Empresas europeias tentam pagar por gás russo sem descumprir sanções da UE

Conflito criado entre sanções econômicas impostas pelo bloco e decreto assinado por Vladimir Putin força distribuidoras de gás e petróleo da UE buscarem opção viável de pagamento

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Por Redação
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Empresas europeias do setor energético admitiram estudar maneiras de continuar pagando a Rússia pelo fornecimento de gás natural, sem descumprir as sanções aplicadas pela União Europeia contra o Kremlin pela guerra na Ucrânia. O posicionamento das empresas, repercutido pela imprensa internacional nesta quinta-feira, 28, vem um dia após a empresa estatal russa Gazprom anunciar a suspensão do abastecimento de gás natural a Polônia e Bulgária.

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Entre os principais consumidores de gás natural russo na UE, empresas de Alemanha e Áustria confirmaram que consideram cumprir um decreto assinado por Vladimir Putin em meados de março, que obriga empresas estrangeiras a pagarem pelo gás natural em rublos, em termos que não descumpram sanções. De acordo com o Financial Times, empresas da Itália, Hungria e Eslováquia também estariam dispostas a seguir a nova norma para evitar a escassez.

Um dos principais compradores de gás russo na Alemanha, a companhia Uniper confirmou ao jornal britânico The Guardian que está em negociações com a Gazprom sobre formas de efetuar o pagamento pelo fornecimento. O processo, ainda de acordo com a empresa, ocorre em cooperação com o governo alemão.

Refinaria da Gazprom nos arredores de Moscou. Foto: Natalia Kolesnikova/ AFP

“A Uniper pode dizer por seus contratos: consideramos possível uma conversão de pagamento compatível com a lei de sanções e o decreto russo. (...) Para nossa empresa e para a Alemanha como um todo, não é possível prescindir do gás russo no curto prazo; isso teria consequências dramáticas para nossa economia”, afirmou um porta-voz da empresa.

Na Áustria, a OMV, empresa do setor de petróleo e gás, também admitiu estar em busca de maneiras de pagar pelo gás natural sem infringir as sanções da UE. “Analisamos a solicitação da Gazprom sobre métodos de pagamento à luz das sanções da UE e agora estamos trabalhando em uma solução compatível com as sanções”, disse a empresa em um comunicado também veiculado pelo The Guardian.

No centro da polêmica sobre a compra e venda do gás russo estão as sanções do bloco europeu a Moscou e o decreto assinado por Putin, que alterou as normas para compra do produto por empresas estrangeiras.

De acordo com a determinação do Kremlin, importadores deveriam abrir uma conta em dólares ou euros no Gazprombank -- instituição financeira voltada para as operações da Gazprom -- e depois uma segunda conta em rublos. Na avaliação da UE, a violação das sanções econômicas começaria a partir do uso da segunda conta.

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A manobra permitiria, segundo autoridades da UE, que o Banco Central russo retivesse o dinheiro pago pelas empresas antes de convertê-lo, utilizando-o como um “empréstimo temporário” para a economia nacional ou para sustentar o rublo. As sanções da UE proíbem qualquer transação de empresas e países europeus com o Banco Central russo.

Uma fonte ouvida em sigilo pela Associated Press nesta quinta-feira confirmou que o entendimento de que Estados membros e empresas europeias que “aplicarem estritamente o decreto” estarão violando as sanções.

As empresas, porém, estão autorizadas a permanecer pagando a fornecedora de gás russa em euros ou dólares, cumprindo seus contratos, explicou a Comissão Europeia. Recomendando que as distribuidoras mantenham o pagamento regular, notificando o Gazprombank de que suas obrigações foram cumpridas.

‘Todos os cenários’ em aberto

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Na Alemanha, um dos países mais dependentes da Rússia no setor energético, o ministro da Economia Robert Habeck declarou na quarta-feira que o governo está considerando “todos os cenários” ao comentar sobre o futuro da refinaria de Schwedt, controlada pela empresa estatal russa Rosneft, e com papel estratégico por fornecer grande parte do petróleo usado em Berlim e arredores.

Habeck disse a repórteres que o objetivo do governo alemão é garantir que o país se torne independente do fornecimento de energia russo, e as empresas estabelecidas para adquirir combustíveis fósseis da Rússia “não são úteis nesse sentido”. Questionado se a Alemanha iria tão longe a ponto de nacionalizar a refinaria, opção prevista em uma mudança regulatória aprovada pelo gabinete nesta semana, Habeck disse que “estamos em uma situação em que o governo deve esperar e se preparar para todos os cenários”./ Com informações de REUTERS e AP

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