PARIS - Como em 2017, Emmanuel Macron e Marine Le Pen disputarão, no dia 24, o segundo turno das eleições presidenciais da França.
Apesar de termos os mesmos candidatos do segundo turno de 2017, esta não será a mesma eleição. Quais as principais diferenças?
Esta é uma eleição que confirma a ordem eleitoral de 2017, com um enorme colapso dos grandes partidos. Há um bloco central, representado por Emmanuel Macron, que é um centro neoliberal pró-europeu. Um bloco à direita que é nacionalista e identitário, de Marine Le Pen e Éric Zemmour. E temos uma esquerda ecossocialista representada por Jean-Luc Mélenchon.
Em 2002 e 2017, houve uma reunião de votos de esquerda e direita contra Jean-Marie Le Pen e Marine Le Pen por um “cordão sanitário” contra o extremismo. Macron ainda pode se valer desse cordão francês?
Ainda existe essa frente republicana contra o nacionalismo e contra a Le Pen. É mobilizada cada vez que é necessário, e vimos isso nas últimas eleições legislativas e regionais. O Reunião Nacional tem ótimas pontuações no primeiro turno, mas no segundo é preciso ter 50% dos votos e esse é o teto de vidro da extrema direita. Macron poderá contar com essa frente, mas pela primeira vez existe uma dúvida real se essa união entre direita e esquerda será suficiente. Há cinco anos, essa era uma certeza.
O que podemos esperar da campanha de Le Pen para ultrapassar esta barreira?
Ela não precisa mais conquistar o eleitorado identitário (que se importa com questões de imigração), esses votos já são delas. Ela deve se concentrar nas questões econômicas e sociais. Vimos nesse primeiro discurso que ela fez referência à justiça social e outros temas sociais tentando atingir um eleitorado mais à esquerda.
E o que Macron terá de mudar na sua campanha para reduzir sua rejeição?
Ele não pode mais se limitar a fazer esta campanha distante, em que ele dá mais atenção às questões de política exterior. Além disso, é preciso que ele modere suas posições se quiser convencer eleitores para além da frente republicana. Por exemplo, o anúncio da reforma da aposentadoria, aumentando a idade para 65 anos, feito nas últimas semanas, vai exatamente contra tudo o que o eleitorado popular ou de esquerda está disposto a aceitar.
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