O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, desembarcou em Moscou nesta terça-feira, 26, para uma reunião de cúpula com o presidente russo, Vladimir Putin em meio a uma nova escalada de tensões dentro do conflito na Ucrânia, que fez o principal diplomata russo mencionar o “risco real” de uma 3ª Guerra.
Nesta segunda-feira, 25, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que tanto a possibilidade de um novo conflito em escala global quanto a de uma guerra nuclear não deve ser subestimada. Em entrevista à televisão russa, o chanceler declarou que “o perigo (de uma guerra mundial) é grave, é real, não pode ser subestimado”.
O novo recrudescimento na retórica russa ao Ocidente ocorre após a visita do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e do secretário de Defesa, Lloyd Austin, a Kiev no domingo, 24. Após uma reunião de cerca de três horas com o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, Austin disse a jornalistas que a Ucrânia poderia vencer a guerra com “o equipamento certo” e “o apoio adequado” -- durante a viagem, as autoridades americanas anunciaram um pacote de ajuda militar adicional a Kiev estimado em US$ 700 milhões (R$ 3,4 bilhões).
Após retornar para a Polônia, na segunda-feira, Austin voltou a fazer declarações que acenderam um sinal de alerta em Moscou.
“Queremos ver a Rússia enfraquecida ao ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia”, disse.
Em declarações que parecem ter sido gravadas após as falas do secretário de Defesa americano, Lavrov afirmou que a Otan está “jogando gasolina no fogo” ao fornecer armamentos aos ucranianos, segundo uma transcrição em russo postada no site do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Na manhã desta terça-feira, o ministro das Forças Armadas do Reino Unido, James Heappey, classificou as declarações de Lavrov como “bravata” e que a chance da Rússia usar armas nucleares de forma tática na Ucrânia é mínima.
“A marca registrada de Lavrov ao longo de 15 anos ou mais em que ele é secretário de Relações Exteriores da Rússia tem sido esse tipo de bravata. Não acho que agora haja uma ameaça iminente de escalada”, disse o ministro em entrevista a BBC.
Heappey também negou alegações do chanceler russo sobre a Otan estar fazendo lutando uma “guerra por procuração” na Ucrânia, e justificou as ajudas militares a Kiev como parte de um esforço bilateral de nações doadoras -- e não uma iniciativa do bloco militar.
Após a troca de hostilidades retóricas entre Rússia e Otan, a viagem de Guterres a Moscou começou com uma reunião com Lavrov, a quem pediu um cessar-fogo o quanto antes. “Estamos extremamente interessados em encontrar caminhos para criar condições para o diálogo efetivo, para um cessar-fogo o quanto antes, para uma solução pacífica”, declarou o secretário-geral da ONU.
No encontro, Lavrov disse que ambos têm “interpretações diferentes” sobre a Ucrânia, mas que isso não impede que os dois dialoguem. O ministro russo afirmou ainda que debateria com o líder da ONU o multilateralismo e o papel da organização.
Agenda em Moscou
À tarde, Guterres se reunirá com Vladimir Putin, com quem deve debater os pontos centrais para colocar um fim na guerra da Ucrânia.
Um dos principais temas que estarão em debate será a situação de Mariupol, a cidade no sul da Ucrânia que a Rússia afirma ter conquistado. As tropas russas seguem cercando o complexo de Azovstal, uma das maiores metalúrgicas da Europa onde milhares de soldados e civis ainda resistem à ocupação.
Desde a semana passada, Kiev e Moscou tentam sem sucesso um acordo para a retirada pacífica dos soldados e civis. Recentemente, Lavrov afirmou que o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, fingia negociar. “É um bom ator, mas se olhar com atenção e ler com cuidado o que ele diz, serão encontradas milhares de contradições”, indicou.
Após a visita à Rússia, o secretário-geral da ONU viaja a Kiev para uma reunião com Zelenski./AFP, NYT e REUTERS
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