Otan lança nova estratégia militar que coloca Rússia como ameaça direta à paz e China como desafio

Em reunião em Madri, aliança atlântica deu início formal à entrada de Suécia e Finlândia no bloco

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Por Redação
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MADRI - A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) declarou a Rússia a “ameaça mais significativa e direta” à paz e segurança de seus membros em seu novo Conceito Estratégico, que substitui o documento de 2010 da aliança, divulgado nesta quarta-feira, 29, em sua cúpula em Madri. Pela primeira vez, os 30 aliados também disseram que a China representa um desafio à segurança e aos interesses da Otan com suas “ambições declaradas e políticas coercitivas”.

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Na reunião, a Otan também deu entrada oficialmente ao processo de adesão de Finlândia e Suécia ao bloco, um dia depois de a Turquia retirar objeções à expansão da aliança na Escandinávia.

“Hoje, os líderes endossaram o novo Conceito Estratégico da Otan, que é publicado enquanto falamos”, afirmou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em entrevista coletiva durante a divulgação do documento. “O atual havia sido acordado em 2010 e este novo é muito diferente do que concordamos na época.”

O secretário detalhou que, enquanto no documento de 2010 a aliança classificava a Rússia como um “parceiro estratégico”, este novo traz o país como “a ameaça mais significativa e direta à nossa segurança”. Outra mudança também foi sobre a China, que no conceito de 2010 nem era citada, agora aprece como desafio aos “nossos interesses, segurança e valores”.

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O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, fala durante sua entrevista coletiva na cúpula da Otan em Madri, Espanha Foto: Susana Vera/Reuters

A Otan também garantiu seu apoio à Ucrânia “pelo tempo que for preciso” para resistir à invasão russa. Após uma cúpula de dois dias em Madri, os 30 membros da aliança condenaram a “crueldade terrível da Rússia, que causa imenso sofrimento humano”.

“Moscou tem total responsabilidade por esta catástrofe humanitária”, acrescentaram os membros em sua declaração final. “A guerra do presidente Vladimir Putin contra a Ucrânia destruiu a paz na Europa e criou a maior crise de segurança na Europa desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o secretário-geral Jens Stoltenberg.

Abrindo as negociações na manhã desta, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou a cúpula de uma das reuniões mais históricas da Otan e prometeu que a aliança – reunida pela primeira vez em 1949 para proteger a Europa contra a União Soviética – estava comprometida em “defender cada centímetro” do território de seus membros, e “mais necessário agora do que nunca”.

Biden também anunciou que os Estados Unidos, pela primeira vez, colocariam forças permanentes no flanco leste da Otan, implantando um quartel-general de guarnição do Exército e um batalhão de apoio de campo na Polônia, posicionando um número não revelado de tropas dos EUA para ação rápida em países ao longo da fronteira com a Rússia.

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O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, discursou por videoconferência na reunião de cúpula e pediu mais ajuda. do Ocidente. “Precisamos de sistemas muito mais modernos, artilharia moderna”, afirmou antes de acrescentar que o apoio econômico “não é menos importante que a ajuda em armas”.

“A Rússia continua recebendo bilhões a cada dia e os gasta na guerra. Nós temos um déficit bilionário. Não temos petróleo nem gasolina para cobrir”, afirmou Zelenski. Ele disse que a Ucrânia precisa de 5 bilhões de dólares por mês para sua defesa.

Enquanto ouvia a promessa de mais apoio, Zelenski lamentou que a política de portas abertas da Otan para novos membros não parecia se aplicar ao seu país. “A política de portas abertas da Otan não deve se assemelhar às velhas catracas do metrô de Kiev, que ficam abertas, mas fechadas quando você se aproxima delas até pagar. A Ucrânia não pagou o suficiente?”

O desafio da China

O novo documento da aliança também jogou luz sobre como os membros enxergam agora a China, bem diferente do conceito de 2010 que nem fazia referência ao país. “As ambições declaradas e as políticas coercitivas da República Popular da China desafiam nossos interesses, segurança e valores”, sustenta o documento que deve orientar a Otan nos próximos anos.

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“A China emprega uma ampla gama de ferramentas políticas, econômicas e militares para aumentar sua presença global e projetar poder, mantendo ao mesmo tempo a opacidade sobre sua estratégia, intenções e desenvolvimento militar”, argumenta a aliança.

O documento também sustenta que a China “procura controlar setores tecnológicos e industriais, infraestruturas críticas e materiais estratégicos e cadeias de suprimentos. Utiliza sua influência econômica para criar dependências”.

A Otan também acusa Pequim de trabalhar com a Rússia para minar a ordem internacional. “O aprofundamento da parceria estratégica entre a República Popular da China e a Federação Russa e suas tentativas de minar a ordem internacional são contrários aos nossos valores e interesses”, sentencia a aliança.

Com a sua inclusão no Conceito Estratégico, a Otan orienta pela primeira vez seu olhar para a força crescente de Pequim, embora o secretário-geral Jens Stoltenberg tenha dito que “a China não é uma adversária”.

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“Mas é claro”, acrescentou, “temos que levar em conta as consequências para a nossa segurança quando vemos que a China investe pesadamente em poder militar moderno, mísseis de longo alcance ou armas nucleares, e também tenta controlar infraestruturas estratégicas, por exemplo o 5G”, a rede de última geração.

Refletindo esta evolução da aliança, a Coreia do Sul e o Japão participam pela primeira vez de uma cúpula da Otan.

Os aliados da Otan durante cúpula em Madri, Espanha Foto: Stefan Rousseau/Reuters

Convite formal à Finlândia e Suécia

Os líderes da Otan convidaram formalmente nesta quarta a Finlândia e a Suécia a se juntarem à aliança, um dia depois que a Turquia retirou suas objeções à adesão, abrindo caminho para o que seria uma das expansões mais significativas da aliança em décadas.

O acordo histórico, após encontro da Turquia com os dois países nórdicos, ressalta como a guerra na Ucrânia saiu pela culatra para o presidente Vladimir Putin, subvertendo os esforços russos para enfraquecer a Otan e pressionando a Suécia e a Finlândia, que eram neutras e não alinhadas por décadas, para os braços da aliança.

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Após semanas de negociações, culminadas por uma reunião de uma hora em Madri, o presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, concordou em suspender seu bloqueio à adesão da Suécia e da Finlândia em troca de um conjunto de ações e promessas de que agirão contra o terrorismo e as organizações terroristas.

“Como aliados da Otan, Finlândia e Suécia se comprometem a apoiar totalmente a Turquia contra ameaças à sua segurança nacional”, disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, fornecendo alguns detalhes do acordo. “Isso inclui ainda alterar sua legislação doméstica, reprimir as atividades do PKK e entrar em um acordo com a Turquia sobre extradição”, acrescentou, referindo-se ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que busca um estado curdo independente em território parcialmente dentro das fronteiras da Turquia.

Stoltenberg confirmou em uma entrevista coletiva hoje que a aliança convidou formalmente a Finlândia e a Suécia a se juntarem depois que a Turquia levantou suas objeções na noite de terça-feira. Agora, as legislaturas de todos os 30 membros atuais devem ratificar a adesão, que pode levar vários meses.

A Rússia respondeu aos anúncios com críticas ao que chamou de agressividade da Otan. O vice-ministro das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, chamou a ampliação da Aliança Atlântica para Finlândia e Suécia de “profundamente desestabilizadora”.

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A incorporação da Finlândia, e seus 1.300 km de fronteira terrestre com a Rússia, fará com que a Otan mais do que dobre seus limites territoriais com este país. Desta maneira, a Rússia terá fronteira com seis integrantes da aliança: Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia - os dois últimos pelo enclave de Kaliningrado - e Noruega./AFP, AP e NYT