O presidente francês Emmanuel Macron expressou “extrema preocupação” com a situação de Mariupol, na Ucrânia, nesta sexta-feira, 18, após uma conversa telefônica com o presidente russo, Vladimir Putin. O gabinete do presidente francês disse que Macron citou o “desrespeito ao direito humanitário, enquanto as negociações entre as delegações russa e ucraniana até agora não produziram nenhum progresso”.
De acordo com as informações, Macron pediu a Putin informações “concretas e verificáveis” sobre o cerco de Mariupol e reforçou o pedido por um cessar-fogo imediato para permitir ajuda humanitária. Mariupol vive o pior cenário da guerra da Ucrânia, com a população privada de aquecimento, eletricidade, sinal de telefone, água e comida. Diversas áreas residenciais foram atingidas por bombardeios desde que o conflito começou, há 3 semanas.
Cerca de 1,3 mil pessoas permanecem presas no porão de um teatro de Mariupol, alvo de bombardeios russos na quarta-feira, segundo autoridades ucranianas. As tropas russas também tiveram como alvo um hospital infantil, uma universidade e outros locais civis. Desde que a guerra começou, no dia 24 de fevereiro, 2,5 mil pessoas já morreram na cidade portuária.
Segundo informações russas, Putin disse a Macron nesta sexta que “as Forças Armadas russas estão fazendo todo o possível para salvar a vida de civis, inclusive organizando corredores humanitários para sua evacuação segura”.
Putin também acusou, durante a conversa com o presidente francês, a Ucrânia de “vários crimes de guerra cometidos diariamente”. Nesta quinta-feira, o presidente russo já havia dito que o Ocidente era “míope” e enxergava esses crimes apenas de um lado. Grupos internacionais de observação de direitos contestam veementemente que esse seja o caso.
Macron foi um dos poucos líderes ocidentais a manter contato consistente com o presidente russo após a invasão russa da Ucrânia. Ele pede que o conflito seja resolvido através da diplomacia. Os dois países - Rússia e Ucrânia - negociam, mas não chegaram a nenhum acordo até o momento.
Pouco otimismo com negociações
Apesar dos sinais de progresso da negociação entre Rússia e Ucrânia, as autoridades ocidentais estão pouco otimistas de que elas tenham avançado ou tratado das questões consideradas mais difíceis. Na quarta-feira, o jornal britânico Financial Times informou sobre um possível acordo de 15 pontos construídos pelos dois países, mas o porta-voz de Moscou, Dmitri Peskov, afirmou nesta quinta, 17, que o jornal estava “incorreto”, mesmo tendo acertado alguns pontos discutidos.
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, levantou sinais com declarações recentes que parecem aceitar que seu país não fará parte da aliança da Otan - uma das exigências russas para o fim da guerra -, apesar da promessa em 2008 e da mudança da constituição ucraniana há três anos para possibilitar a adesão do país à Otan e à União Europeia.
Uma neutralidade da Ucrânia sem a adesão à Otan parece satisfazer uma demanda da Rússia, mas apenas uma delas. Além disso, a Ucrânia afirma que a neutralidade deve ser acompanhada de garantias de segurança contra novas agressões russas. Segundo o jornal New York Times, a dúvida paira sobre como fornecer tais garantias, se alguns dos fiadores são membros da Otan, e como isso seria diferente, na prática, de uma participação na aliança.
Na quarta-feira, Zelenski disse que a neutralidade deve incluir garantias confiáveis que protejam a Ucrânia de ameaças futuras. “Nós podemos e devemos defender nosso estado, nossa vida, nossa vida ucraniana”, disse ele. “Podemos e devemos negociar uma paz justa, mas justa para a Ucrânia, garantias reais de segurança que funcionarão. É preciso paciência.”
Mas Moscou também exige que a Ucrânia aceite a perda da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e aceite que uma grande parte do país no leste – as regiões inteiras de Donetsk e Luhansk, partes das quais são ocupadas por separatistas apoiados pela Rússia - tornem-se repúblicas independentes, como reconheceu este ano o presidente russo Vladimir Putin.
O New York Times afirma que a Ucrânia, no entanto, rejeita o desmembramento do país, o que dificulta ver em que ponto um acordo pode ser construído. /EFE, W.P., NYT
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