Empresários se manifestam contra apoio do governo Lula à investigação de Israel por genocídio

Abaixo-assinado direcionado ao presidente cobra postura ' justa e equilibrada’ diante do conflito

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Foto do author Jéssica Petrovna
Atualização:

Empresários, executivos, pesquisadores e artistas assinaram um abaixo-assinado pedindo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que retire o apoio à ação da África do Sul contra Israel por genocídio. O manifesto direcionado ao petista afirma que a acusação é infundada e cobra a adoção de uma posição justa e equilibrada por parte do governo brasileiro.

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No final da tarde desta quinta-feira, 18, a página da petição no site Change.org mostrava mais de 17 mil assinaturas. A lista inclui nomes de relevo como Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza. Procurada pelo Estadão, ela confirmou o endosso por meio da assessoria.

Trajano está entre as 119 personalidades que apoiaram o manifesto. Também assinam a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie, o empresário e economista Roberto Giannetti da Fonseca, o presidente da Suzano, Walter Schalka, o CEO de O Boticário, Artur Grynbaum, o CEO na Natura, Fábio Colletti Barbosa, o presidente do conselho do Hospital Albert Einstein, Claudio Lottenberg, o presidente do Google Brasil, Fabio Coelho, o cientista político Christian Lohbauer, atriz Bruna Lombardi e a microbiologista Natália Pasternak.

O texto reconhece a complexidade do conflito e o sofrimento da população em Gaza, mas destaca que genocídio, por definição, implica na intenção de exterminar um povo e que esse não é o objetivo de Tel-Aviv. Argumenta que a guerra foi desencadeada pelo ataque terrorista do Hamas que, por outro lado, prega a destruição do Estado de Israel, usa civis como escudos humanos e mantém inocentes como reféns.

“É imperativo avaliar todos os aspectos antes de endossar tal iniciativa, principalmente quando se trata da séria acusação de genocídio”, diz o manifesto. “Instamos, portanto, uma reconsideração desse apoio (grifo original) e a adoção de uma abordagem justa e equilibrada. Enquanto buscamos aliviar o sofrimento em Gaza, é crucial pressionar não apenas Israel, mas especialmente o Hamas, para que cesse o uso de escudos humanos e liberte os reféns”, acrescenta.

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Audiência na Corte Internacional de Justiça sobre a ação por genocídio movida pela África do Sul contra Israel. Foto: AP / Patrick Post

O empresário Charles Putz, autor do manifesto, contou que ideia surgiu a partir de um grupo com empresários no Whats App. “Em essência, o que nós estamos dizendo é que buscamos uma abordagem mais justa e equilibrada. O governo brasileiro cobra Israel, mas não cobra o Hamas”, disse.

Segundo o relato do empresário, o texto foi apresentado diretamente para executivos e figuras públicas. Só no dia seguinte, o abaixo-assinado foi aberto para o público geral. Ainda de acordo com Charles Putz, o manifesto foi encaminhado à Presidência da República, que confirmou o recebimento, mas não deu retorno.

Decisão divergente da tradição diplomática

O respaldo à alegação de genocídio foi considerado divergente da tradição do Itamaraty no conflito árabe-israelense e rendeu duras críticas ao governo Lula. Para citar uma delas, o ex-ministro de Relações Exteriores e professor emérito de Direito da USP Celso Lafer escreveu uma carta endereçada ao chanceler Mauro Vieira em que apontava a decisão como incoerente com a diplomacia brasileira.

Em entrevista ao Estadão, ele explicou que considera leviano acusar Israel de cometer genocídio e alertou que o endosso à ação pode comprometer a imagem do Brasil lá fora.

“O lugar do Brasil no mundo, o tema de sua credibilidade, sobretudo no trato dos grandes temas internacionais, pressupõe coerência e isto passa pela consistência com a qual você se vale do direito nas suas decisões. Você se vale das normas, mas não instrumentaliza a norma”, disse. “Essa decisão compromete a credibilidade internacional do Brasil em muitas instâncias. E complica a presença do Brasil no mundo. É um entre outros equívocos da diplomacia do governo Lula”, completou.

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O governo, por outro lado, disse que condenou os ataques terroristas do Hamas, mas que isso não justifica o que chamou de uso indiscriminado, recorrente e desproporcional da força contra civis. “À luz das flagrantes violações ao direito internacional humanitário, o presidente manifestou seu apoio à iniciativa da África do Sul de acionar a Corte Internacional de Justiça para que determine que Israel cesse imediatamente todos os atos e medidas que possam constituir genocídio”, dizia a nota que confirmou o apoio.

Acusação por genocídio

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A acusação toca em um ponto extremante sensível para Israel. Isso porque o termo genocídio foi cunhado pela primeira para descrever o Holocausto - trauma que está na raiz do apoio internacional à criação do próprio Estado israelense. O caso foi levado à Corte Internacional de Justiça, em Haia, e as primeiras audiências foram realizadas na semana passada.

A África do Sul argumentou que as declarações de autoridades israelenses comprovariam a intenção necessária para determinar o crime de genocídio. Como exemplo, foi apontado o ministro da Defesa, Yoav Gallant, que chamou os palestinos de “animais humanos” ao anunciar o corte de todos os serviços básicos (água, gás, comida e eletricidade) na Faixa de Gaza após o ataque terrorista do Hamas.

“Essas declarações genocidas não são feitas para interpretações ou racionalizações. São feitas por funcionários do Estado e falam de uma política. Se não fossem pretendidos, não teriam sido feitos”, disse o time de Pretória ao expor o seu caso no diante dos juízes.

Bombardeio israelense atinge Khan Younis, Faixa de Gaza, 17 de janeiro de 2024. Foto: AP / Mohammed Dahman

Israel, por sua vez, nega categoricamente. Sua defesa lembra que a ofensiva sobre a Faixa de Gaza foi uma resposta ao ataque terrorista e evoca que o país tem o direito de se defender. Ainda de acordo com Tel-Aviv, o número de civis mortos no conflito é resultado do uso de palestinos como escudos humanos pelo Hamas, não da suposta intenção genocida. “O componente-chave do genocídio, a intenção de destruir um povo no todo ou em parte, está ausente”, rebateram os representantes israelenses na Corte Internacional de Justiça.

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A guerra foi desencadeada pelo ataque sem precedentes de terroristas do Hamas contra Israel em 7 de outubro, quando 1.200 pessoas foram mortas e mais 240 levadas como reféns. Do lado palestino, 85% da população se viu obrigada a sair de casa e passou a viver em abrigos improvisados onde o risco de fome e doenças agrava o drama humanitário. O número de mortos passa de 24 mil, segundo o ministério da saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

O cenário de devastação no enclave aumentou a pressão internacional sobre Israel. Até mesmo os Estados Unidos, seu principal aliado, cobraram ações para proteger os civis em Gaza. Tel-Aviv, no entanto, tem dito que manterá os combates até o fim do Hamas. “Ninguém nos impedirá – nem Haia, nem o eixo do mal e nem mais ninguém”, disse o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, em uma referência ao Irã e aos grupos que Teerã financia (Houthis, no Iêmen, e Hezbollah, no Líbano).

Leia o manifesto na íntegra

Nós, cidadãos preocupados, expressamos nosso descontentamento com a decisão do governo brasileiro de apoiar a ação da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça. Compreendemos a complexidade da situação em Gaza e o sofrimento da população local. No entanto, é imperativo avaliar todos os aspectos antes de endossar tal iniciativa, principalmente quando se trata da séria acusação de genocídio.

Genocídio, por definição, implica a intenção de exterminar pessoas com base em nacionalidade, raça, religião ou etnia. Não acreditamos que seja sua visão ou a percepção geral dos brasileiros que Israel tenha tal objetivo. Pelo contrário, reconhecemos que o conflito teve início com um ataque terrorista do Hamas, que declaradamente busca a eliminação de Israel e de seu povo.

O Hamas utiliza civis como escudos humanos e mantém reféns inocentes, o que contribui significativamente para a complexidade e gravidade da situação em Gaza. Ao apoiar o pedido da África do Sul, o Brasil pode inadvertidamente reforçar uma visão distorcida dos eventos, simplificando uma realidade complexa.

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Instamos, portanto, uma reconsideração desse apoio e a adoção de uma abordagem justa e equilibrada. Enquanto buscamos aliviar o sofrimento em Gaza, é crucial pressionar não apenas Israel, mas especialmente o Hamas, para que cesse o uso de escudos humanos e liberte os reféns. A responsabilidade pela situação deve ser atribuída a todas as partes envolvidas, sem acusações infundadas, como a de genocídio praticado por Israel.

Apelamos por uma atitude que promova a verdade, a justiça e um ambiente propício para negociações de paz duradouras.

Brasil, 15 de janeiro de 2024

Charles Laganá Putz (empresário)

Betânia Tanure (empresária)

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Bruna Lombardi (atriz)

Claudia Sender Ramirez (engenheira e empresária)

Ellen Gracie (ex-ministra do STF)

Emilia Buarque (presidente do Lide Ceará)

Luiza Helena Trajano (presidente do conselho de administração do Magazine Luiza)

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Natalia Pasternak (microbiologista e divulgadora científica)

Patricia Rieper Leandrini Villela Marino (empresária)

Sonia Hess (Empresária, ex-presidente da Dudalina)

Marco Antonio Suplicy (empresário)

Cecilia Dale (empresária e decoradora)

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Marcello Brito (agroambientalista e empresário)

Malvina Muszkat (psicanalista)

Bernardo Parnes (One Partners)

Maria Elena Cardoso Figueira (economista)

Christian Lohbauer (cientista político)

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Susana Muszkat (psicóloga)

Leonardo Viegas (empresário e publicitário)

Tania Casado (psicóloga e professora universitária)

Ingrid Frare (nutricionista)

Artur Grynbaum (CEO de O Boticário)

Monica Rosenberg (advogada)

Carlos Alberto Júlio (empresário e escritor)

Fabio Coelho (presidente do Google Brasil)

Rubens Panelli Junior (empresário)

André Magalhães Pinto (chairman da Ibira Partners)

Marco Antônio Tofanelli (empresário)

José Jacobson Neto (presidente do grupo GP)

Claudio Raupp (empresário)

Mario Anseloni (In Business)

Cassiano Scarambone (CEO da Take4Content)

Oscar Vaz Clarke (empresário)

Milton Longobardi (empresário)

Roberto Oliveira Lima (diretor da Prosus Group)

Rômulo de Mello Dias (empresário)

Sergio de Nadai (sócio-proprietário da De Nadai Alimentação)

Paulo Fagundes de Lima (economista)

João Olyntho (CFO da Jogil Group)

Roger Ingold (empresário)

Pedro Pace (diretor jurídico da Apple Brasil)

Marcos Gouvêa de Souza (Diretor-geral e fundador da Gouvêa Ecosystem)

Roberto Giannetti da Fonseca (empresário e economista)

Paulo Kakinoff (diretor-presidente da Porto Seguro)

Armando Henriques (empresário e conselheiro do grupo Energisa)

Humberto Pandolpho (presidente da Calia Comunicações)

Antonio Rios

Carlos Foz (chairman da Andbank)

Handerson Castro (advogado)

Milton Isidro (CEO da Interdigi Brasil)

Sidney Klajner (Presidente do Einstein)

Cesar Alberto Ferreira (empresário)

Helio Ribeiro Duarte (empresário)

Abramo Douek (CEO do Banco Rendimento)

Manoel Conde (empresário)

Leon Tondowski (engenheiro e empresário)

Georges Schnyder (empresário)

Fernando Terni (Ekho Family Office)

Wilson Roberto Levorato (sócio da AMW Consulting)

Gil Morgensztern(dono da EPL Empreendimentos)

Walter Schalka (presidente da Suzano)

Paulo Meirelles (sócio da TNA Gestão Patrimonial)

Piero Minarde (presidente da Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity)

Rodrigo Abreu (executivo)

Patrice Etlin (Sócio da Advent International)

Alex Szapiro (Diretor no Brasil do SoftBank))

Juarez José Zortéa (Presidente da TransUnion Brasil)

Sergio Cipovicci (diretor comercial Banco Pan)

João Rodarte (jornalista e dono da CDN comunicação)

Israel Aron Zylberman (Cyrela)

Valmir Pedro Rossi (Sirio Libanês)

João Pedro Paro Neto (Mastercard)

Marcos Knobel (cardiologista e presidente da Federação Israelita de SP)

Alexandre Senra (cirurgião plástico)

Jorge Cavalcanti de Petribú (Grupo Petribu)

Guilherme de Noronha Dale

Claudio Lottenberg (presidente do conselho do Hospital Albert Einstein)

Norberto Birman (VGB Partners)

Angelo Augusto de Campos Neto (MOB)

Alexandre Foschine (CFO/ Eleven Consulting)

Avi Gelberg (dono da SYL, empresa de pastilhas de freios)

Raul Doria (presidente da Cine Cinematrográfica)

Roberto Klabin (Membro do conselho de administração da Klabin)

Sergio Degese (diretor da Moet Hennessy no Brasil)

Rui Aquino (empresário)

Ricardo Bloj (presidente da Lenovo)

Thomas Brull (empresário)

Renato Velloso (empresário e dentista)

Francisco Carlos Mazon (CEO na Viação Santa Cruz)

Claudio Carvalho (empresário)

Helio Rotenberg (Presidente da Positivo Tecnologia)

Wilson Ferreira Jr (CEO na Eletrobrás)

Sergio Zimerman (CEO e controlador da Petz)

Dirley Pingnatti Ricci (empresário)

Antonio Rubens Silvino (conselheiro da Ultragaz)

Milton Steagall (presidente da BBF Brasil Bio Fuels S/A)

Armando Aguinaga Lowndes de Souza Pinto

Robert Wong (Consultor)

João Alceu Amoroso Lima (consultor e investidor)

Welder Motta Peçanha (empresário)

Fernando Biancardi Cirne (empresário)

Refuah Shlêma (organização)

Kol Hakavod (organização)

Jean Grinfeld (empresário)

Thais Blucher (psiquiatra)

Luiz Paulo Grinberg (médico e professor universitário)

Luiz Paulo de Azevedo Barbosa (médico)

Angelo Tadeu Derenze (diretor do Shopping D&D)

Filinto Moraes (empresário)

Marcelo Fernandes

Fatima Zorzato (empresário)

Daniel Méndez (presidente da Sapore)

General Francisco Carlos Modesto (general do Comando Militar do Leste)

Moises Cohen (medico e presidente do Instituto Cohen)

Gilson Finkel (CEO da B3)

Renato Veloso (professor universitário)

Dorival Dourado (Conselheiro no BMG)

Marcelo Araujo (Diretor corporativo do Grupo Ultra)

Fábio Colletti Barbosa (CEO da Natura)