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Empresa de espião russo no Rio teve contratos de R$ 26 mil com militares e Cultura entre 2020 e 2022

Contratos têm o valor total de R$ 26.340; segundo a Marinha, compras correspondem a serviços ocasionais para operações de enfrentamento à pandemia

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Foto do author Roberta Jansen
Foto do author Luiz Raatz
Atualização:

RIO - Gerhard Daniel Campos Wittich, o espião russo se passou por um brasileiro de origem austríaca, morou no Rio de Janeiro e abandonou namorada para fugir para Moscou, tinha uma empresa em Curicica, zona de milícia da capital fluminense, que fechou ao menos cinco contratos no valor de R$ 26.340, entre 2020 e 2022,em compras não especificadas com o Ministério (então secretaria) da Cultura, Marinha e Exército.

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Wittich é o terceiro espião russo que usou uma identidade brasileira a ser descoberto dentro e fora do País. Um deles está preso em Brasília e é investigado pela PF.

De acordo com o Portal da Transparência do governo federal, os valores das compras variam entre R$ 3 mil e R$ 8.500. A empresa de Wittich, chamada Rio3D, produzia entre outras coisas, esculturas de resina e chaveiros. Ao Estadão, a Marinha confirmou as compras e as atribuiu a serviços ocasionais durante as operações de enfrentamento à pandemia

“Os produtos adquiridos não comprometeram o sigilo e a segurança das operações da Marinha do Brasil e tampouco atestam qualquer tipo de relacionamento entre a Força e o senhor Gerhard Daniel Campos Wittich”, disse a instituição em nota. O Exército e o Ministério da Cultura ainda não se manifestaram, mas o espaço segue aberto.

A Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro registrou em março de 2020 o contrato social de constituição da empresa. Segundo certidão obtida pelo Estadão, o espião russo se apresenta no documento como brasileiro, solteiro e empresário, morador do bairro de Botafogo, na zona sul do Rio.

O Portal da Transparência, no entanto, registra uma compra da secretaria da Cultura em janeiro daquele ano, no valor de R$ 8.500, anterior à constituição da empresa junto à Jucerj. O contrato foi feito pelo Centro Técnico Audiovisual e os recursos saíram do Tesouro Nacional. O CTA é um órgão do Ministério da Cultura do Brasil, responsável pelo apoio técnico à produção de obras audiovisuais nacionais.

Dos outros quatro contratos, três correspondem à Marinha, por meio do Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais, e um ao Primeiro Batalhão de Polícia do Exército no Rio.

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Segundo o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, a atividade principal da Rio3D é “promoção de vendas”. Como atividades secundárias, surgem algumas especificidades como venda de material de informática, eletrodomésticos, equipamentos de áudio e vídeo, bijouterias, souvenires, artesanatos e obras de arte.

Ainda de acordo com a Jucerj, o espião russo era o único sócio da empresa, que tinha um capital social de R$ 10 mil. Na certidão de criação da empresa, Wittich alegou não ter impedimentos legais para formá-la.

Sumiço na Malásia

O espião russo desapareceu em janeiro, no meio de uma viagem à Malásia, sem mandar mensagens para sua namorada no Rio de Janeiro. Ele teria simulado desaparecimento em janeiro e já estaria de volta a Moscou, junto com sua mulher Maria Tsalla ou Irina Romanova, que teria morado como espiã em Atenas, na Grécia. Os dois teriam deixado namorados locais para trás.

A mídia grega, citando fontes do serviço de inteligência do país, ele era um russo “ilegal”, um espião infiltrado trabalhando para um programa de inteligência de elite, que havia sido treinado durante anos na Rússia para poder se passar por um estrangeiro.

A Grécia acredita que Wittich era um espião ilegal russo com o sobrenome Shmyrev, disse uma fonte ao The Guardian, enquanto sua esposa, “Maria Tsalla”, teria sido identificada como Irina Romanova. Ela se casou com ele na Rússia antes do início de suas missões e adotou o sobrenome dele, afirmam as fontes da Inteligência da Grécia.

Espiões russos no Brasil

Wittich é o terceiro caso nos últimos meses de espiões russos se passando por brasileiros. O caso mais notório é de Sergei Vladimir Cherkasov, que se passou por anos pelo estudante Victor Mueller Ferreira. Ele está preso em Brasília desde o ano passado. Na ocasião, ele tentou entrar na Holanda com a identidade falsa para um estágio no Tribunal Penal Internacional em Haia. Alertadas pelo FBI, as autoridades holandesas o deportaram para o Brasil.

Antes disso, ele estudou na Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, se fazendo passar por brasileiro. Ele também viveu no País, onde conseguiu documentos falsos no Rio de Janeiro, com a ajuda de uma rede de contatos. O caso chamou a atenção da Polícia Federal, que mapeia essa rede russa que possa ter ajudado Cherkasov.

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Um inquérito que tramita na PF em São Paulo aponta para “atos de espionagem” praticados no Brasil, nos Estados Unidos e na Irlanda. Também estão na mira dos investigadores brasileiros crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A pedido da polícia, a Justiça Federal determinou a quebra dos sigilos bancário e de dados, além do confisco de bens que o russo tinha no Brasil. Os agentes já encontraram indícios de outras pessoas envolvidas.

O terceiro caso ocorreu na Noruega, no ano passado, quando o serviço de inteligência local deteve Mikhail Valeryevich Mikushin. Ele se apresentava como o pesquisador José Assis Giammaria na Universidade de Tromsø. Não há registros, até agora, de que ele tenha vivido no Brasil.

Outro lado

A Marinha enviou a seguinte nota sobre o caso:

Em atenção aos seus questionamentos, a Marinha do Brasil (MB), por meio do Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais, informa que adquiriu serviços ocasionais relativos a suprimentos para impressão na empresa 3D RIO - durante as operações de enfrentamento à Covid-19. Os produtos adquiridos, portanto, não comprometeram o sigilo e a segurança das operações da MB e tampouco atestam qualquer tipo de relacionamento entre a Força e o senhor Gerhard Daniel Campos Wittich.

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