Espanha: com eleição apertada, partido separatista terá peso na definição do governo

Espanhóis retiraram o apoio ao conservador Partido Popular por conta do medo do radicalismo do Vox; bloco progressista se recupera

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Por Daniel Galvalizi
Atualização:

ESPECIAL PARA O ESTADÃO/MADRID - Uma reviravolta surpreendente ocorreu neste domingo eleitoral na Espanha. Contra todas as pesquisas, que garantiam uma pesada derrota do Governo, o Partido Socialista (PSOE), do primeiro-ministro Pedro Sánchez, perdeu por margem apertada para o Partido Popular (PP), o que manteve a situação indefinida sobre quem vai comandar a Espanha.

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Agora, os dois lados disputam apoio dos partidos separatistas para formar um governo de coalizão, o que deve ocorrer nesta semana. O poder executivo da Espanha é alcançado graças a uma maioria no Congresso, que é de 176 assentos. O Partido Socialista (PSOE) e a coalizão progressista Sumar, juntamente com partidos bascos, catalães e minoritários regionais, chegam a 172 assentos. Os candidatos Alberto Núñez Feijóo (PP) e Santiago Abascal, do Vox, partido de extrema direita, obtiveram 171.

A política espanhola agora dependerá da decisão do Junts per Catalunya (Juntos pela Catalunha), que obteve sete cadeiras. É o partido do ex-presidente catalão Carles Puigdemont, autoexilado em Waterloo (Bélgica) desde que foi deposto em 2017 por tentativas de declarar a independência.

o atual primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, comemorou o resultado eleitoral do Partido Socialista (PSOE)  Foto: Emilio Morenatti / AP

No entanto, a tarefa não será fácil. Tradicionalmente, o Juntos pela Catalunha é o menos colaborativo com Sánchez dos três partidos separatistas catalães. Depois de alguns anos de estabilização da política na Catalunha, Puigdemont e seu grupo mais radical volta a ser o protagonista central da política espanhola, apesar de ter perdido um deputado em relação a 2019.

Sobrevivente

Sánchez construiu um mito sobre si mesmo como sobrevivente de situações em que foi dado como morto. Quando em 2016 teve que renunciar ao PSOE devido a uma revolta interna da velha guarda partidária, o atual presidente voltou a concorrer e conquistou a liderança do partido para se tornar primeiro-ministro da Espanha.

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Desde que o PSOE e seus aliados perderam as eleições regionais e municipais no final de maio, oposição e pesquisas consideraram a carreira política do atual primeiro-ministro como encerrada. No entanto, com uma campanha que se focou em ressaltar o perigo da possibilidade da extrema direita participar de uma coalizão governista, Sánchez garantiu nova sobrevivência.

Minutos antes da meia-noite de domingo (19h de sábado no horário de Brasília), o ainda primeiro-ministro deixou a sede do seu partido, na Calle Ferraz em Madrid, e fez um discurso perante milhares de militantes.

Primeiro-ministro espanhol e candidato do Partido Socialista (PSOE) à reeleição Pedro Sanchez comemora após a eleição geral da Espanha na sede do Partido Socialista Espanhol (PSOE) em Madri em 23 de julho de 2023 Foto: Javier Soriano/AFP

“Graças aos eleitores, mostramos ao mundo que somos uma democracia forte, uma grande democracia. Obtivemos mais votos e mais assentos do que há quatro anos. É um orgulho e uma enorme responsabilidade”, afirmou Sánchez.

É tão verdadeiro quanto surpreendente: os sociais-democratas espanhóis melhoraram seus resultados em relação a 2019 e têm mais votos e mais cadeiras.

De um palco montado na rua, acompanhado por sua esposa e pelos principais dirigentes do partido, Sánchez disse: “Falhou o bloco que propunha a revogação total de tudo o que foi conquistado nestes quatro anos. Há mais de nós que querem que a Espanha avance”.

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Núñez Feijóo também falou à porta da sua festa, no bairro de Salamanca, no centro de Madrid. O PP obteve 33% dos votos (1,2% a mais que o PSOE) - são as primeiras eleições que os conservadores vencem desde 2015.

“Meu dever é abrir o diálogo para liderar esse diálogo e tentar governar nosso país. Que ninguém seja tentado a cair na anomalia de que o partido mais votado não pode governar. Peço ao Partido Socialista que não bloqueie o novo governo da Espanha. Cabe a mim tentar e é isso que farei a partir de amanhã”, assegurou Feijóo.

O aviso claro de Núñez Feijóo é porque ele sabe que os números são indefinidos. Os separatistas do Juntos pela Catalunha não votam no PP e os 172 deputados do bloco de esquerda não participarão de uma coalizão liderada pelo PP.

Alberto Núñez Feijóo, líder da legenda de direita Partido Popular, gesticula para apoiadores do lado de fora da sede do partido após as eleições gerais da Espanha, em Madri, segunda-feira, 24 de julho de 2023 Foto: Manu Fernandez / AP

Mudança de rumo

A grande pergunta que os eleitores conservadores se fazem é como uma noite que eles sonhavam em expulsar o PSOE pode ter sido frustrada depois de cinco anos de reformas progressistas e aumento de impostos sobre grandes bancos e empresas de energia.

A resposta é que a sociedade espanhola reagiu ao pacto do PP com o Vox em muitos municípios e regiões autônomas. As notícias das últimas semanas sobre a proibição de hastear a bandeira LGBT+ em representações institucionais, as tentativas de leis negacionistas contra as mudanças climáticas, a censura de algumas peças e filmes em cidades pequenas e a elevação de alguns personagens abertamente machistas e homofóbicos conseguiram mobilizar os setores mais centrais que temiam que isso chegasse ao nível nacional.

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A última semana de Feijóo foi difícil do ponto de vista da estratégia. Depois de vencer Sánchez no primeiro debate, ele foi flagrado mentindo ao vivo em uma entrevista, cometeu erros inusitados relacionados a geografia espanhola e não conseguiu explicar sua antiga amizade com um conhecido narcotraficante.

Somado a isso, o ex-presidente da Galícia nunca fez um gesto enfático de diferenciação com a extrema direita, que por sua vez optou por radicalizar seu discurso. O Vox anunciou que reivindicaria ministérios e que aprofundaria a censura e o ataque a comunidade LGBT+.

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