As declarações do presidente Lula depois da reunião com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, confirmaram, infelizmente, a minha previsão de que o único avanço desse governo nas relações internacionais será no meio ambiente. No comércio e na adesão à OCDE, o Brasil vai regredir. Quanto à guerra na Ucrânia, vai continuar onde estava.
O chefe de governo alemão mencionou a futura produção de energia de hidrogênio verde pelo Brasil como um caminho de complementaridade e cooperação entre os dois países.
Segundo Lula, Scholz reconheceu na reunião a portas fechadas que a Alemanha está consumindo mais carvão, altamente poluente, por causa das sanções contra o gás russo. Essas duas informações revelam o clima de confiança entre ambos.
Estive com a representante do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha para Política Climática, Jennifer Morgan, quando veio ao Brasil em dezembro, e ela negou o aumento do uso do carvão e considerou o hidrogênio verde uma opção remota demais, por causa das questões logísticas não equacionadas ainda.
Durante a visita de Scholz, a Alemanha anunciou a doação de 100 milhões de euros para conservação ambiental nos primeiros cem dias do governo Lula. A cooperação se esgota aqui. Lula negou o pedido alemão de repatriar munição dos tanques Leopard, para ser enviada para a Ucrânia, porque isso iria, na visão dele, contra a posição do Brasil em favor da paz.
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Lula disse que agora tem “mais clareza da guerra”, que consegue ver que a Rússia está errada, e em seguida provou o contrário: “Quando um não quer, dois não brigam”.
Ao ouvir a tradução, Scholz o olhou com ar de incredulidade. Lula demonstrou mais uma vez não entender que, ao invadir a Ucrânia sem ser provocada, a Rússia só lhe deixou duas opções: a luta armada ou a submissão à tirania russa, que os ucranianos conhecem tão bem.
Quando vejo essa posição do atual e do anterior presidente brasileiro, me pergunto: se o Brasil fosse invadido, eles trairiam o juramento que fizeram, de defender sua soberania?
Lula reiterou a intenção de reabrir as negociações do acordo Mercosul-União Europeia, citando os interesses da indústria e das compras governamentais. Quando um não quer, não há livre-comércio.
O presidente argumentou ainda que, se a OCDE quiser ter o Brasil como membro, terá de rever suas regras. Ora, a razão de existir e a atratividade da OCDE estão precisamente nessas regras de governança e ambiente de negócios. É por isso que elas não são negociáveis.
Quando um não quer, não entra na OCDE. E pode esquecer o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e uma inserção estratégica no Ocidente, com essa visão amoral da ordem internacional.
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