WASHINGTON - Hackers ligados à Pequim teriam acessado o e-mail do embaixador americano na China, Nicholas Burns, revelou o The Wall Street Journal, nesta quinta-feira, 20. A invasão é parte de uma suposta operação espiã que atingiu uma série de contas pessoas e coorporativas revelada na semana passada.
Os hackers, que atuavam da China, aproveitaram uma falha na nuvem da Microsoft e usaram um senha roubada para acessar os e-mails no final de maio. A empresa disse que o problema foi corrigido e investiga o incidente.
Quase metade das 25 organizações que tiveram e-mails hackeados são dos Estados Unidos. A lista inclui os departamentos do Comércio e do Estado que, a princípio, são as únicas agências federais dos EUA que tiveram contas acessadas.
Além do embaixador Nicholas Burns, o assessor do departamento de Estado para Ásia Oriental, Daniel Kritenbrink, também foi alvo da invasão de contas.
Os hackers não acessaram os e-mails do chefe da diplomacia americana Antony Blinken, mas o ataque cibernético atingiu os funcionários graduados do departamento semanas de Blinken chegar a Pequim. Na viagem, ele foi acompanhado pelo assessor Daniel Kritenbrink.
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A visita foi a primeira de um secretário de Estado americano à China e tinha o objetivo de abrir um caminho de diálogo entre os representantes de alto nível dos dois países na tentativa de melhorar a complicada relação.
A Microsoft apontou que o ataque foi promovido por um grupo de hackers da China. Mas, apesar dessa informação, as investigações ainda não apontaram quem estaria por trás da invasão. Nesse contexto, Washington tem minimizado o impacto do acesso indevido aos e-mails, sem acusar Pequim diretamente.
Em entrevista coletiva na semana passada, Blinken disse que não poderia discutir os detalhes de uma eventual resposta à invasão. “Além disso e, mais importante, esse incidente continua sob investigação” enfatizou o secretário de Estado americano.
“De modo geral, temos deixado claro à China, assim como outros países, que qualquer ação que tenha como alvo o governo, as companhias e os cidadãos americanos é de grande preocupação para nós e terá uma resposta apropriada”, generalizou Blinken.
A segurança digital é mais um ponto de atrito na conflituosa relação entre Estados Unidos e China na Nova Guerra Fria, que deixa o mundo em alerta.
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O Departamento de Estado americano já apontou que a China teria recorrido a hackers de aluguel em uma abordagem que combinaria espionagem tradicional com fraude e outros crimes.
Mais recentemente, o aplicativo Tik Tok, a rede social chinesa, que conquistou o público americano, em especial os mais jovens foi o alvo de um cerco de Washington e enfrentou ameaças de proibição nos Estados Unidos. Com 150 milhões de usuários nos Estados Unidos - segundo dados divulgados este ano pela própria rede - o aplicativo é investigado por espionagem e enfrentou ameaças de proibição em solo americano.
Outra grande preocupação, nas palavras do diretor do FBI, Christopher Wray, são os avanços da inteligência artificial. No início do ano ele alertou que a China poderia usar a tecnologia para promover a operação de hackers, o roubo de propriedade intelectual e a repressão a dissidentes dentro e fora do país se não for controlada.
A China tem negado as alegações e acusou os Estados Unidos por violações digitais repetidas vezes.
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