos por semanas antes das eleições não se confirmou. Analistas apontam que Donald Trump foi o maior derrotado na eleição, tendo seu capital político exposto ― o que pode atrapalhar seus planos de concorrer novamente à Presidência em 2024.

Resultados das eleições de meio de mandato mostram a divisão nos EUA. Foto: Gregg Newton/ AFP

Em paralelo às eleições legislativas, importantes disputas estaduais também projetam e enfraquecem lideranças partidárias locais no cenário nacional. As vitórias dos republicanos Ron DeSantis (Flórida) e Greg Abbott (Texas) fortaleceram figuras fora do espectro trumpista do partido, enquanto as derrotas de Beto O’Rourke (Texas) e Stacey Abrams (Geórgia) impediram uma renovação democrata.

Veja os principais resultados e tendências das midterms até o momento:

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Partido Republicano confirma favoritismo e renova controle da Câmara

Mesmo sem a esperada “onda vermelha” nas urnas, o Partido Republicano está confirmando com margem segura o favoritismo na disputa pela Câmara dos Representantes. De acordo com o prognóstico da Associated Press, agência responsável pelas principais medições e projetar vitórias com base nos resultados parciais das apurações nos Estados, os republicanos já conquistaram 207 assentos na Câmara, chegando perto dos 218 necessários para renovar a maioria na Casa, enquanto o Partido Democrata conseguiu apenas 184 até a manhã desta quinta-feira, 10.

Disputa pelo Senado vai até dezembro, com cenário de breve vantagem democrata

Com uma das vagas ao Senado para ser definida apenas no 2° turno, entre o democrata Raphael Warnock e o republicano Herschel Walker, em 6 de dezembro, na Geórgia, o controle da Câmara Alta do Congresso americano só deve ser definido daqui a um mês, uma vez que a disputa segue apertada, com projeções indicando um ligeiro favoritismo do Partido Democrata para reconquistar a maioria, no que seria uma importante vitória para que o presidente Joe Biden não tenha que enfrentar dois anos de mandato com um Congresso totalmente travado por seus adversários.

Projeções de momento indicam que os republicanos já conquistaram 49 cadeiras, enquanto os democratas têm 48. No entanto, o partido do presidente conseguiu uma vitória estratégica na Pensilvânia, a mais importante até o momento, uma vez que anteriormente estava sob domínio republicano. Além da Geórgia, permanecem em disputa Arizona e Nevada, Estados onde os democratas detém os assentos na composição atual do Senado. Mesmo que percam em uma das disputas (com 70% das urnas apuradas em Nevada, o candidato republicano Adam Laxalt lidera com margem inferior a 20 mil votos), os democratas garantem um empate que, na prática, os dá maioria, uma vez que o voto de desempate nono Senado é da vice-presidente, Kamala Harris.

Pessoas caminham perto do Capitólio, em Washington, no dia da votação nos EUA. Foto: Mariam Zuhaib/ AP

Trumpismo parece ter limitado o avanço do Partido Republicano

Tradicionalmente, o partido que ocupa a Presidência costuma perder um número significativo de assentos no Congresso nas eleições de meio de mandato nos EUA. Neste ano, porém, a manutenção de uma das casas do Legislativo pelos democratas está sendo associada, em certa medida, aos oponentes republicanos. Líderes do Partido Republicano tentaram apontar quadros mais centristas para concorrer ao Senado durante as primárias, mas as exigências de Donald Trump para que os candidatos se mostrassem fieis à narrativa da Grande Mentira (que prega que houve fraude eleitoral nas eleições presidenciais de 2021), impediram que muitos desses nomes chegassem à disputa direta com os democratas.

O ex-presidente Donald Trump participa de comício ao lado do candidato ao governo de New Hampshire, Doug Mastriano; candidato republicano foi derrotado nesta terça. Foto: Dustin Franz/ Bloomberg - 05/11/2022

Antes mesmo da eleição, o senador Mitch McConnell, líder da minoria no Senado, havia demonstrado preocupação com a “qualidade” dos indicados de seu partido, enquanto os democratas tentaram incentivar, em algumas disputas primárias, os eleitores republicanos a votarem em candidatos menos moderados.

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A abordagem funcionou em vários casos. Na Pensilvânia, Josh Shapiro, bateu o republicano Doug Mastriano, um republicano pró-Trump. Don Bolduc, outro republicano que usou as mentiras sobre as eleições, perdeu a disputa para o Senado em New Hampshire.

Ron DeSantis conquista reeleição na Flórida e ganha força para 2024

Se o resultado das urnas traz consigo uma carga negativa para o ex-presidente, adversários dentro do Partido Republicano comemoram a própria ascensão no cenário nacional. O mais beneficiado, provavelmente, é o governador da Flórida, Ron DeSantis, que conquistou a reeleição de forma dominante e já foi incluído por analistas americanos na lista de presidenciáveis do partido em 2024.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, é celebrado após ter a reeleição confirmada nesta terça-feira, 8. Foto: Giorgio Viera/ AFP

Representante de uma ala conservadora do partido que defende a “guerra cultural” da direita para combater a esquerda, mas não “subordinada” a Donald Trump, Ron DeSantis cresceu em popularidade em um Estado que já foi considerado um dos campos de disputa mais abertos do país, reelegendo-se com uma margem superior à sua eleição passada. A vitória deste ano foi tão retumbante que ele virou o Condado de Miami-Dade, que não votava em um republicano a governador havia duas décadas.

Democratas não conseguem emplacar nomes em ascensão nas eleições regionais

A vitória moral do Partido Democrata ao evitar uma perda completa de controle do Congresso não esconde o insucesso da legenda em confirmar o que seriam importantes vitórias regionais, tidas como importantes para projetar uma renovação para os próximos anos. Nomes em ascensão no partido, como Beto O’Rourke (Texas) e Stacey Abrams (Geórgia) foram derrotados pelos adversários republicanos nas respectivas disputas pelos governos estaduais.

As perdas foram minimizadas, na avaliação democrata, pela capacidade do partido em mobilizar os eleitores a irem às urnas - em uma eleição de meio de mandato típica, a participação cai cerca de 20 pontos porcentuais em relação a um ano presidencial. Uma pesquisa preliminar da empresa de dados democrata Catalist sugere que este ano se parece com 2018, quando o comparecimento bateu recorde em reação a Donald Trump.

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Proposições sobre aborto e maconha são aprovadas nos EUA

Em paralelo às eleições legislativas e estaduais nos EUA, alguns eleitores americanos também decidiram nas urnas questões sobre aborto e o uso de maconha em determinados Estados do país. Defensores das duas pautas conseguiram aprovar a inclusão de direitos relacionados aos dois temas ou vetar proibições em ao menos seis Estados.

Quatro Estados americanos realizaram consultas sobre aborto: CalifórniaKentuckyMichigan e Vermont. Em todos eles, ativistas pelo direito das mulheres escolherem abortar conseguiram se mobilizar para incluir a questão em Constituições estaduais ou derrubar medidas antiaborto. O consumo recreativo de maconha foi aprovado em Maryland e Missouri ― e rejeitado em três Estados./ AP, NYT e WPOST