O secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, lamentou nesta sexta-feira a publicação de reportagens sobre a existência de um programa secreto do governo que espionou as transações financeiras internacionais de milhares de pessoas. As declarações de Snow confirmam a postura adotada pela administração Bush ao ser procurada pelo The New York Times para comentar as informações obtidas pela reportagem do jornal, que denunciou o esquema na noite desta quinta-feira e foi pressionado para não publicar a história. "Seguindo o dinheiro, os EUA conseguiram localizar operações e aqueles que as financiam, estabelecer organogramas das redes terroristas, levar os culpados à Justiça e salvar vidas", argumentou Snow, em comunicado distribuído pelo departamento do Tesouro. Para o NYT, o governo alegou motivo semelhante ao tentar impedir que o artigo se tornasse público: segundo a administração, a revelação do programa minaria os esforços americanos na luta contra o terrorismo. "Nós sabemos que os terroristas prestam atenção em nossas estratégias para lutar contra eles, e agora eles terão outra peça do quebra cabeças", disse uma porta-voz da Casa Branca após a publicação da reportagem, na noite de quinta-feira. Ela acrescentou: "O presidente está preocupado mais uma vez com a maneira como o NYT escolheu para expor um programa secreto que está sendo utilizado para proteger nossos cidadãos." O editor executivo do jornal, no entanto, disse que levou os argumentos da administração em consideração, mas no final decidiu publicar a história. "Nós continuamos convencidos de que a o acesso do governo a esse vasto repositório de informações, por maior que seja o cuidado para lidar com elas, é um objeto de interesse público", afirmou Bill Keller. Defesa Responsável pela supervisão do programa, Snow o defendeu, argumentando que as análises das transações não são arbitrárias, e sim "um afiado arpão dirigido ao coração das atividades terroristas". Criado logo após aos atentados de 11 de Setembro para rastrear transações financeiras de suspeitos de ligação com a Al-Qaeda, o programa utiliza os registros fornecidos pelo centro nervoso do sistema bancário global, uma cooperativa belga chamada "Swift". O grupo, conhecido também como Sociedade Mundial de Telecomunicações Financeiras Interbancárias, é responsável pelo mapeamento diário de cerca de US$ 6 trilhões em transações entre bancos, corretores, bolsas de valores e outras instituições. "A divulgação pública de nossas fontes e métodos de luta antiterrorista não só prejudica a segurança nacional, como também degrada os esforços do governo para impedir futuras atividades terroristas", afirmou o secretário de Tesouro, que está no fim do seu mandato. Ainda segundo Snow, o governo teria sido irresponsável se não tivesse desenvolvido o programa. "Se alguém está enviando dinheiro para ajudar a Al-Qaeda, queremos saber. Também precisamos aproveitar esse conhecimento para seguir a pista do dinheiro e bloquear os terroristas". Segundo o The New York Times, o programa teria contribuído para a captura de um líder da Al-Qaeda no sudeste asiático. Espionagem A operação de espionagem financeira é paralela à desenvolvida pela Agência Nacional de Segurança (NSA) para interceptar a comunicações por telefone ou e-mails entre os EUA e o exterior. Os agentes antiterroristas tentavam desde a década de 90 ter acesso à base de dados da SWIFT, mas não conseguiram porque poderia afetar a confiança dos cidadãos nas instituições bancárias. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente americano, George W. Bush, ordenou "investigar, regular ou proibir" qualquer transação financeira estrangeira relacionada com "uma ameaça incomum ou extraordinária". A determinação permitiu a intervenção na base de dados, na qual constam o nome, número de telefone, número de conta e outras informações dos usuários bancários.
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