CAIRO - Equipes de resgate da Holanda e do Japão trabalhavam nesta quinta-feira, 25, para tentar desencalhar o cargueiro Ever Given no Canal de Suez. A embarcação de 400 metros de comprimento bloqueou a passagem em uma das rotas comerciais mais importantes do mundo, que liga Europa e Ásia, causando um prejuízo diário de US$ 9,6 bilhões. O gigantesco navio porta-contêiners Ever Given encalhou na quarta-feira, 24. A embarcação mede, em comprimento, o mesmo que o Empire State Building tem de altura.
A estimativa das perdas, segundo o Lloyd’s List, jornal britânico especializado em indústria marítima, tem como base o total do tráfego diário em direção ao Mediterrâneo – US$ 5,1 bilhões – somado aos US$ 4,5 bilhões que seguem diariamente para o Mar Vermelho. Especialistas, no entanto, dizem que o prejuízo pode ser ainda maior. Nesta quinta-feira, segundo autoridades egípcias, havia 185 navios parados, aguardando a passagem por Suez.
Nesta quinta-feira, enquanto dragas escavavam a areia e a lama sob a embarcação e enormes rebocadores tentavam puxar o meganavio capaz de transportar 218 mil toneladas, uma das empresas de resgate alertou que os trabalhos podem demorar semanas. A empresa japonesa Shoei Kisen Kaisha, proprietária do Ever Given, admitiu que enfrenta uma “dificuldade extrema” para desencalhar o navio e pediu desculpas pelo transtorno.
Equipes de resgate da Holanda e do Japão foram contratadas para traçar um plano para fazer o navio voltar a flutuar e sair do local. A Evergreen Marine Corp, de Taiwan - que opera a embarcação - disse que a empresa holandesa Smit Salvage e a japonesa Nippon Salvage foram indicadas pelo armador do navio. Elas trabalham ao lado de seu capitão e SCA.
A operação, no entanto, pode demorar até semanas, segundo Peter Berdowski, diretor executivo da Royal Boskalis - controladora da empresa holandesa contratada. "É realmente uma baleia muito pesada na praia, por assim dizer", afirmou Berdowski em um programa de TV na Holanda, na noite de quarta-feira. E completou: "Não quero especular sobre isso, mas pode levar dias ou semanas."
Ainda de acordo com o diretor-executivo do grupo holandês, uma série de fatores estão sendo avaliados para definir a estratégia de desencalhe, considerando o tamanho do navio e o peso de sua carga. "Vamos examinar a quantidade de petróleo que ele leva, a quantidade de água. São cálculos complexos", disse. As equipes estudam reduzir a carga do navio, retirando combustível, água de lastro ou mesmo os contêineres.
"A Evergreen Line continuará a coordenar com o armador e a Autoridade do Canal de Suez para lidar com a situação com a maior urgência, garantindo a retomada da viagem o mais rápido possível e para mitigar os efeitos do incidente", disse a empresa em um comunicado.
Prejuízo econômico
Local do encalhe, o Canal de Suez é uma das principais rotas de comércio marítimo do mundo, ligando Europa e Ásia, sem a necessidade de contornar o continente africano - o que representa 6.000 km a menos entre Cingapura e Roterdã. Quase 19.000 embarcações usaram o Canal de Suez ano passado, segundo a SCA.
Um incidente como o desta semana tem grandes consequências, porque 10% do comércio marítimo internacional passa por esta via, segundo os especialistas. O bloqueio do canal provocou um aumento de quase 6% no preço do petróleo na quarta-feira, motivado pelos temores sobre o abastecimento. "As consequências sobre os preços dependerão da duração do bloqueio", afirmou Bjornar Tonhaugen, da consultoria Rystad.
"Nunca vimos nada como isto antes, mas é provável que o congestionamento tome vários dias ou semanas, para ser reabsorvido, pois deve ter um efeito cascata sobre os outros comboios, horários e mercados mundiais", afirma Ranjith Raja, diretora de pesquisas sobre o petróleo do Oriente Médio e o Mar na empresa Refinitiv, que compila dados financeiros e outras informações.
Quanto aos custos de desencalhar o navio, a Evergreen informou que, como a embarcação é fretada, todas as responsabilidades "pelas despesas incorridas na operação de recuperação, responsabilidade de terceiros e o custo do reparo (se houver) é do proprietário", que é o grupo japonês Shoei Kisen.
O encalhe
O Ever Given, um navio de mais de 220 mil toneladas que seguia para Roterdã procedente da Ásia, encalhou na madrugada de terça-feira para quarta-feira e ficou atravessado, bloqueado na ala sul do Canal de Suez. Os especialistas citam os ventos fortes como uma das causas do incidente com o cargueiro de 60 metros de altura. A SCA também mencionou uma tempestade de areia, um fenômeno comum no Egito nesta época do ano, que reduz a visibilidade e provocou o desvio do navio.
O tamanho do cargueiro complica as operações, afirma Jean-Marie Miossec, professor da Universidade Paul-Valéry de Montpellier (França) e especialista em transporte marítimo. As autoridades devem levar o tempo necessário para "manobrar bem", disse.
A empresa Bernhard Schulte Shipmanagement (BSM), que tem sede em Cingapura e é responsável pela gestão técnica do Ever Given, informou que os 25 membros da tripulação estão a salvo. Não há contaminação nem danos na carga do navio, que tem capacidade para mais de 20 mil contêineres.
Especialistas citam os ventos fortes como uma das causas do incidente com o cargueiro de 60 metros de altura. A Autoridade do Canal de Suez disse que uma tempestade de areia, um fenômeno comum no Egito nesta época do ano, que reduz a visibilidade, pode ter provocado o desvio do navio./ AFP, NYT e REUTERS
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