Depois de 10 horas de deliberação, o grande júri na Georgia decidiu acusar formalmente o ex-presidente Donald Trump pela tentativa de reverter a derrota para Joe Biden na última eleição. Esse é o quarto indiciamento contra o líder republicano.
Dessa vez, as denúncias atingem 19 pessoas incluindo o ex-presidente e aliados próximos, como Rudolph W. Giuliani, o ex-prefeito de Nova York que atuou como advogado de Trump, e Mark Meadows, que era o chefe de gabinete do republicano.
Ao todo, o indiciamento menciona 41 acusações que vão de extorsão a conspiração para falsificar declarações. Esse é considerado o conjunto mais abrangente de denúncias nos inquéritos contra Trump.
“O réu Donald Trump perdeu a eleição presidencial dos Estados Unidos realizada em 3 de novembro de 2020. Um dos estados onde ele perdeu foi a Geórgia. Trump e os outros réus se recusaram a aceitar que Trump perdeu e, consciente e voluntariamente, se juntaram a uma conspiração para mudar ilegalmente o resultado da eleição em favor de Trump”, diz a acusação.
Por uma pequena margem, Biden garantiu os 16 delegados do Colégio Eleitoral na Georgia. Com isso, ele se tornou primeiro democrata a vencer no reduto republicano desde Bill Clinton, em 1992.
Diante da derrota, o ex-presidente Donald Trump pediu a autoridade eleitoral da Georgia Brad Raffensperger que “encontrasse” votos para ele. O telefonema gravado foi um dos pontos de partida para investigação que durou mais de dois anos. Os promotores também recolheram evidências sobre o esquema envolvendo eleitores falsos, uma lista alternativa de votos do Colégio Eleitoral que daria vitória para Trump.
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A acusação detalhou várias frentes da tentativa de reverter a derrota. A lista inclui mentir para a legislatura da Geórgia; mentir para funcionários do estado; criar falsos eleitores pró-Trump; assediar autoridades eleitorais e violar máquinas de votação, entre outras táticas que teriam sido adotadas por Trump e seus aliados, segundo a denúncia.
A investigação da Georgia ocorreu em paralelo com o inquérito do Departamento de Justiça que também levou Trump a ser acusado de conspirar para interferir na eleição de 2020 este mês. Ele responde ainda pelos documentos secretos encontrados na mansão de Mar-a-Lago, na Flórida, e pela suposta compra de silêncio da atriz pornô Stormy Daniels.
Esses dois últimos processos têm julgamentos marcados para o ano que vem em meio às prévias republicanas. Mesmo com o avanço das investigações, Trump lidera as pesquisas de intenção de voto para disputa interna do partido com ampla vantagem sobre o governador da Flórida, Ron DeSantis. O ex-presidente nega as acusações e alega que seria vítima de uma perseguição.
O ex-presidente tem negado as acuações e alega que seria vítima de uma perseguição. Na noite desta segunda-feira, mesmo antes da acusação ser confirmada ele chamou a promotora Fani Willis, responsável pela investigação de “partidária raivosa”.
“Este último ataque coordenado por uma promotora tendenciosa em uma jurisdição predominantemente democrata não apenas trai a confiança do povo americano, mas também expõe a verdadeira motivação por trás de suas acusações falsas”, disse o ex-presidente em nota ao afirma que a denúncia seria parte de uma suposta campanha para interferir nas eleições do ano que vem.
Trump, classificou sua acusação pelo judiciário da Geórgia como “fraudulenta” e uma “caça às bruxas”. “Para mim, parece uma fraude!”, disse Trump no Truth Social em referência à decisão judicial. “Por que eles não me indiciaram há dois anos e meio? Porque eles queriam fazer isso bem no meio da minha campanha política. Caça às bruxas!”, exclamou ele.
Equipe jurídica de Trump chama acusações de “chocantes e absurdas”
Em uma declaração após a acusação, a equipe jurídica do ex-presidente Donald Trump, sediada na Geórgia, condenou as acusações, chamando os eventos do dia de “chocantes e absurdos” e acusando a promotora distrital do condado de Fulton, Fani T. Willis (D), de construir seu caso com base em “testemunhas que abrigam seus próprios interesses pessoais e políticos”.
Antes da acusação, os advogados - Drew Findling, Marissa Goldberg e Jennifer Little - haviam apresentado contestações legais buscando desqualificar Willis e bloquear a investigação.
Na declaração, eles acusaram o gabinete do promotor público de ter “decidido forçar e apressar essa acusação de 98 páginas”.
“Esperamos ansiosamente por uma análise detalhada dessa acusação que, sem dúvida, é tão falha e inconstitucional quanto todo esse processo.”/The New York Times e The Washington Post
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