PARIS - Expert em política alemã e em relações europeias, o cientista político Josef Janning, diretor do escritório de Berlim do European Council on Foreign Relations, foi assediado nesta quarta-feira, dia 7, dia em que a chamada “groko" – sigla alemã para “grande coalizão” foi oficializada. Para o especialista, a chanceler Angela Merkel chega enfraquecida a seu quarto mandato, em razão da dependência do Partido Social-Democrata (SPD) na formação do novo gabinete. Mas, ao contrário de alguns analistas, Janning acredita que a líder da União Democrata-Cristã (CDU) poderá ir até o fim de seu mandato, completando 16 anos no poder.

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A grande coalizão ainda terá de ser avaliada pelos militantes do SPD. Quais são suas chances de sucesso?
É muito possível que a grande coalizão se confirme, mesmo que ainda não seja certo. Ambos os lados, em especial suas lideranças, querem o acordo, o que deve levá-lo ao sucesso. Mas a questão é se a posição do líder do SPD, Martin Schulz, prevalecerá. Schulz terá de ganhar o debate interno, e esse debate será controverso. Essa é a razão pelo qual o resultado está em aberto. Os delegados do partido disseram sim, mas solicitam renegociações decisivas, o que reabriu as discussões. A segunda possibilidade de fracasso é de parte dos militantes, consultados em um referendo interno, como o que era desejado por alguns líderes, como Sigmar Gabriel, há quatro anos. Eles terão de explicar aos militantes por que mudaram completamente sua opinião.
Na Alemanha, cogita-se que Angela Merkel seja incapaz de governar os quatro anos, embora tenha alta capacidade de adaptação. O Como o senhor avalia suas chances?
Em termos relativos, Angela Merkel é capaz de manter a coalizão nos próximos quatro anos. É claro que ela está mais fraca, porque o CDU não conseguiu a maioria no Parlamento. Mas essa é a dinâmica da política na Alemanha. Merkel está no posto há muito tempo, e isso leva a um desgaste. É verdade que a chanceler não é mais muito fresh, e as pessoas não esperam nenhuma surpresa de sua parte. Mas no interior do partido, no CDU, não há contestação sobre sua liderança.
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Logo suas chances são altas?
A “Groko" (sigla para "grande coalizão", em alemão) é quase uma garantia de que Angela Merkel seguirá no comando até o último dia do mandato, ou ao menos até o último dia da coalizão. E o SPD deverá insistir para que Merkel fique no poder. Para que o partido tenha chances nas próximas eleições, seus líderes desejarão que o CDU não passe por uma renovação e que acabe mais desgastado ao longo dos próximos anos.
Muito se fala que a nova coalizão será favorável à reforma da União Europeia. Qual é sua opinião?
A nova grande coalizão será definitivamente muito favorável a Macron. Eles dirão sim às reformas, e a França estará no centro dessas reformas. A nova grande coalizão será muito explícita em sua política pró-Europa, pró-integração. Por outro lado, o governo será muito seletivo no número de temas que serão passíveis de reformas, como a criação de um European Monetary Fund, por exemplo.
Macron propôs também um orçamento europeu, sob liderança de um ministro europeu das Finanças. Essa proposta é vista como realista do lado alemão?
Não há apoio à criação do orçamento europeu, como proposto por Macron, mas talvez para agências que serão encarregadas de realizar reformas, com orçamento e objetivos claros. Entre os lados alemão e francês, haverá um certo acordo sobre reformas e agências capazes de patrociná-las, mas sob estrita regulação legal.
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