Há três anos no Brasil, Hossein Gharibi afirma, nesta entrevista exclusiva, que não se devem medir esforços para interromper as agressões e a escalada da atual situação humanitária
O embaixador do Irã no Brasil, Hossein Gharibi, diz em entrevista exclusiva ao Estadão que o destino de mais de dois milhões de pessoas está em alto risco e que a comunidade internacional tem o dever de impedir que o conflito se alastre.
Há três anos no Brasil, ele respondeu por escrito às questões enviadas pelo jornal. O país, que está sob embargo de Washington, é acusado por ocidentais de “patrocinar” atividades de grupos terroristas como o Hamas na região.
Gharibi afirma que todos devem se esforçar para impedir o massacre de palestinos e que esforços não devem ser medidos para interromper as agressões e diminuir a tragédia humanitária.
Quais as chances de o conflito Israel-Hamas se alastrar na região envolvendo outros países do Oriente Médio?
Esforços intensos devem ser feitos para interromper as agressões e diminuir a escalada da atual situação humanitária. A comunidade internacional tem um dever firme nesse sentido.
O senhor acredita que o Irã e outros países podem entrar na guerra, se Israel invadir a Faixa de Gaza por terra?
O destino de mais de 2 milhões de pessoas está em alto risco. Todos nós devemos nos esforçar para impedir o massacre e o genocídio atuais por todos os meios possíveis, antes que seja tarde demais. O agressor não rejeitou a intenção de praticar um genocídio generalizado. A política cruel de negar alimentos, água, combustível, remédios e quaisquer outras necessidades vitais aos habitantes de Gaza é a violação mais grave do direito humanitário na história contemporânea.
O Irã não considera o Hamas um grupo terrorista e é acusado pelo ocidente de ajudá-los....
A luta das pessoas sob ocupação estrangeira não pode ser considerada terrorismo. Caso contrário, toda a história da humanidade deveria ser reescrita. Essa história envolve a luta dos combatentes pela liberdade para salvar sua terra e seu povo e para combater o apartheid. Os esforços legítimos das pessoas que sofrem com a opressão, a ocupação, os assassinatos diários, a tortura, o sequestro, as pressões econômicas etc. são amplamente respeitados. Rotular esses esforços como terrorismo não pode mudar a essência da questão.
Acreditamos que todos os países que amam a liberdade e que se preocupam com a dignidade humana, a soberania e os direitos humanos de pessoas oprimidas por mais de sete décadas devem manter seu firme apoio para melhorar essa situação dolorosa do povo palestino. Eles merecem uma vida digna como as outras pessoas.
Desta vez, foi o Hamas quem iniciou esta guerra ao disparar mísseis contra Israel, entrar em território israelense, sequestrar e matar civis. Por que o Irã considera os israelenses responsáveis pela escalada de violência?
Precisamos ver a história completa, bem como todos os aspectos e antecedentes desse prolongado conflito na Palestina. Negar o destino do povo palestino, que tem sofrido agressões constantes, ataques aterrorizantes, destruição de suas casas, escolas e mesquitas, e até mesmo arrancar suas árvores diariamente, não ajudará em nada. Basta olhar para o número de crianças mortas somente em 2023. A situação sempre foi horrível para os palestinos. A vida em Gaza não era inicialmente normal e todos sabiam disso.
O senhor acha que não havia mais nenhuma outra alternativa que não o bombardeio do território israelense, que sequestrar e matar civis?
A comunidade internacional, especialmente a Assembleia Geral da ONU e o Conselho de Segurança, emitiu centenas de resoluções e decisões para solicitar que o regime sionista interrompa suas atrocidades; nenhum desses apelos, mesmo que poucos deles tenham contado com o apoio do governo dos EUA, foi aceito por esse regime. Quantas vezes a comunidade internacional solicitou a esse regime que parasse de construir assentamentos nas terras palestinas ocupadas? Já se passaram 75 anos: quando a opressão e a ocupação vão parar? O povo palestino tem sofrido nos últimos 75 anos com as atrocidades e os crimes impiedosos e brutais do regime israelense. Não é a primeira vez e, provavelmente, não será a última vez que Gaza está sendo submetida a bombardeios e ataques tão selvagens. Precisamos pensar em uma solução duradoura para garantir paz e estabilidade duradouras. A política do apartheid não sobreviverá.
Houve muitas alternativas, inclusive as iniciativas fornecidas pelas Nações Unidas. Todas essas alternativas foram rejeitadas pelo regime de ocupação. Todos nós testemunhamos que as posições desse regime se tornaram mais radicais e extremistas por conta própria. A única opção que tem sido empregada por esse regime é a força militar e a violência. A força brutal não pode suprimir a causa de uma nação orgulhosa.
Quais são as chances de um cessar fogo e o que pode ser feito para que isso aconteça?
Várias partes estão tentando interromper a situação atual e aliviar o sofrimento da população de Gaza. No entanto, uma paz duradoura está à vista se houver uma determinação forte e firme de todos os principais participantes para acabar com a agressão e a ocupação.
A ONU sempre esteve envolvida em esforços bons e construtivos. O problema é que o regime sionista, embora confiante no apoio incondicional e generoso dos Estados Unidos, não reage positivamente a nenhuma iniciativa de paz. A menos que essa máquina de guerra sofra sérias restrições, uma paz justa não se tornará realidade. Esperemos que nosso sonho comum de paz se torne realidade em um dia não muito distante.
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