WASHINGTON - O novo dono do Twitter, o bilionário Elon Musk, reativou na noite deste sábado, 19, a conta do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que havia sido banido permanentemente da rede social após o ataque ao Capitólio por seus partidários, em Washington, em 6 de janeiro de 2021. Desde então, Trump é investigado pelo Congresso americano por ter incitado seus apoiadores a marcharem contra o legislativo americano.
Musk realizou uma enquete na noite de sexta-feira, 18, algumas horas depois de restabelecer, em nome de uma suposta liberdade de expressão, diversas contas de usuários suspensas, vários deles conhecidos por disseminar desinformação. A enquete, que teve duração de 24 horas, registrou mais de 15 milhões de votos na plataforma.
“O povo falou. Trump será reintegrado”, escreveu Musk na rede social após conhecer o resultado final da enquete, em que por uma ligeira maioria – 51,8% - ganhou a opção “sim” ao retorno do político republicano ao Twitter.
Apesar de readmitido, Trump ainda não fez seu retorno oficial à plataforma: a última mensagem publicada é de 8 de janeiro de 2021. Não há sinais de que o vice-presidente retornará à rede.
“É fascinante observar esta consulta!”, tuitou Musk neste, que comemorou a expressividade da votação durante a noite - cerca de um milhão por hora.
Em uma aparição em um vídeo durante reunião da Coalizão Judaica Republicana em Las Vegas, Trump disse que recebia positivamente a consulta de Musk e que era fã do bilionário, mas pareceu refutar qualquer possibilidade de volta ao Twitter, onde tinha mais de 88 milhões de seguidores.
“Gosto dele, sabe. É um personagem e, novamente, gosto de personagens”, disse o ex-presidente.
“Ele postou uma consulta e foi extraordinário... Mas tenho algo chamado Truth Social”, acrescentou, em alusão à rede social de sua propriedade. Sobre se voltaria ao Twitter, disse: “Não penso nisso porque não vejo razão para isso”.
Também neste sábado, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, anunciou ter votado no Twitter a favor de que a conta do ex-presidente americano fosse restabelecida. “Já votei a favor de que Trump possa usar o Twitter. A Estátua da Liberdade não deve ser um símbolo vazio”, escreveu o presidente mexicano na rede social.
O Twitter suspendeu Trump em 8 de janeiro de 2021, dois dias após a invasão de seus apoiadores ao Capitólio, diante do “risco de uma maior incitação à violência”. Na época, Trump fez várias postagens alegando fraude nas eleições que deram a Joe Biden a presidência dos EUA, uma medida que forçou o Twitter a impor seles de “informação falsa” nas postagens.
Musk restaurou a conta menos de um mês depois que o CEO da Tesla assumiu o controle do Twitter e quatro dias depois de Trump anunciar sua candidatura à corrida presidencial de 2024. Não é a primeira vez que ele usa pesquisas no Twitter para tomar decisões de negócios. No ano passado, ele vendeu milhões de ações de sua Tesla depois de perguntar a seus seguidores se deveria.
A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, respondeu à pesquisa de Musk sobre Trump tuitando um vídeo da insurreição de 6 de janeiro. Ela twittou na sexta-feira que, quando Trump usou o Twitter pela última vez, “foi usado para incitar uma insurreição, várias pessoas morreram, o vice-presidente dos Estados Unidos quase foi assassinado e centenas ficaram feridos, mas acho que isso não é suficiente para para você”.
Após o ataque de 6 de janeiro, Trump também foi expulso do Facebook e do Instagram, que são propriedade da Meta Platforms, e do Snapchat. Sua capacidade de postar vídeos em seu canal do YouTube também foi suspensa. O Facebook deve reconsiderar a suspensão de Trump em janeiro.
Ao longo de seu mandato como presidente, o uso de mídia social por Trump representou um desafio significativo para as principais plataformas que buscavam equilibrar o interesse do público em ouvir funcionários públicos com preocupações sobre desinformação, fanatismo, assédio e incitação à violência.
Mas em um discurso em uma conferência em maio, Musk afirmou que a proibição de Trump pelo Twitter foi uma “decisão moralmente ruim” e “tola ao extremo”.
A perspectiva de restaurar a presença de Trump na plataforma segue-se à compra do Twitter por Musk no mês passado - uma aquisição que alimentou a preocupação generalizada de que o proprietário bilionário permitirá que divulgadores de mentiras e desinformação floresçam no site. Musk frequentemente expressou sua crença de que o Twitter havia se tornado muito restritivo ao discurso livre.
Seus esforços para remodelar o site foram rápidos e caóticos. Musk demitiu muitos dos 7.500 funcionários em tempo integral da empresa e um número incontável de contratados responsáveis pela moderação de conteúdo e outras responsabilidades cruciais. Sua exigência de que os funcionários restantes se comprometam a trabalhar “extremamente hardcore” desencadeou uma onda de demissões, incluindo centenas de engenheiros de software, essenciais para o funcionamento da plataforma./AFP e AP
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