As Forças Armadas de Israel realizaram o maior ataque em duas décadas dentro da região da Cisjordânia na manhã desta segunda-feira, 3. Embora as ofensivas na região tenham aumentado desde o ano passado, a atual se difere de anteriores devido à realização de ataques aéreos antes do envio de tropas terrestres.
É a segunda vez desde o fim da segunda intifada palestina em 2005 que uma operação militar na região é feita desta maneira. A primeira vez também é recente, em uma operação feita há duas semanas.
As duas exemplificam como o conflito tem escalado na região e remetem aos períodos mais violentos entre israelenses e palestinos. Mais do que isso, apontam para o risco de uma nova fase sangrenta na Cisjordânia e dificultam o processo de paz entre as partes.
Últimos acontecimentos na Cisjordânia
Durante a madrugada, ataques aéreos promovidos por Israel atingiram infraestruturas na cidade de Jenin, na Cisjordânia. Segundo o Exército, as infraestruturas atingidas estavam sendo utilizadas por militantes palestinos para planejar ataques contra soldados israelenses. Em seguida ao ataque, forças terrestres avançaram sobre a área. Pelo menos oito palestinos morreram.
O Exército israelense alega que a operação pretende capturar armas e militantes palestinos, considerados terroristas por eles. Jenin, que tem 17 mil habitantes, é vista como refúgio de centenas de combatentes de grupos militantes como Hamas, Jihad Islâmica Palestina e Fatah.
Um porta-voz do exército, o tenente-coronel Richard Hecht, disse que a operação israelense também pretende “quebrar a mentalidade de segurança” do campo de refugiados. Segundo Israel, pelo menos 19 pessoas suspeitas de ataques a israelenses encontraram abrigo lá nos últimos meses.
Leia mais
Circunstâncias da invasão
Os conflitos entre israelenses e palestinos na Cisjordânia voltaram a escalar no ano passado, no momento em que Israel passou a ter o governo mais à direita de sua história. As operações das Forças Armadas de Israel se tornaram cada vez mais frequentes, com a justificativa de que visam militantes palestinos responsáveis por planejar e realizar ataques contra israelenses.
A violência começou a aumentar em concomitância com o avanço do governo israelense sobre a Cisjordânia ocupada. Nos primeiros seis meses do governo de Binyamin Netanyahu, cerca de 13 mil novas unidades habitacionais receberam o aval do governo para serem construídas ou regularizadas na área, segundo o grupo antiassentamento Peace Now.
Esse é o maior número registrado desde 2012, quando o grupo começou a monitorar sistematicamente a construção judaica no território ocupado. Essa expansão nos assentamentos dificulta a resolução do conflito e é vista por muitos países como uma violação do direito internacional.
No norte da Cisjordânia, nominalmente sob o governo da Autoridade Palestina, grupos armados palestinos começaram a crescer durante esse período, com a adesão de jovens que não reconhecem o presidente palestino Mahmoud Abbas, e os ataques contra israelenses aumentaram. A resposta do governo de Netanyahu foi realizar operações militares mais agressivas, que resultam na atual situação.
Israel argumenta que tais operações são necessárias para evitar ataques terroristas, enquanto os palestinos dizem que uma ocupação aberta e intensificada, sem horizonte para resolução política, torna a violência inevitável.
Semelhanças com conflitos anteriores
Nos primeiros seis meses deste ano, 140 palestinos e 30 israelenses foram mortos, segundo organizações humanitárias. Esse número é um dos mais altos desde 2005, ano em que a segunda intifada palestina chegou ao fim. Esse conflito foi caracterizado por cerca de 5 anos de combates contínuos que incluíram invasões terrestres e ataques aéreos de Israel em território palestino e gerou uma crescente militarização de ambos lados.
Embora a dinâmica tenha mudado, dizem observadores, os fundamentos do conflito entre Israel e Palestina são os mesmos – ocupação, desespero e violência implacável.
Em toda a Cisjordânia, “a frustração e o desespero generalizados do público estão presentes” para outro levante palestino, disse Tahani Mustafa, especialista do International Crisis Group. “Acho que vai ser muito mais sangrento, muito mais difuso, muito mais fragmentado.”
Durante a segunda intifada, Jenin ficou conhecida pelos israelenses como a “capital dos homens-bomba”. Segundo Israel, cerca de 30 ataques terroristas foram cometidos por pessoas da cidade. Isso levou à Batalha de Jenin, em 2002, durante a qual as forças israelenses bombardearam e invadiram o campo de refugiados. Mais de 20 israelenses e 50 palestinos foram mortos nos combates.
Violência em outras localidades
Manifestações em solidariedade a Jenin foram realizadas em toda a Cisjordânia, incluindo no campo de refugiados de Askar, em Nablus, e no campo de refugiados de Deheisheh, perto de Belém. Em confrontos no posto de controle de Beit-El, perto de Ramallah, um homem de 21 anos foi morto a tiros pelo exército israelense.
Em antecipação ao lançamento de foguetes retaliatórios da Faixa de Gaza, o Exército já reforçou seu sistema de defesa antimísseis no sul de Israel.
O Hamas e a Jihad Islâmica Palestina em Gaza condenaram os ataques e pediram em um comunicado conjunto que os moradores da Cisjordânia protejam Jenin.
Embora a Jihad Islâmica tenha dito em um comunicado separado que “todas as opções estão sobre a mesa”, ainda não está claro se os dois grupos estão dispostos a um confronto mais amplo. /Com NYT, W.P. e AP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.