PUBLICIDADE

Sem poder oferecer vagas em ‘home office’, serviço secreto alemão vive escassez de espiões

Presidente do Serviço Federal de Inteligência alemão disse que a falta de home office e a impossibilidade de levar o celular pessoal para o trabalho são ‘desafios’ para a agência

PUBLICIDADE

Por Victoria Bisset

Os aspirantes a espiões enfrentam muitos desafios - desde dominar as difíceis habilidades técnicas ou linguísticas que as agências de inteligência buscam até uma nova vida de sigilo que os espera se forem aceitos.

PUBLICIDADE

Mas, de acordo com o chefe do serviço de inteligência estrangeiro da Alemanha, seus potenciais recrutas têm preocupações mais mundanas: a falta de home office e a impossibilidade de levar o celular pessoal para o trabalho.

“Não podemos oferecer certas coisas que hoje são tidas como certas”, disse Bruno Kahl, presidente do Serviço Federal de Inteligência, ou BND, em uma conversa transmitida ao vivo na segunda-feira. Ele chamou o recrutamento de um “grande desafio” para a agência.

O trabalho remoto é “quase impossível” para os trabalhadores da agência por motivos de segurança, continuou ele, e a ideia de não poder levar celulares para o trabalho “é pedir muito aos jovens candidatos a emprego hoje”.

O presidetne do Serviço Federal de Inteligência da Alemanha (BND) Bruno Kahl, em uma audiência no Parlamento alemão, em Berlim  Foto: Hannibal Hanschke / via Reuters

Ele notou a falta de recrutas para certas funções em ciência e tecnologia, especialistas cibernéticos e falantes de árabe, e disse que o BND está usando “novos métodos” para recrutar dentro de grupos-alvo específicos.

Ele também citou uma competição por trabalhadores qualificados com outros empregadores com melhores salários. “Apenas três anos atrás, antes do coronavírus, eu sempre poderia dizer que temos 10.000 aplicantes todos os anos e podemos escolher o melhor deles - o que também não era suficiente; ainda assim, havia déficits”, disse ele.

O BND não respondeu ao pedido de comentário do The Washington Post na terça-feira. As observações de Kahl parecem refletir uma demanda mais ampla por flexibilidade entre os trabalhadores mais jovens desde a pandemia, à medida que outras agências de inteligência em todo o mundo se adaptam às novas demandas da força de trabalho moderna e aumentam suas táticas de recrutamento.

Publicidade

No ano passado, as três principais agências de inteligência do Reino Unido – MI5, MI6 e GCHQ – anunciaram o fim da exigência de que os candidatos tivessem pelo menos um pai britânico. Agora eles devem ter apenas cidadania britânica, e o MI6 diz em seu site de recrutamento que sua “política de trabalho flexível significa que você pode ter compromissos pessoais”.

Sinais de proibido fotografar e e usar celulares em prédio do BND, na Alemanha Foto: Tobias Schwarz/Reuters

No início deste ano, a CIA disse que os problemas de segurança deixam “poucas chances de trabalhar em casa ou em qualquer outro local inseguro”. Mas a agência acrescentou que pretende melhorar a flexibilidade de outras maneiras.

A CIA também tentou novas abordagens em casa e no exterior, desde a publicação de vídeos de recrutamento no YouTube até o lançamento de uma campanha de mídia social em russo para recrutar novos espiões. O GCHQ lança regularmente quebra-cabeças para o público que deseja ter uma noção dos desafios envolvidos em seu trabalho.

O governo federal dos EUA também tem buscado novas maneiras de atrair talentos, incluindo feiras de empregos e mais estágios, à medida que sua força de trabalho envelhece. Uma pesquisa YouGov realizada de agosto a setembro de 2021 em 14 países descobriu que 49% dos trabalhadores na Alemanha gostariam de trabalhar em casa pelo menos parte do tempo. Nos Estados Unidos, o número era de 66%.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.