Análise | Enquanto o Líbano se recupera dos ataques de Israel, o futuro é incerto para um Hezbollah ferido

Alguns especialistas afirmam que o ataque israelense deixou o Hezbollah em desordem; outros observam os grandes estoques de armas e o histórico de adaptação para combater as Forças Armadas israelenses, muito mais sofisticadas

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Por Ben Hubbard

Partes do sul do Líbano são ruínas fumegantes. As rodovias estão entupidas com milhares de pessoas fugindo da possibilidade de uma guerra ainda maior entre Israel e a mílicia xiita Hezbollah. Enquanto as cidades e os vilarejos se preparavam para os funerais na terça-feira, o Líbano estava apenas começando a lidar com as consequências de seu dia mais letal em décadas.

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Uma grande onda de ataques aéreos israelenses na segunda-feira, tendo como alvo partes do país onde o Hezbollah domina, matou centenas de pessoas e mergulhou o Líbano em um profundo estado de incerteza sobre o que Israel faria em seguida, até que ponto a milícia foi prejudicada e que tipo de resposta suas forças remanescentes poderiam reunir.

Israel afirmou ter atingido mais de 1.000 locais, principalmente no sul e no leste do Líbano, visando os combatentes e a infraestrutura militar do Hezbollah, o partido político libanês e a milícia que vem combatendo ao longo da fronteira entre Israel e Líbano há 11 meses. Pelo menos 558 pessoas foram mortas nos ataques, incluindo 94 mulheres e 50 crianças, disse o ministro da saúde do Líbano aos repórteres nesta terça-feira, 24.

Imagem desta terça-feira, 24, mostra libaneses em funeral de parentes mortos em ataques aéreos de Israel. Ofensiva israelense no país deixou mais de 550 mortos Foto: Mohammed Zaatari/AP

Esse número representou um marco terrível para o Líbano: segunda-feira foi o dia mais mortal do país desde a guerra civil de 15 anos, que terminou em 1990.

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“As vítimas de um ataque do inimigo israelense na aldeia de Arnoun. Alvo em suas casas!”, dizia um texto do Hezbollah sobre uma foto compartilhada nas mídias sociais de três mulheres mortas em um dos ataques.

O número de mortos fornecido pelo Ministério da Saúde não diferenciou entre combatentes e civis, e os ataques atingiram, em sua maioria, partes do país onde o Hezbollah domina, sugerindo que Israel havia desferido outro golpe violento contra o grupo.

Isso encerrou uma semana em que Israel também explodiu dispositivos eletrônicos distribuídos pelo Hezbollah, pagers e walkie-talkies, matando dezenas de pessoas e ferindo outras milhares, e assassinou um grupo de seus líderes militares em um ataque aéreo próximo a Beirute.

Alguns especialistas em Hezbollah sugeriram que os recentes ataques de Israel debilitaram amplamente o grupo, deixando seus membros desorganizados.

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“Eles não têm opções”, disse Hilal Khashan, professor de ciências políticas da Universidade Americana de Beirute e autor de um livro sobre o Hezbollah. “Israel desarmou o Hezbollah.”

Os ataques ocorridos desde a última terça-feira atingiram duramente tanto a liderança do Hezbollah quanto seus combatentes, ao mesmo tempo em que prejudicaram seriamente sua capacidade de se comunicar e coordenar uma retaliação em grande escala contra Israel, disse ele.

“Agora o Hezbollah está sem cabeça”, disse Khashan. “Israel eliminou a liderança do Hezbollah, de modo que os soldados rasos estão perdidos”.

Imagem do domingo, 22, mostra apoiadoras do Hezbollah carregando fotografia do comandante do grupo, Ibrahim Akil. Akil foi morto durante ataque israelense no sul do Líbano Foto: Bilal Hussein/AP

Outros especialistas reconheceram a gravidade dos golpes, mas foram mais cautelosos ao descartar o grupo tão rapidamente, citando seus grandes estoques de armas e seu histórico de adaptação para enfrentar as Forças Armadas de Israel, que são muito mais avançadas.

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O Hezbollah foi formado com a ajuda do Irã na década de 1980 para combater a ocupação israelense do sul do Líbano, que terminou em 2000. Nos anos seguintes, tornou-se um importante ator político no Líbano e a força militar mais poderosa do país, além de enviar combatentes para ajudar outras forças apoiadas pelo Irã na Síria, no Iraque e no Iêmen. Israel, os Estados Unidos e outros países o consideram uma organização terrorista.

O Hezbollah lançou ataques transfronteiriços contra Israel após o início da guerra em Gaza, em outubro passado, em solidariedade ao Hamas, que também é apoiado pelo Irã. Israel respondeu atacando as instalações do Hezbollah no Líbano, mas, durante muitos meses, os dois lados se esforçaram para manter a batalha confinada principalmente à área da fronteira.

Na semana passada, os líderes israelenses aumentaram drasticamente seus ataques contra o grupo, dizendo que removê-lo da zona de fronteira era a única maneira de as dezenas de milhares de israelenses que fugiram de suas casas na região poderem voltar para casa.

Isso exerce pressão política e social sobre o Hezbollah, mas fará com que o Hezbollah separe a frente de Gaza da frente libanesa? Acho que não

Joseph Daher, professor da Universidade de Lausanne, na Suíça

Um diplomata com conhecimento das conversações destinadas a conter a violência, que falou sob condição de anonimato, disse que Israel estava exigindo que o Hezbollah concordasse com um cessar-fogo ao longo da fronteira entre Líbano e Israel, independentemente do que acontecesse na guerra em Gaza, e que afastasse suas forças e armas da fronteira.

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Joseph Daher, que leciona na Universidade de Lausanne, na Suíça, e escreveu um livro sobre o Hezbollah, disse que Israel aumentou muito a pressão, mas que era improvável que o Hezbollah concordasse com suas exigências.

“Isso exerce pressão política e social sobre o Hezbollah, mas fará com que o Hezbollah separe a frente de Gaza da frente libanesa? Acho que não”, disse ele. “Nem fará com que o Hezbollah retire suas capacidades militares da área de fronteira.”

Até agora, pelo menos, o Hezbollah não parece ter mudado sua estratégia de tentar evitar uma guerra total que poderia causar danos profundos ao movimento e ao Líbano, disse Daher.

“Já estamos em uma forma de guerra, mas eles não querem uma guerra total com Israel”, disse ele. “É por isso que eles estão mantendo uma reação calculada e, até certo ponto, moderada, embora intensificando seus ataques contra Israel, como visto neste fim de semana.”

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Análise por Ben Hubbard

chefe do escritório de Istambul do The New York Times, cobrindo a Turquia e a região

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