Às 15h30 desta terça-feira, 17, no Líbano (9h30 no horário de Brasília), vários pagers usados por membros do Hezbollah explodiram praticamente ao mesmo tempo em diversos pontos do país, matando nove pessoas e ferindo pelo menos 2,8 mil.
O ataque massivo levantou imediatamente questões sobre como esses pequenos dispositivos poderiam ter explodido ao mesmo tempo e o porquê de eles serem usados mesmo anos depois de terem sido massivamente substituídos por celulares.
O Hezbollah culpou Israel pelo ataque, mas as Forças de Defesa de Israel se recusaram a comentar se eram responsáveis. Veja abaixo o que se sabe até agora sobre as explosões.
Por que membros do Hezbollah usam pagers?
Membros seniores do Hezbollah usam pagers há anos, mas a prática se tornou mais difundida após os ataques de 7 de outubro, quando o líder do grupo alertou os membros de que a inteligência israelense havia penetrado na rede de celulares.
Em julho, a agência de notícias Reuters noticiou que o Hezbollah havia começado a usar pagers de forma massiva nos últimos meses para comunicação após o uso de celulares ter sido proibido campo de batalha, devido ao receio de que Israel pudesse usá-los para monitorar combatentes.
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Pagers não têm câmeras ou microfones e não dependem de chips para funcionar, sendo um dispositivo de comunicação menos arriscado em termos de segurança da informação.
Como os pagers explodiram?
Vídeos postados nas redes sociais sobre o ataque sugerem que “dispositivos explosivos foram integrados aos pagers”, disse N.R. Jenzen-Jones, diretor da Armament Research Services, uma empresa de pesquisa de armamentos, em uma postagem no X. “A escala sugere um ataque complexo à cadeia de suprimentos, em vez de um cenário em que os dispositivos foram interceptados e modificados durante o transporte.”
Sean Moorhouse, um ex-oficial do Exército Britânico e especialista em descarte de munições explosivas, disse para a Associated Press que os vídeos das explosões sugeriram que uma pequena carga explosiva — tão pequena quanto uma borracha de lápis — havia sido colocada nos dispositivos. Eles teriam que ter sido manipulados antes da entrega, disse o especialista.
Elijah J. Magnier, um analista sênior de risco político baseado em Bruxelas, disse que falou com membros do Hezbollah que examinaram pagers que não explodiram. O que desencadeou as explosões, ele disse, pareceu ser uma mensagem de erro enviada a todos os dispositivos que os fez vibrar, forçando o usuário a clicar nos botões para parar a vibração. A combinação detonou uma pequena quantidade de explosivos escondidos dentro e garantiu que o usuário estivesse presente quando a explosão aconteceu, ele disse.
Onde os ataques ocorreram?
As explosões no Líbano aconteceram principalmente em áreas onde o Hezbollah tem uma forte presença, particularmente em um subúrbio ao sul da capital Beirute e na região de Beqaa, no leste do Líbano.
Outras 14 pessoas ficaram feridas em Damasco, na Síria, devido à explosão de pagers utilizados pelo Hezbollah, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
Quem está entre os mortos pelas explosões?
Ainda não está totalmente claro quem são as nove pessoas que morreram pelas explosões. O ministro da saúde do Líbano, Firas Abiad, disse à rede Al Jazeera do Catar entre as vítimas havia uma menina de 8 anos.
Inicialmente, o Hezbollah divulgou uma declaração confirmando que pelo menos dois membros foram mortos nos bombardeios de pager. Um deles era filho de um membro do Hezbollah no parlamento, de acordo com o oficial do Hezbollah que falou anonimamente. O grupo posteriormente disse ao The New York Times que seis das nove pessoas mortas nas explosões coordenadas eram do Hezbollah.
Entre os mais de 2,7 mil feridos, está o embaixador do Irã em Beirute, Mojtaba Amani. Ele sofreu ferimentos na mão e no rosto quando um pager que ele carregava explodiu. A televisão estatal iraniana afirmou que o diplomata está fora de perigo.
Por que Hezbollah e Hamas atribuem a culpa a Israel?
As explosões aconteceram em meio a tensões crescentes entre Israel e o Hezbollah, apoiado pelo Irã, que trocam fogo na fronteira entre Israel e Líbano desde o ataque de 7 de outubro pelo Hamas que desencadeou a guerra em Gaza.
Mais cedo nesta terça-feira, algumas horas antes das explosões, a agência de segurança interna de Israel disse que havia frustrado uma tentativa do Hezbollah de matar um ex-oficial sênior de segurança israelense usando um dispositivo explosivo plantado que poderia ser detonado remotamente.
Os pagers explodiram um dia depois de líderes israelenses terem alertado que estavam considerando intensificar sua campanha militar contra o Hezbollah. O Ministro da Defesa israelense Gallant disse esta semana que o foco do conflito está mudando de Gaza para o norte de Israel e que o tempo está se esgotando para uma solução diplomática com o Hezbollah, dizendo que “a trajetória está clara”.
Além disso, as capacidades cibernéticas de Israel são bem conhecidas. Em 1996, Yahya Ayyash, o principal fabricante de bombas do Hamas, foi morto ao atender um celular com explosivos, provavelmente parte de uma operação de agentes israelenses, segundo o Washington Post. E em 2012, autoridades dos EUA confirmaram que os EUA e Israel haviam desenvolvido conjuntamente uma arma cibernética conhecida como Stuxnet, destinada a retardar o programa de armas nucleares do Irã. A arma inadvertidamente infectou computadores de controle industrial em todo o mundo.
Os pagers podem ter sido sabotados?
Especialistas ouvidos pelo Washington Post afirmaram que seja pouco provável que as baterias de lítio dos pagers, que tem o tamanho parecido de uma pilha AA, tenham capacidade para causar explosões como as vistas hoje no Líbano.
“Eu já vi incêndios suficientes causados por baterias de lítio para saber que o que estamos vendo nos vídeos publicados não é consistente com um incêndio causado por baterias”, disse Jake Williams, pesquisador de segurança e vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da Hunter Strategy, uma empresa de consultoria em segurança. Em vez disso, o material explosivo pode ter sido colocado dentro das próprias baterias, disse Williams.
O jornal americano The New York Times relatou na noite desta terça-feira, 17, que um oficial dos Estados Unidos e autoridades que receberam detalhes da operação afirmaram que Israel plantou material explosivo dentro de um lote de pagers fabricados em Taiwan e importados pelo Líbano.
Segundo o jornal, os pagers, que a milícia xiita libanesa havia encomendado da marca Gold Apollo em Taiwan, foram modificados antes de chegarem ao Líbano, de acordo com alguns dos oficiais, que falaram sob condição de anonimato ao jornal pela sensibilidade do assunto. A maioria era do modelo AP924 da empresa, embora três outros modelos da Gold Apollo também estivessem incluídos na remessa.
Hezbollah vai retaliar?
O Hezbollah prometeu retaliar contra Israel. O grupo ameaçou uma “punição justa”. “Contemos o inimigo israelense totalmente responsável por essa agressão criminosa que também atacou civis”, disse um comunicado.
O ministro das Relações Exteriores do Líbano, Abdallah Bou Habib, disse que o país estava se preparando para uma grande retaliação do Hezbollah. “O Hezbollah definitivamente vai retaliar em grande estilo. Como? Onde? Não sei”, disse.
O que Israel falou sobre as explosões?
Não houve comentários imediatos dos militares israelenses sobre as explosões.
Os EUA tiveram envolvimento?
O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Matthew Miller, disse que os Estados Unidos “não estavam cientes desse incidente com antecedência” e não estavam envolvidos. “Neste ponto, estamos reunindo informações”, disse ele. Ele acrescentou que é “muito cedo para dizer” como isso afetaria as negociações de cessar-fogo em Gaza./Com Washington Post, The New York Times e Associated Press.
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