Em meio a pico de casos, Chile faz quem chega do Brasil pagar por isolamento

A partir de quinta-feira, quem tiver saído do território brasileiro ou tiver estado nele nos últimos 14 dias terá de baixar um passaporte sanitário e pagar taxa prévia de US$ 418, que cobrirá despesas com hotel e teste PCR

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Com o aumento de novos casos de covid-19 entre os chilenos, viajantes de qualquer nacionalidade que sigam do Brasil para o Chile terão de ficar isolados em um hotel por no mínimo 72 horas, mesmo que apresentem exame negativo realizado antes de entrar no país. Todos os gastos, estimados em US$ 418 (R$ 2.290), ficarão por conta dos passageiros. 

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Depois de 72 horas, se o novo teste PCR realizado no Chile for negativo, o passageiro será liberado para realizar a quarentena obrigatória de 10 dias no seu destino final. Se o resultado for positivo, a quarentena deverá ser realizada no mesmo hotel em que estiver.

Apesar de liderar o processo de vacinação na América do Sul, o Chile registra um aumento dos casos e endureceu recentemente as medidas sanitárias para evitar a disseminação da cepa de Manaus. A medida que aumenta a fiscalização dos viajantes que chegam do Brasil, válida a partir de amanhã, foi determinada no fim de semana pelo Ministério da Saúde chileno. 

Mulher caminha pelo Paseo Bandera, em Santiago; Chile registrou um aumento de 36% dos novos casos nas últimas duas semanas Foto: Esteban Felix/AP

“Estamos muito preocupados coma circulação de novas cepas vindas do exterior, por isso vamos endurecer algumas medidas”, informou o ministro da Saúde, Enrique Paris. No mesmo dia, passará a valer uma quarentena para cerca de 13 milhões de habitantes após aumento de 36% dos novos casos nas últimas duas semanas. 

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Todos que entram agora no Chile precisam apresentar um passaporte sanitário – um aplicativo onde deve ser preenchido o nome, dados, antecedentes sintomáticos, eventuais contatos com alguém que contraiu a covid-19, o país de procedência e anexar o exame de covid negativo. 

“Este passaporte se conecta com nossa rede epidemiológica de casos positivos e cruzamos informações. A partir de amanhã, para baixar esse passaporte sanitário, quem vier do Brasil ou tiver estado no Brasil nos últimos 14 dias, terá de pagar previamente uma taxa de US$ 418 (R$ 2.290)”, disse a subsecretária de Saúde do Chile, Paula Daza.

O valor servirá para arcar com os custos do hotel, do teste PCR na chegada ao aeroporto e do traslado. Os viajantes do Brasil só poderão sair da residência sanitária após o teste negativo, que permitirá continuar a quarentena em casa ou em outro local. Antes, o governo chileno estava bancando os custos dessas residências sanitárias. 

Isolamento no Chile; quarto pago pelo governo Foto: Arquivo Pessoal

O Chile ultrapassou 7 mil casos diários de covid-19 pela primeira vez no sábado. O aumento contrasta com o processo de vacinação bem-sucedido, com mais de 5,5 milhões de pessoas que receberam pelo menos a primeira dose. O governo estima que, até 30 de junho, 80% da população será vacinada. 

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Para a médica Carolina Herrera, especialista em doenças respiratórias da Força Aérea do Chile, o aumento dos casos está ligado a uma confluência de fatores, como viagens de férias, o cansaço da população, falhas de comunicação e a sensação de fim da pandemia com o avanço da vacinação.

Milhares de chilenos viajaram para praias, entre janeiro e fevereiro, época das férias. “Isso causou interações entre pessoas cujo resultado está sendo demonstrado agora em forma de aumento e de pico nas infecções. Nunca havíamos tido mais de 7 mil casos em um dia”, afirmou a médica, lembrando que o número de 172 mortes também foi o mais alto registrado no país. 

Herrera cita falhas na comunicação por parte das autoridades, dos jornais e dos principais programas de TV. “A linguagem permitiu entender que, se houvesse 15 milhões de chilenos vacinados, a circulação do vírus acabaria e estaríamos todos salvos, que não precisaríamos nem de máscara”, disse. “É preciso esclarecer: o fato de estar vacinado não exime da possibilidade de estar infectado. Imunidade não significa nunca mais correr riscos.” 

A epidemiologista Ana Bierrenbach, assessora da organização internacional Vital Strategies, disse que é compreensível que a realidade da pandemia no Brasil preocupe os vizinhos, pois o País tornou-se um “berçário de novas variantes”. Para ela, a melhor saída para o Brasil controlar o vírus seria adotar medidas drásticas. 

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Brasileira elogia hospedagem 

A atriz brasileira Izabela Borges ficou em um dos hotéis sanitários chilenos por 36 horas – tempo para que o resultado de seu teste negativo saísse. Ela definiu o processo como cansativo e curioso, mas necessário. Ela chegou a Santiago às 19h, mas só conseguiu entrar em um dos quartos à 1h por causa das longas filas no aeroporto e os trâmites do traslado para a residência sanitária. 

Izabela explica que os locais têm um sistema próprio de vigilância e seria impossível sair sem ser notado. Ao chegar em um hotel no tradicional bairro de Providência, ela foi direcionada a um quarto com três camas, chuveiro, frigobar, internet e televisão. 

“Venho para o Chile desde 2016 e foi a melhor hospedagem que tive na minha vida”, disse. Ela recebia café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar. Não gostou muito da comida, mas era possível pedir delivery. “Para quem for ficar apenas esperando o resultado do PCR, é tranquilo.” Desde que saiu da residência sanitária, Izabela responde questionários diários do Ministério da Saúde sobre se teve sintomas. 

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O paradoxo da vacinação 

O Chile conseguiu vacinar 30% de sua população com uma dose e 15% com duas, em uma velocidade recorde. Mas o governo começou a relaxar as medidas de prevenção já no início da vacinação. A epidemiologista Muriel Ramírez, da Faculdade de Medicina da Universidade Católica do Norte, diz que a cobertura das vacinas ainda é parcial e a maior imunidade é alcançada somente duas semanas após a segunda dose. Mesmo assim, isso não impede que a pessoa seja infectada. Segundo ela, a vacina é uma ferramenta que evita a doença grave, mas não a transmissão. Por isso, é importante manter as medidas de prevenção./ Com informações da EFE e AFP

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