Elon Musk amplia sua estratégia de influência política para o Reino Unido, Canadá e Alemanha

Proprietário do X e bilionário da tecnologia tem impulsionado figuras de extrema direita com uma avalanche de postagens nas redes sociais nos últimos dias

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Por Cat Zakrzewski (The Washington Post)

Nos três primeiros dias de 2025, Elon Musk assumiu um papel central na política global por meio de dezenas de postagens rápidas e frequentemente inflamatórias para seus 210 milhões de seguidores no X.

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A pessoa mais rica do mundo pediu a libertação de um radical britânico de extrema direita preso. Ele compartilhou uma publicação pressionando o rei Charles III a dissolver o Parlamento e convocar uma nova eleição geral, enquanto publicava memes e uma série de ataques direcionados ao primeiro-ministro Keir Starmer.

Musk acusou sem provas Starmer de não processar “gangues de estupro” há mais de uma década, um escândalo de exploração infantil que levou o Partido Conservador britânico a exigir uma investigação nacional completa.

Musk republicou uma mensagem de Rupert Lowe, um político do partido Reform UK que atua no Parlamento e afirmou ter passado a sexta-feira conversando com vítimas de gangues de estupro.

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Elon Musk assumiu um papel central na política global Foto: Evan Vucci/AP

“As vítimas, do passado e do presente, não precisam de ‘pensamentos e orações’ de políticos, elas precisam de justiça”, disse Lowe. “Lutaremos por isso no Parlamento.”

Musk também voltou brevemente sua atenção para o vizinho ao norte dos Estados Unidos e elogiou uma entrevista com Pierre Poilievre, um populista de direita que lidera o Partido Conservador do Canadá. Musk afirmou que, na próxima semana, transmitiria ao vivo uma conversa com Alice Weidel, candidata a chanceler pelo Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla original), um partido político de extrema direita que ele apoiou antes das eleições antecipadas no país, marcadas para fevereiro.

No ano passado, Musk dominou a política dos EUA, usando sua vasta fortuna e sua plataforma no X para impulsionar Donald Trump e outros republicanos nas eleições de 2024. Com o Partido Republicano se preparando para retomar o controle da Casa Branca e de ambas as câmaras do Congresso, Musk emergiu mais poderoso do que nunca. Sua fortuna explodiu, e ele agora ocupa uma posição de destaque como braço direito de Trump, influenciando escolhas para o gabinete presidencial e participando de suas conversas com líderes globais.

No novo ano, Musk está demonstrando seu poder político também no cenário global. Ele parece estar aplicando uma estratégia semelhante como a que usou para desestabilizar a política americana, agora promovendo políticos conservadores nos governos dos principais aliados dos Estados Unidos. No entanto, seu desrespeito pela veracidade de suas postagens e sua promoção de figuras de extrema direita e extremistas têm alarmado líderes de centro e de esquerda ao redor do mundo.

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“Elon Musk é cidadão americano e talvez devesse focar em questões do outro lado do Atlântico”, disse o ministro da Saúde, Andrew Gwynne, durante uma entrevista na sexta-feira à emissora de rádio britânica LBC.

Os escândalos de exploração infantil de longa data no Reino Unido, que Musk destacou, tornaram-se um ponto de mobilização para o Reform UK, um partido populista de direita. Uma revisão independente em 2022 concluiu que as agências governamentais locais na cidade de Oldham, na Inglaterra, deixaram crianças vulneráveis à exploração sexual.

Essa revisão seguiu uma investigação anterior, em 2014, que estimou que cerca de 1.400 crianças foram exploradas sexualmente em Rotherham, na Inglaterra, ao longo de mais de 15 anos. Segundo o relatório, a maioria dos perpetradores era de origem paquistanesa, e alguns moradores disseram que tinham receio de identificar a origem étnica dos agressores por medo de serem vistos como racistas.

Embora esses casos históricos de abuso remontem a décadas, o veículo de direita GB News culpou nesta semana o Partido Trabalhista, que está no poder, relatando que a ministra Jess Phillips recentemente rejeitou um pedido para que o governo nacional conduzisse uma nova investigação sobre as gangues de Oldham.

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Gwynne afirmou que o governo está analisando cuidadosamente as recomendações da investigação de 2022. Ele também mencionou que várias investigações locais já foram realizadas sobre as alegações.

“Se Elon Musk realmente prestasse atenção ao que está acontecendo neste país, ele talvez reconhecesse que já houve investigações”, acrescentou Gwynne.

O chefe de Gwynne, o secretário de Saúde Wes Streeting, disse a repórteres: “Algumas das críticas feitas por Elon Musk, na minha opinião, são equivocadas e certamente desinformadas.”

As ações de Musk geraram especulações de que ele poderia buscar financiar políticos conservadores no exterior, após se tornar o maior doador político dos Estados Unidos no ano passado, gastando US$ 277 milhões nas eleições americanas. Em dezembro, Musk se encontrou com o político britânico Nigel Farage no resort Mar-a-Lago de Trump, na Flórida, onde posaram para uma foto em frente a uma pintura de um jovem Trump vestindo um suéter branco.

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Farage, líder do Reform UK, disse à BBC que ele e Musk discutiram questões financeiras, incluindo uma possível doação de até US$ 100 milhões para o partido. Musk afirmou ao Axios que ainda não havia feito a doação e não tinha certeza se seria legal.

Enquanto introduz caos nos sistemas políticos de outros países, Musk tem enfrentado duras críticas por promover figuras de extrema-direita que fizeram comentários racistas. Ele pediu a libertação de Tommy Robinson, ex-líder da Liga de Defesa Inglesa (English Defense League), que durante anos organizou protestos anti-Islã no Reino Unido. Robinson, cujo nome verdadeiro é Stephen Yaxley-Lennon, foi condenado a 18 meses de prisão por repetir uma alegação caluniosa de que um menino sírio refugiado havia atacado garotas inglesas na escola.

O governo da Aledmanha acusou Musk de tentar influenciar as eleições de fevereiro no país, após sua decisão de escrever um artigo de opinião para um jornal alemão sobre seu apoio ao Alternativa para a Alemanha, um partido de extrema-direita classificado pela inteligência alemã como uma organização suspeita de extremismo. Musk escreveu que o partido populista era a “última faísca de esperança para este país” e elogiou sua abordagem em relação à regulamentação, impostos e desregulamentação de mercados.

As inúmeras postagens de Musk, a qualquer hora do dia ou da noite, sobre a política britânica refletem seus esforços recentes para testar sua influência política em Washington. Em dezembro, críticos do bilionário da tecnologia o acusaram de agir como um “presidente sombra” depois que ele usou sua conta no X para pressionar os republicanos da Câmara dos Deputados a rejeitar um acordo bipartidário destinado a manter o governo funcionando. Trump e outros aliados do movimento MAGA rapidamente publicaram sua oposição ao projeto, desencadeando uma crise de paralisação do governo pouco antes do Natal.

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Quando os líderes da Câmara chegaram a um novo acordo para manter o governo funcionando, Musk afirmou que isso foi um sucesso porque o texto do projeto de lei foi reduzido de 1.500 páginas para pouco mais de 100. No entanto, o projeto ficou mais curto porque removeu regras altamente técnicas relacionadas à saúde, enquanto o custo total do acordo mudou muito pouco.

No meio de suas intervenções na Europa e no Canadá, Musk não perdeu de vista a política dos EUA. Ele comemorou a chegada do novo ano em Mar-a-Lago, onde ele e o presidente eleito usaram smokings e dançaram ao som de “YMCA”. Entre memes atacando Starmer e pedidos por novas eleições na Grã-Bretanha, Musk também retuitou uma publicação do presidente da Câmara, Mike Johnson, agradecendo a Trump pelo apoio enquanto ele defendia sua presidência em uma votação conturbada para a liderança da Câmara na sexta-feira. Johnson foi reeleito na tarde de sexta-feira.

Musk também está prestando assistência direta na investigação de uma explosão de um CyberTruck no Dia de Ano Novo, que se acredita ter sido um suicídio, em frente ao Trump International Hotel em Las Vegas.

As interferências internacionais de Musk nesta semana prenunciam como ele pode tentar influenciar os assuntos exteriores de maneira mais direta por meio de seu relacionamento próximo com Trump - especialmente de maneiras que possam beneficiar seus muitos interesses comerciais.

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Na quinta-feira, 2, Musk republicou um tweet dizendo que o Ato de Segurança Online do Reino Unido entrará em vigor em março de 2025. A lei exige que empresas de mídia social, como o X, impeçam que crianças acessem conteúdos prejudiciais e inadequados para sua faixa etária, além de dar aos adultos mais controle sobre o que desejam ver online. Empresas que violarem a lei podem enfrentar multas de até 10% de sua receita global.

“Presidente @realDonaldTrump assumirá o poder bem a tempo”, escreveu Musk. “Graças a Deus.”

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