CARACAS - Seis dos oito americanos detidos na Venezuela foram libertados nesta sexta-feira, 31, após uma reunião entre o enviado especial do governo Donald Trump e o ditador venezuelano Nicolás Maduro em Caracas, anunciaram os Estados Unidos.
“Estamos saindo e correndo e indo para casa com esses seis cidadãos americanos. Eles tinham acabado de falar com @realDonaldTrump e não conseguiam parar de agradecê-lo”, disse Richard Grenell no X, sem identificar os liberados.
“Acabei de ser informado que traremos seis reféns da Venezuela para casa. Obrigado a Ric Grenell e toda a minha equipe. Ótimo trabalho!”, disse Trump na rede social.
Oito cidadãos americanos, incluindo um militar, e dois cidadãos de outras nacionalidades com residência nesse país estavam encarcerados na Venezuela, segundo a ONG Fórum Penal, dedicada à defesa de presos políticos. As autoridades os acusam de conspirar contra Maduro e planejar atos de violência.
Richard Grenell, o enviado de missões especiais de Trump, chegou nesta sexta-feira em Caracas para se reunir com Maduro. Segundo a Casa Branca, o objetivo do encontro era convencer o ditador a aceitar a repatriação de todos os criminosos venezuelanos “sem impor condições” e libertar “imediatamente” os cidadãos americanos presos pelo chavismo. Caso contrário, alertaram os EUA mais cedo, haveria ”consequências”.

Maduro propôs no encontro o que chamou de “Agenda Zero” para “um novo começo nas relações bilaterais”, segundo um comunicado do governo venezuelano.
A reunião no Palácio Presidencial de Miraflores ocorreu em meio a uma renovada crise política devido aos questionamentos de Washington sobre a reeleição de Maduro, em julho do ano passado, denunciada pela oposição como fraudulenta.
A Casa Branca esclareceu, no entanto, que a visita não deve ser vista como se os EUA estivessem dando legitimidade ao terceiro mandato de Maduro.
Em seu primeiro mandato, Trump liderou uma campanha de “pressão máxima” contra a Venezuela, em um esforço para derrubar o regime chavista. Mas desde que voltou ao poder, há dúvidas sobre como seu relacionamento com Maduro pode evoluir, especialmente em razão da necessidade de cooperação para sua campanha de “deportação em massa” de imigrantes.
“Esperamos que todos os países do planeta cooperem com os EUA”, disse mais cedo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt. De acordo com ela, Grenell foi à Venezuela com duas “diretrizes” de Trump.
“Primeiro, ele foi instruído a identificar um local e garantir que os voos de repatriação de cidadãos venezuelanos que violaram as leis de nosso país, aterrissem na Venezuela”, disse. “Em segundo lugar, garantir que todos os detidos pelos EUA na Venezuela voltem para casa.”
Mauricio Claver-Carone, o enviado especial de Trump para a América Latina, seguiu a mesma linha. Nesta sexta-feira, antes da reunião, ele declarou em entrevista coletiva que o governo americano espera que Maduro “leve de volta os criminosos e membros de gangues venezuelanos exportados”.
Claver-Carone garantiu que a visita de Grenell “não muda” as prioridades do presidente americano “com relação à Venezuela e ao que ele gostaria de ver no país”. Ele insistiu que a Venezuela “tem de aceitar os criminosos, que são sua responsabilidade”.
Não está claro, no entanto, se receber os membros deportados do Tren de Aragua seria uma concessão tão grande de Maduro, já que muitos especialistas suspeitam que a gangue tenha relações com o chavismo – tanto que, desde 2023, o regime sinaliza disposição de cooperar com os americanos na extradição dos criminosos.
Outro problema nas ameaças dos EUA é que resta à diplomacia americana pouca margem de manobra na Venezuela, já que o chavismo é alvo de sanções de vários tipos. O único setor que tem sido poupado de restrições é a indústria do petróleo, que o governo americano tem sido cauteloso em punir.
O tema é sensível, porque a Chevron, gigante petrolífera americana, tem licença para explorar petróleo na Venezuela. Na semana passada, Trump disse que seu governo, provavelmente, interromperia a compra de petróleo da Venezuela, o que poderia pressionar o preço dos combustíveis nos EUA. Ontem, o jornal Financial Times informou que a Chevron está tentando proteger sua licença.
O CEO da empresa, Mike Wirth, disse que está em contato com a Casa Branca. “Se a Chevron for forçada a sair da Venezuela, a China e a Rússia ganharão influência no país, que é membro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo)”, disse Wirth./AFP, NYT e AP