Entenda como coleção de relógios Rolex de Dina Boluarte abre nova crise política no Peru

Presidente peruana pediu para prestar depoimento imediatamente, alegando que a investigação sobre suposto enriquecimento ilícito tem levado a uma turbulência política

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Por Redação
Atualização:

LIMA - O Peru se vê envolto em uma nova crise política com a presidente Dina Boluarte, que assumiu após o autogolpe frustrado de Pedro Castillo, sendo investigada por enriquecimento ilícito envolvendo uma coleção de relógios Rolex que lhe rendeu uma operação de busca e apreensão em sua casa e no palácio presidencial. A investigação abre caminho para que a presidente se torne alvo de um pedido de impeachment, embora a oposição não reúna o apoio necessário até o momento.

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No último domingo, 31, o Ministério Público do país determinou que ela mostre os relógios Rolex em sua posse e preste depoimento na próxima sexta-feira, 5. A presidente, por sua parte, pediu para adiantar o seu depoimento para o mais rápido possível, alegando turbulência política provocada pela investigação.

“Recorro ao seu gabinete para solicitar que o meu depoimento seja tomado imediatamente, a fim de esclarecer o mais rapidamente possível os fatos sob investigação”, afirma a mensagem enviada por Boluarte ao Ministério Público peruano através de seus advogados.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, encara uma investigação sobre suposto enriquecimento ilícito Foto: Luis Iparraguirre/Presidência do Peru via Reuters

O pedido de adiantamento ocorre após uma operação de busca e apreensão realizada em sua casa no Palácio do Governo no sábado, 30, onde foram encontrados os relógios. A carta, dirigida ao procurador do país, Juan Carlos Villena, solicita que ele deixe sem efeito a data marcada inicialmente, “diante da turbulência política que se tem verificado em consequência dos diferentes procedimentos que seu gabinete tem levado a cabo”.

A presidente não confirmou, no entanto, se levará ou apresentará os relógios da marca Rolex, objeto da investigação.

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Boluarte estava convocada para mostrar os relógios no Ministério Público na última terça-feira e prestar depoimento na última quarta-feira, mas tinha pedido o remarcação de ambos os compromissos devido a problemas de agenda. Esses cancelamentos levaram à busca na sua casa, onde a operação arrombou a fechadura da porta, e no Palácio do Governo.

A presidente peruana afirmou que a operação foi realizada de forma arbitrária, abusiva e desproporcional, uma vez que colaborava com a investigação. “Nunca houve, como foi dito, qualquer recusa ou rebelião de minha parte diante da investigação; pelo contrário, compareci nesta instância colocando-me à disposição”, alegou Boluarte.

Os relógios

Boluarte está no centro de um escândalo sobre relógios da marca Rolex que não teria declarado como parte de seu patrimônio.

De surpresa, policiais e representantes do Ministério Público entraram na casa de Boluarte, na zona leste de Lima, durante a madrugada de sábado, após derrubarem a porta com uma barra de ferro. Depois, dirigiram-se para o palácio de governo e revistaram o gabinete da presidente, que estava no local no momento da operação.

Embora o Ministério Público não tenha informado se as joias ou outras evidências foram encontradas, a defesa de Boluarte assegurou que os policiais encontraram alguns relógios durante as operações.

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“Não os levaram, foram verificados e fotos foram tiradas. Eram aproximadamente dez, e dentro desse número havia alguns relógios bonitos, mas não posso dizer quantos eram da marca Rolex”, disse o advogado Mateo Castañeda à rádio RPP.

A casa da presidente Dina Boluarte cercada por policiais na madrugada de sábado durante operação de busca e apreensão Foto: Julio Melendrez/EFE

Boluarte, que assumiu a Presidência em dezembro de 2022, começou a ser investigada em 18 de março por suposto crime de enriquecimento ilícito e omissão de declarações em documentos públicos.

Caso o MP ofereça denúncia por enriquecimento ilícito, Boluarte só responderia a um eventual julgamento depois de julho de 2026, quando termina o seu mandato, conforme estabelece a Constituição.

O escândalo, contudo, pode levar a um pedido de impeachment no Congresso, sob alegação de incapacidade moral.

Para que isso ocorra, as bancadas de direita que controlam o Parlamento unicameral e são a principal sustentação da presidente deverão apoiar as bancadas minoritárias de esquerda em uma aliança, teoricamente, difícil de se concretizar.

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No sábado, 26 dos 130 congressistas da bancada de esquerda, entre eles a do partido ao qual pertenceu Boluarte, apresentaram uma “moção de vacância” contra a presidente à Mesa Diretora do Parlamento. Contudo, para que os debates aconteçam, a proposta deve antes ser aprovada por 50 legisladores na semana que se inicia.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, se pronuncia depois qde operação em sua casa na noite no sábado Foto: Melina Mejia/Presidência do Peru via Reuters

Crise política infinita

A investigação soma mais um episódio à prolongada crise política do país que em seis anos já teve cinco presidentes. Situação que começou em 2018, quando, na esteira das investigações da operação Lava Jato no país, o presidente Pedro Pablo Kuczynski renunciou ao cargo.

O envolvimento de empreiteiras brasileiras com contratos sob suspeita no país levou a investigações contra todos os presidentes desde o ano 2000. Três foram presos (Alejandro Toledo, Ollanta Humala e o próprio Kuczynski), e um cometeu suicídio durante uma operação policial (Alan Garcia).

Nos anos seguintes o Peru viveu uma instabilidade política similar à dos anos 80. O sucessor de Kuczynski, Martin Vizacarra, renunciou em 2020 e foi sucedido pro Manuel Merino, que durou poucos meses no cargo e foi substituído por Francisco Sagasti em novembro do mesmo ano.

A eleição de 2021, que deveria trazer alguma estabilidade, elegeu o esquerdista Pedro Castillo. Ele durou pouco mais de um ano no cargo e renunciou depois de tentar dissolver o Parlamento em um golpe de Estado fracassado, levando Boluarte ao poder.

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Boluarte, uma advogada de 61 anos, tenta se manter no cargo desde então apesar da baixa popularidade e falta de apoio político. Pelo menos 49 pessoas foram mortas nos protestos que se seguiram a sua posse./AFP e EFE

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